Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Senão desde os tempos de Ramsés II, pelo menos depois que o planeta adotou o calendário gregoriano, ficou estabelecido ser a última semana do ano dedicada às resoluções de Ano Novo. Tudo o que deixamos de fazer nos doze meses que passaram vira proposta para os que virão. Exemplos: Fazer exercícios diários, para os sedentários. Fumar menos, para os tabagistas inveterados. Beber pouco, para os apreciadores da birita. Comer moderadamente, para os gulosos, de preferência frutas, legumes e verduras.
Trabalhar mais, com empenho e competência, será um propósito universal. Outro, de não desperdiçar tanto tempo diante das telinhas e dos telões, aproveitando para botar a boa leitura em dia.
Dar mais atenção à família, evitar paradas no botequim na hora de ir para casa. Ser mais carinhoso e interessado nos filhos, além de mostrar boa vontade e compreensão para com os idosos. Respeitar os subordinados, evitar gestos de subserviência diante dos chefes.
Dirigir com cuidado, de acordo com as regras de trânsito, abandonando a vaidade de gastar as economias trocando de carro todo ano. Aprimorar o conhecimento freqüentando cursos e aprendendo outras línguas, assim como cultivar a sabedoria através da análise antecipada das reações de cada gesto ou opinião.
Procurar entender as razões daqueles que contrariam nosso modo de pensar e de agir. Jamais imaginar num único livro, doutrina, partido ou ideologia a resposta para todas as perguntas. Indagar sempre o que faríamos se investidos nas funções daqueles que criticamos.
Falar pouco, ouvir muito e meditar mais ainda, em especial quando se trata de responder a perguntas irrespondíveis, como de onde viemos e para onde vamos. Levantar a cabeça e olhar o céu, sempre que possível, sabendo da impossibilidade de decifrar o infinito, mas buscando absorvê-lo.
Cultivar o senso grave da ordem e o anseio irresistível da liberdade. Encontrar no passado o nosso maior tesouro, na medida em que o passado pode não nos indicar o que fazer, mas indicará sempre o que devemos evitar.
Em suma, resoluções de Ano Novo fluem às centenas, mas envolvidas por uma realidade que nos acompanha sempre: será que daqui a um ano estaremos repetindo essas mesmas promessas, dada a evidência de não havê-las cumprido?
Revelação fundamental
Numa das variadas entrevistas que concedeu por ocasião da passagem de seus primeiros cem anos, Oscar Niemayer revelou mais um dos pilares responsáveis pelos seus méritos: desde jovem tornou-se admirador de Voltaire, cuja leitura dos textos e das lições jamais abandonou. Na obra do inesquecível iluminista de ontem a gente encontra as bases do pensamento do genial comunista de hoje.
Reajustamento de dispositivo
Na linguagem militar existe um termo que significa decisão e cautela: parada para reajustamento de dispositivo. A situação acontece quando, depois de uma progressão vitoriosa contra as forças do inimigo, a Infantaria estanca, firma-se no terreno e planeja a ação subseqüente. Para sustentar a conquista e fazer dela um novo ponto de partida para outras, torna-se imprescindível pesar as baixas, rever as táticas, reorganizar os contingentes e substituir quantos deixaram de corresponder às necessidades de vitória. Algo parecido pode estar acontecendo neste final de ano com o presidente Lula. Baixas aconteceram, dos mensaleiros aos sanguessugas e aos aloprados.
Importa rever certas táticas, como a da importância da preservação de políticas neoliberais, favorecendo bancos e especuladores. Os batalhões precisam ser reorganizados em função das dificuldades futuras, não das conquistas passadas. Por isso, haverá que substituir aqueles que serviram, mas não servem mais.
Traduzindo o modelo castrense para a política: a hora deixou de ser da contenção inflacionária como meta fundamental para transformar-se na avalancha das realizações sociais. Em outras palavras: o ministério tem que ser reformado, se em 2008 o comandante pretende não apenas preservar, mas ampliar suas conquistas...
Fonte: Tribuna da Imprensa
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