
Charge do Cláudio de Oliveira (Folha)
Josias de Souza
do UOL
Em público, Bolsonaro declara-se inocente. Quando os refletores se apagam, reconhece que sua presunção de inocência ficou gasta. Juridicamente, está jurado de morte. Para se manter politicamente vivo, administra como estorvo um espólio disputado por um herdeiro de espírito e outro de sangue.
“Não vou passar o bastão para ninguém”, disse Bolsonaro para Tarcísio de Freitas, na véspera de sua estreia no cadafalso do Supremo. Trama levar sua candidatura fake até agosto de 2026, para entregar o bastão a Eduardo Bolsonaro, dois meses antes da eleição, como fez Lula com Fernando Haddad em 2018.
PIOR DO QUE NUNCA – No Brasil, quem espera o pior costuma surpreender-se. O que vem é quase sempre pior do que o esperado.
Num julgamento com cheiro de história, o Supremo transformará Bolsonaro em réu. Próximo das grades, o “mito” não deveria servir nem para guia de cegos. Mas os devotos insistem em tratá-lo como guia dos povos.
Transformar Bolsonaro em réu é uma coisa. Desatar o nó político de 2026 é outra coisa muito distinta. Com o “mito” inelegível e preso, a direita teria a oportunidade de se endireitar.
REFÉM DE BOLSONARO – Tarcísio, que se imaginava um conservador de bons modos, capaz de comer de garfo e faca, apodrece como refém antes de amadurecer como opção.
Lula viaja para o Japão com a comitiva apinhada de centrão e tem dificuldade para dialogar com o eleitor de direita, sem o qual não teria obtido a pequena margem de votos que lhe assegurou um terceiro mandato em 2022.
A frente ampla virou farelo. Nesse ambiente, a próxima sucessão pode produzir mais um vitorioso sem eleger um presidente.