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sábado, março 01, 2025

Ivana Bastos confirma que assume presidência da Assembleia sem novas eleições após afastamento de Adolfo Menezes

 Foto: Vaner Casaes/ALBA/Arquivo

Ivana Bastos01 de março de 2025 | 07:45

Ivana Bastos confirma que assume presidência da Assembleia sem novas eleições após afastamento de Adolfo Menezes

exclusivas

Embora com o julgamento do mérito ainda pendente no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o afastamento definitivo do deputado estadual Adolfo Menezes (PSD) da presidência da Assembleia Legislativa da Bahia, a deputada estadual Ivana Bastos (PSD) assume o gabinete do comando da Casa depois do Carnaval. Em comunicado à imprensa enviado pela assessoria na noite de ontem (28), a parlamentar ressaltou que será a primeira mulher a ocupar o cargo em 190 anos de história do Legislativo baiano.

A confirmação da permanência de Ivana Bastos no comando da Assembleia veio após a segunda turma do STF manter, por unanimidade, o afastamento de Adolfo, ao votar a favor da liminar do ministro Gilmar Mendes, relator do caso. Os magistrados não determinaram a realização de uma nova eleição para a presidência do Legislativo baiano. Com a decisão, Ivana, que já vinha exercendo a função interinamente, mas não havia assumido o gabinete da presidência esperando uma decisão colegiada do Supremo, o fará de forma mais efetiva.

O julgamento virtual da segunda turma do STF foi concluído nesta sexta-feira (28), com o ministro André Mendonça seguindo Gilmar Mendes e os demais ministros Dias Toffoli, Edson Fachin e Nunes Marques. A Procuradoria-Geral da República (PGR) também se manifestou favoravelmente ao afastamento de Adolfo Menezes.

Adolfo foi afastado no dia 10 de fevereiro, poucos dias após ter sido reeleito presidente da Assembleia com os votos de 61 dos 63 deputados da Casa. A medida foi resultado de uma ação do deputado estadual Hilton Coelho (PSOL), que, mesmo tendo sido derrotado na disputa pela presidência, levou o caso ao Supremo argumentando que a reeleição violava a jurisprudência da Corte, que impede um terceiro mandato consecutivo para presidentes de poderes legislativos.

Antes de exercer a presidência de forma mais efetiva, Ivana Bastos deve se reunir com líderes partidários e com o próprio Adolfo Menezes para alinhar a transição.

“Assumo a presidência da Assembleia com a responsabilidade de garantir que o Legislativo baiano continue sendo uma Casa democrática, transparente e comprometida com o povo da Bahia. Sei do tamanho do desafio, mas sigo determinada a trabalhar com seriedade, diálogo e respeito para fortalecer o Parlamento e contribuir para o desenvolvimento do nosso estado”, declarou Ivana Bastos.

Relator da OEA cita compromisso do Brasil com direitos humanos após ouvir bolsonaristas e STF

 Foto: Antonio Augusto/Arquivo/Ascom/STF

Relator da OEA cita compromisso do Brasil com direitos humanos após ouvir bolsonaristas e STF01 de março de 2025 | 08:20

Relator da OEA cita compromisso do Brasil com direitos humanos após ouvir bolsonaristas e STF

brasil

A Relatoria Especial para Liberdade de Expressão do CIDH (Corte Internacional de Direitos Humanos), órgão da OEA (Organização dos Estados Americanos), afirmou nesta sexta-feira (28) reconhecer o compromisso do Brasil com a democracia e os direitos humanos.

A afirmação foi publicada em nota da relatoria, que citava a conclusão da visita oficial ao país entre os dias 9 e 14 de fevereiro, com o relator colombiano Pedro Vaca. Ele conversou com membros de todos os Poderes, incluindo congressistas bolsonaristas e os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

O órgão também diz ter recebido até a última sexta-feira (21) mais informações sobre a liberdade de expressão no Brasil de diversos órgãos e que o relatório completo ainda está em análise. Por fim, agradeceu ao Estado pelas garantias para o trabalho da missão oficial.

O relator esteve com o presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, e com deputados federais de direita, como Marcel van Hattem (Novo-RS), Gustavo Gayer (PL-GO), Bia Kicis (PL-DF) e Carla Zambelli (PL-SP). Também se reuniu com integrantes do governo Lula (PT), jornalistas e membros da sociedade civil.

