CAMPO GRANDE - Os depoimentos de Andrey Galileu Cunha, ex-homem de confiança de Nilton Servo - acusado de chefiar a máfia dos caça-níqueis -, ajudaram a Polícia Federal (PF) a concluir que Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cobrava dinheiro da máfia dos caça-níqueis para fazer lobby dentro do governo. Cunha disse que Vavá recebia dinheiro e favores de Servo e que o último pagamento que tem notícia foi feito em janeiro deste ano e foi de R$ 3 mil.
No depoimento, Cunha afirmou que "Vavá é amigo de Nilton e pedia favores a ele" e que "tem conhecimento de que Nilton chegou a dar R$ 3 mil para Vavá em janeiro de 2007". Na seqüência ele diz saber que "Vavá solicitou dinheiro a Nilton outras vezes".
Numa conversa entre Servo e uma pessoa identificada como Serra, no dia 14 de março, às 15h57, o suposto chefe do grupo relata que "de picado em picado arrumou para o Vavá uns 14, 15 paus". O interlocutor aconselha Servo a não arrumar mais dinheiro para o irmão de Lula, porque este "tem que mexer com o doce".
Na mesma conversa, que dura dez minutos, Servo comenta sobre um industrial de Manaus (AM) que está tentando um empréstimo de R$ 100 milhões no BNDES e "não está conseguindo resolver" e diz que vão tentar fazer lobby através de Vavá para conseguir a liberação.
Uma pessoa diretamente ligada à família de Cunha, que terá o nome preservado contou que Servo dava dinheiro periodicamente a Vavá, como forma de buscar contatos no governo e também para se aproximar do presidente Lula. Durante o depoimento da pessoa ligada a Cunha, foram mostradas fotos em que Servo aparece ao lado do presidente em um churrasco.
O encontro teria ocorrido em 2002, logo após Lula vencer as eleições. As fotos fazem parte de um álbum da família Servo. A imagem foi usada por Servo durante a campanha à Prefeitura de Bonito (MS), em 2004.
A reportagem apurou que os R$ 3 mil que Servo teria dado a Vavá em janeiro foram entregues num café, em São Bernardo do Campo. O encontro foi presenciado por um motorista que recebeu a incumbência de entregar para Vavá um envelope - com o dinheiro - levado por Servo. No local, havia câmeras de segurança.
O advogado de Vavá, Nelson Alfonso, afirmou ontem que ele não recebeu dinheiro de Servo. Para Alfonso, não há provas contra seu cliente. "Muita coisa foi dita, mas não há como provar. Vavá está sofrendo acusação, está sendo condenado como se fosse ilícito ser irmão do presidente da República."
Ele confirmou que Vavá é amigo do empresário Nilton Servo. "Vavá já reconheceu isso, que o Nilton é um amigo um pouco distante. Amizade não é pecado, até onde se sabe. Mas eles não têm negócios. Vavá não recebeu nada do Nilton. Nunca existiu lobby, ele vai a Brasília, já foi, mas não tem trânsito, não visita ministérios.
Não tem prova nenhuma de que ele recebeu dinheiro e nem de que oferecia facilidades em órgãos públicos. A Polícia Federal também não encontrou nenhum processo no Superior Tribunal de Justiça envolvendo Vavá em suposta exploração de prestígio." Sobre o grampo da PF que flagrou Vavá pedindo R$ 2 mil para Servo, o advogado foi taxativo.
"As gravações não provam nada, são meros indícios. Não houve crime nenhum. São 8 meses de gravação, tem gravação de todo mundo. Nesses 8 meses vou ter material para a defesa. A PF pegou trechos das gravações e requereu à Justiça prisão cautelar e mandado de busca. A PF editou as interceptações, os trechos que eles entregaram à Justiça."
Fonte: Tribuna da Imprensa
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