Durante a visita, Pedro Vaca chegou a dizer a interlocutores que estava preocupado com a falta de clareza na diferença entre o que é ataque à democracia ou discurso de ódio e o que é discurso crítico legítimo em ações da Suprema Corte brasileira.

Também relatou ter ficado assustado com o nível de agressividade das conversas que teve, principalmente com representantes do campo conservador, que alegam ser censurados pelo Supremo.

As principais preocupações levantadas pelo colombiano foram a falta de definição clara para o que é desinformação, o julgamento sobre o Marco Civil da Internet, que pode aumentar a responsabilidade das plataformas, a remoção de contas em redes sociais e ataques da direita contra jornalistas e acadêmicos.

A expectativa no governo brasileiro é que o documento, que ainda deve levar meses para ser divulgado, seja técnico, mesmo que acate algumas das preocupações externadas pelos bolsonaristas.

FolhapressPoliticaLivre

Por unanimidade, segunda turma do STF mantém afastamento de Adolfo Menezes da presidência da Assembleia; Ivana Bastos deve ser efetivada

 Foto: Divulgação/Arquivo

Deputado estadual Adolfo Menezes (PSD28 de fevereiro de 2025 | 20:19

Por unanimidade, segunda turma do STF mantém afastamento de Adolfo Menezes da presidência da Assembleia; Ivana Bastos deve ser efetivada

exclusivas

Por unanimidade, a segunda turma do Supremo Tribunal Federal (STF), formada por cinco ministros, manteve o afastamento do deputado estadual Adolfo Menezes (PSD) da presidência da Assembleia Legislativa da Bahia.

O último ministro a votar foi André Mendonça, encerrando o julgamento virtual na tarde desta sexta (28). Já haviam se posicionado da mesma forma os ministros Gilmar Mendes, relator do processo, Dias Toffoli, Edson Fachin e e Nunes Marques. A Procuradoria Geral da República (PGR) se manifestou no mesmo sentido.

Como os magistrados não determinaram a realização de uma nova eleição para a presidência do Legislativo baiano, tema sobre o qual a Constituição estadual e o regimento da Assembleia são omissos no caso de vacância do titular, a deputada Ivana Bastos (PSD), que é a 1ª vice e vinha exercendo interinamente o comando da Casa, deverá ser efetivada no cargo.

Entenda o processo

Adolfo Menezes foi afastado da presidência da Assembleia no dia 10 de fevereiro, sete dias após ter sido reeleito para o posto pela segunda vez consecutiva, com os votos de 61 dos 63 parlamentares da Casa. A decisão já era aguardada pelo deputado do PSD e por seus pares, diante da jurisprudência do STF que impede um terceiro mandato seguido para presidentes de poderes legislativos. O que ninguém esperava é que isso ocorresse de forma tão célere.

O pedido de afastamento foi feito pelo deputado estadual Hilton Coelho (PSOL), que só recebeu o próprio voto ao concorrer contra Adolfo na disputa pela presidência da Assembleia, no dia 3 de fevereiro. Primeiro, o psolista ingressou no Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), mas o juiz substituto Alberto Raimundo Gomes dos Santos não deu provimento.

Depois, Hilton ingressou com uma reclamação constitucional no STF contra a decisão do juiz do TJ-BA. O processo foi distribuído para Gilmar Mendes, que, a exemplo de outras sentenças semelhantes, concedeu parcialmente o pedido de liminar pelo afastamento de Adolfo até que o mérito da questão seja julgado. A segunda turma, então, manteve a liminar, na sessão virtual de julgamento que começou no último dia 21 e se encerrou hoje.

Articulação com caciques

Como revelou o Política Livre com exclusividade no último dia 18, com a tranquilidade de quem já sabia do resultado do julgamento na segunda turma, Adolfo pediu aos senadores Jaques Wagner (PT) e Otto Alencar (PSD) e ao ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), para que atuassem junto aos ministros do STF visando impedir que qualquer decisão sobre o próprio afastamento envolvesse a realização de uma nova eleição para a presidência da Assembleia, o que acabou se confirmando.

O objetivo de Adolfo era, além de prestigiar Ivana, a primeira mulher a assumir a presidência da Assembleia Legislativa da Bahia, evitar uma disputa pelo cargo dentro da base do governador Jerônimo Rodrigues (PT).

Vale lembrar que o nome de Ivana para a vice-presidência surgiu a partir de um acordo costurado entre o líder do governo, deputado estadual Rosemberg Pinto (PT), que abriu mão de disputar o cargo, os líderes partidários e o próprio governador. Isso evitou que o deputado estadual Angelo Coronel Filho (PSD) concorresse, com o aval do pai, o senador Angelo Coronel (PSD), à cadeira de substituto imediato do presidente.

Sem recurso

Para evitar que o processo se estenda no STF, Adolfo Menezes não deve recorrer da decisão da segunda turma. Esta semana, ele ingressou com um agravo regimental para tentar levar o julgamento ao plenário do Supremo, mas a medida teria sido apenas “pro forma”.

Com isso, Ivana Bastos deve assumir oficialmente o comando da Assembleia logo após o Carnaval, passando a ocupar, inclusive, o gabinete da presidência. Antes disso, entretanto, ela deve se reunir com líderes da Casa e com o próprio Adolfo Menezes.

Os líderes devem definir, ainda, como será definido o substituto de Ivana Bastos na 1ª vice-presidência. O PT reivindica o posto, alegando a defesa da proporcionalidade.

Política Livre

Lula aposta em programas sociais para reverter crise, mas medidas podem ser insuficientes para 2026

Foto: Fábio Pozzebom/Arquivo/Agência Brasil

O presidente Lula01 de março de 2025 | 09:49

Lula aposta em programas sociais para reverter crise, mas medidas podem ser insuficientes para 2026

brasil

A estratégia do governo Lula para reverter a queda de popularidade registrada por pesquisas recentes – que passa pela reformulação da comunicação e pela aprovação de políticas sociais e econômicas, como a liberação dos recursos do programa Pé-de-Meia nesta semana – enfrenta dois desafios centrais: o voto econômico já não garante o mesmo apoio de antes e a relação entre eleitorado e governante passou por mudanças estruturais.

O cenário, apontam cientistas políticos, reflete transformações profundas, como a mudança na percepção do eleitorado, que agora vê políticas assistencialistas não mais como concessões do governo, mas como direitos adquiridos; a polarização política calcificada, que tornou a economia mais um campo de disputa ideológica; e a ausência de uma agenda política clara no terceiro mandato do petista – fatores que, na avaliação de políticos ouvidos pelo Estadão, intensificam os desafios do núcleo do PT, que busca redefinir sua estratégia para as eleições presidenciais de 2026.

Nesta semana, a pesquisa da Quaest revelou que a desaprovação de Lula superou a marca de 60% nos três maiores colégios eleitorais do País – São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro – e mostrou uma escalada negativa no Nordeste, tradicional reduto petista. Desde dezembro, levantamentos do mesmo instituto e de outros, como o Datafolha, indicam que a insatisfação com o governo tem avançado até mesmo entre o núcleo duro do eleitorado lulista: os mais pobres, as mulheres, os católicos e os que se declaram pretos.

Os índices captados pela pesquisa foram acompanhados, nos últimos meses, por um aumento da inflação, que pressionou os preços dos alimentos e reduziu o poder de compra do brasileiro, além de uma sucessão de falhas na comunicação oficial do Planalto, como a polêmica em torno do monitoramento das transações do Pix.

A estratégia do governo, portanto, tem sido avaliar os sintomas da queda de popularidade sob uma ótica conjuntural, respondendo à crise tanto com políticas assistencialistas e econômicas, como o reajuste do salário mínimo, quanto com ajustes na comunicação, por meio da troca de comando na Secretaria de Comunicação da Presidência, explica o cientista político Antonio Lavareda. Embora a avaliação seja, em tese, correta, ela desconsidera mudanças estruturais na relação entre governo e eleitorado, alerta Lavareda.

“O problema é que o governo Lula trata as dificuldades como algo momentâneo e apenas circunstancial, mas não percebe que a dinâmica mudou. Mesmo que a economia melhore, a relação entre governo e eleitor não será automaticamente restaurada, porque as mudanças no comportamento eleitoral são estruturais e vão além do impacto conjuntural da inflação e da perda de poder de compra”, afirma Lavareda.

Os programas sociais, como o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida e o ProUni, que antes se traduziam em apoio eleitoral quase automático por uma relação de gratidão política, hoje não garantem mais esse mesmo efeito: os eleitores se tornaram mais críticos e menos fiéis, enxergando esses benefícios como direitos adquiridos – tanto que foram mantidos por governos antipetistas – e não mais como favores governamentais que demandam retribuição nas urnas, explica Lavareda.
Além da resposta conjuntural insuficiente, o governo Lula enfrenta outro problema: a falta de uma agenda política clara e mobilizadora, com um eixo estruturante que galvanize apoio, redefina o lulismo e restaure seu apelo eleitoral, aponta Lavareda. Em Lula I e Lula II, o petista conseguiu estabelecer pautas emblemáticas, como o combate à fome e a ampliação de direitos sociais, consolidando sua identidade política.

No entanto, ao definir que a principal missão de Lula III seria reeditar os sucessos dos mandatos anteriores, o presidente criou um dilema para si mesmo: seus eleitores passaram a enxergar os programas sociais e benefícios do governo como uma obrigação, e não como uma conquista que gera fidelidade eleitoral. Dessa forma, completa o cientista político, não entregá-los pode resultar em punição nas urnas, mas mantê-los não garante, necessariamente, retorno político, fragilizando a base de apoio e dificultando a mobilização eleitoral para 2026.

“O terceiro mandato de Lula ainda não conseguiu definir um projeto político capaz de mobilizar o eleitorado para além das medidas econômicas e assistencialistas. Falta um eixo, um propósito claro. Não basta apenas lançar políticas; é necessário um direcionamento que dê sentido ao conjunto das ações governamentais. Mudar a comunicação e fazer novos anúncios não resolve. Qual é o propósito deste governo? Não há. Aí está o problema”, diz.

Em pronunciamento em rede nacional de rádio e TV nesta segunda-feira, 24, Lula anunciou o início do pagamento do programa Pé-de-Meia, que concede bolsas a estudantes do ensino médio, e a ampliação da gratuidade no programa Farmácia Popular. Antes, o governo já havia lançado o Gás para Todos, que amplia o acesso ao vale-gás para famílias de baixa renda. O Planalto também aposta na aprovação de projetos no Congresso neste ano, como mostrou o Estadão, incluindo a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês e mudanças no crédito consignado, que envolvem a redução de juros e a ampliação do limite para aposentados e beneficiários do INSS.

Para o deputado federal e ex-ministro do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro, Ricardo Salles (Novo-SP), as medidas econômicas e assistencialistas, por si só, não são suficientes para estancar a queda de popularidade de Lula e podem, inclusive, gerar efeito contrário, ao serem percebidas como ações demagógicas e populistas voltadas para as eleições de 2026. “São medidas que subestimam a inteligência da população e acabam aprofundando a crise”, diz.

Salles também afirma que essas políticas geram um alto custo fiscal, transmitindo à sociedade a sensação de irresponsabilidade fiscal e de desespero diante da impopularidade.

O consultor do Orçamento do Senado, Helder Rebouças, avalia que, do ponto de vista orçamentário, alguns programas não apenas pressionam a dívida pública, mas também são alvo de críticas, como o Pé-de-Meia e o Gás Para Todos. Ambos estão sob questionamento do Tribunal de Contas da União (TCU) por não apresentarem previamente a fonte de financiamento nem o detalhamento da despesa no Orçamento, como exige a legislação. Os custos estimados dos programas são de R$ 13 bilhões e R$ 10 bilhões, respectivamente. “Trata-se de recursos sem a devida aprovação congressual para despesas públicas, o que não é permitido”, resume.

O deputado federal e vice-líder do governo na Câmara, Rogério Correia (PT-MG), por sua vez, discorda da avaliação de Salles, atribuindo a queda de popularidade de Lula a um “retrato do momento” e defendendo que os projetos assistencialistas e econômicos em tramitação no Congresso são suficientes para reverter esse cenário e recuperar a avaliação do governo. Entre as medidas, o parlamentar destaca a proposta de isenção do IR e as mudanças no crédito consignado.

“As pesquisas são ruins, mas também são um retrato de momento. Estamos esperançosos que o bom trabalho do governo, a colheita que o Lula tanto fala, vai chegar”, diz.

No Senado, a expectativa é semelhante à da Câmara. A senadora Teresa Leitão (PT-PE) diz que a base governista na Casa dará prioridade tanto aos projetos econômicos quanto aos sociais, incluindo o Plano Nacional de Educação (PNE), que estabelece diretrizes para o desenvolvimento da educação no Brasil.

Mas o Planalto não terá vida fácil para aprovar os projetos. O senador Plínio Valério (PSDB-AM) avalia que a viabilidade das medidas dependerá da reforma ministerial que teria que ampliar a base do governo. Nesta semana, Lula demitiu a ministra da Saúde, Nísia Trindade, que será substituída por Alexandre Padilha. Com a mudança, Padilha deixa a Secretaria de Relações Institucionais, mas o cargo será ocupado por Gleisi Hoffmann em vez de um aliado de outro partido.

Polarização muda a forma como o eleitor avalia o governo
A calcificação da polarização política é outro fator que altera a lógica do voto econômico e dificulta a conversão de políticas em apoio eleitoral, explica o cientista político Felipe Nunes. Se antes o eleitor avaliava o governo com base em temas estruturantes, como o papel do Estado na economia, agora as escolhas estão cada vez mais polarizadas e influenciadas por valores e visões de mundo, com pautas culturais e identitárias ganhando espaço no debate político – o que reduz o peso das discussões econômicas e torna a construção de consensos ainda mais difícil.

“Até 2018, o voto, apesar de personalista, era mobilizado a partir de uma disputa entre esquerda e direita, ou entre centro-esquerda e centro-direita, variações, mas em torno da disputa sobre o papel do Estado na economia e focado numa agenda de política pública. Quando chega em 2018, deixamos de discutir o papel do Estado na economia e passamos a discutir valores, passamos a discutir visões de mundo. Passamos a buscar, não mais, o que pensam essas pessoas no que diz respeito à agenda econômica e política, mas eu passo a querer identificar qual é a identidade, quais são os valores dessas lideranças política”, explica.

O cientista político e professor do Insper Leandro Consentino acrescenta que, em um cenário de polarização, mesmo com indicadores econômicos positivos – com o salário mínimo subindo acima da inflação e o aumento dos gastos públicos com saúde e educação – Lula não consegue converter esses fatores em capital eleitoral. Consentino explica que esse fenômeno não é exclusivo do Brasil. Como exemplo, ele cita o caso dos Estados Unidos, onde o então presidente democrata Joe Biden, apesar dos bons índices econômicos, enfrentava baixa aprovação nos meses que antecederam as eleições presidenciais de 2024.

“Assim como lá, aqui também há uma forte polarização. O bom desempenho econômico, por si só, não garante votos, porque a disputa política hoje é muito mais pautada por valores. Nesta situação de polarização, a economia pesa quando piora, mas não necessariamente impulsiona a popularidade quando melhora porque outros fatores pesam mais na decisão do eleitor”, explica.

O professor de ciência política também ressalta que as últimas eleições presidenciais foram definidas mais pela rejeição ao incumbente do que por projetos estruturantes, resultando em bases eleitorais instáveis e fragmentadas. “Grupos que se unem para derrotar um adversário tendem a se dispersar rapidamente após a vitória”, explica.

Lula III tentou construir uma frente ampla, explica Consentino, mas partiu de uma leitura equivocada do contexto eleitoral. “Lula não foi eleito em 2022 para reeditar as gestões petistas anteriores, mas para impedir um segundo governo Bolsonaro”, afirma. Essa interpretação resultou em um governo contraditório, que frustra bases eleitorais específicas: enquanto as classes mais pobres, que votaram no petista, esperam um Estado que fortaleça políticas sociais, a crescente classe de empreendedores deseja um governo menos intervencionista, gerando tensões dentro da própria base de apoio. “Isso cria um impasse, por exemplo, para a equipe econômica, que precisa equilibrar demandas conflitantes de dois grupos fundamentais para a frente ampla que garantiu a vitória de 2022″.

Esse desalinhamento, aponta a antropóloga, socióloga e professora da Universidade de Dublin (Irlanda), Rosana Pinheiro-Machado, é perceptível no crescimento de um eleitorado que valoriza a ideologia do mérito, associando o sucesso individual ao esforço pessoal e à superação de obstáculos. Para esse grupo, explica, o Estado não é visto como um amparo, mas como um “inimigo” que impõe entraves burocráticos, cobra impostos excessivos e não oferece serviços públicos de qualidade.

“Esse eleitorado – composto por empreendedores, especialmente em classes mais baixas e zonas periféricas, além de evangélicos – afasta parte da base de baixa renda da lógica do voto econômico, que antes tendia automaticamente a Lula”, conclui Pinheiro-Machado.

Para Lavareda, os índices de aprovação de Lula são preocupantes, especialmente porque, no mesmo período antes da eleição de 2022, Bolsonaro enfrentava um cenário semelhante em 2021 e não conseguiu reverter a tendência negativa. A saída para Lula, pontua, não está apenas em garantir crescimento e renda, melhorando os indicadores econômicos, mas em reconstruir um vínculo político com um eleitorado mais volátil e menos previsível – o que exige reconhecer as mudanças estruturais em curso e ajustar tanto sua comunicação quanto sua agenda política para um novo contexto.

“Sem um novo eixo político claro, o governo pode chegar a 2026 enfraquecido, refém de uma base fragmentada e sem força suficiente para garantir sua continuidade”, conclui.

Hugo Henud/Estadão ConteúdopOLITICAlIVRE

Gleisi encarna opção de Lula pregar para convertidos e se isolar ainda mais

Publicado em 28 de fevereiro de 2025 por Tribuna da Internet

Lula escolheu Gleisi Hoffmann para a articulação política nesta sexta-feira, 28 Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Ao escolher Gleisi, Lula mostra preferir a radicalização

Fabiano Lana
Estadão

Se você quer saber como pensa a bolha petista, basta ver as postagens da presidente do PT e futura ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann no “X”, a rede do multibilionário e representante do governo americano, Elon Musk. Raramente Gleisi consegue dar alguma declaração sem algum tipo de revanchismo, ressentimento ou acusação. É fel para todo lado: contra o mercado, os economistas, a oposição, sobra até para os moderados.

Não há conciliação, não há construção, não há diálogo ou generosidade com quem pensa diferente. Articulação parece passar longe ali – o que se vê nesse tipo de declaração pública usual da deputada pelo Paraná é revanchismo puro, sectarismo de manual.

PÚBLICO INTERNO – É possível até pensar que são declarações apenas para a base petista, não para todos os brasileiros. Seriam apenas pontuações para acalmar uma turma que muitas vezes ainda sonha com o socialismo real, com a estatização dos meios de produção, que vê banqueiros, empresários, inimigos internos e até mesmo a classe média como inimigos a serem combatidos. Uma turma meio diretório de centro acadêmico de faculdade de humanas de universidade pública.

O problema é que esse tipo de pessoa que admira as falas de Gleisi (ou seria ela apenas um fantoche do casal Lula/Janja?) está cada vez mais em minoria. Mesmo com a virtual condenação de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, o Brasil segue dividido.

E temos uma opção presidencial por mais beligerância, pelo menos na aparência. Que Gleisi tenha feito muitos favores, não há dúvidas, mas temos na mesa uma decisão de alto risco.

VOTO DECISIVO – Quem vai definir a fatura eleitoral é aquele eleitor moderado que quer distância tanto do bolsonarismo como de gente com a estrutura ideológica de Gleisi. Nesse sentido, a não ser que a futura ministra mude radicalmente de persona, levá-la para o primeiro escalão deixará o governo mais isolado e acuado do que está.

Outra hipótese é que Gleisi tenha sido chamado para dobrar a aposta. Ser mais um elemento do governo que pressione por mais gastos, menos responsabilidade fiscal, mais enfrentamento. Para que Lula realmente faça um governo de esquerda. Ir para o tudo ou nada.

Mas nesse caso seria melhor colocar a presidente do PT no lugar do Haddad e enfrentar o tranco dos mercados e da inflação.


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