Por: Internacional
Presidente cede à pressão de manifestantes e invalida Contrato do Primeiro Emprego, uma derrota política para o premier
PARIS - O primeiro-ministro da França, Dominique de Villepin, sofreu ontem um duro golpe político com a revogação, pelo presidente Jacques Chirac, do polêmico Contrato do Primeiro Emprego (CPE). Por semanas, o premier foi alvo das manifestações estudantis e sindicais que pediam, além do abandono do CPE, sua renúncia ao cargo. Apesar de ter sido uma forma de intervir para acabar com a crise, a ação de Chirac pode custar a Villepin a nomeação da governista União para um Movimento Popular (UMP) à corrida presidencial do ano que vem.
- O aspirante a presidenciável Villepin está quase morto, e o premier Villepin enfrenta grandes dificuldades - afirmou Christophe Barbier, especialista em política da revista francesa L'Express. - O homem Villepin, como o estamos vendo, parece bastante ferido, desgastado.
Em tom sombrio, num curto pronunciamento à televisão, o primeiro-ministro reconheceu que a lei que defendeu com veemência havia fracassado.
- Quis propor uma solução forte para o problema de desemprego e nem todos a entenderam. Eu lamento - afirmou Villepin, que esperava tomar partido da imagem de governante enérgico, habilitado para ser presidente, que mantinha-se firme mesmo nas crises. - As condições de calma e confiança não estão presentes, nem entre os jovens nem entre as empresas para permitir a aplicação do CPE.
À noite, Villepin foi à rede TF1, onde declarou estar ''enfrentando um teste extremamente difícil'':
- Antes uma situação de bloqueio, como a que existia, a primeira responsabilidade é encontrar meios de sair dela. Foi exatamente isso que fizemos hoje.
Villepin declarou-se disposto a continuar ''lutando'', trabalhando para ''apresentar respostas'' e ''talvez sair com mais experiência''. E prometeu medidas contra o desemprego dos jovens, especialmente os não qualificados.
O final da crise foi recebido pela oposição como uma importante vitória. No entanto, líderes sindicais convocaram novos protestos. Um deles será em Paris - uma marcha marcada para hoje. A intenção é ''manter a pressão'' sobre o governo, enquanto as mudanças na lei são votadas e implementadas.
- Não vamos parar por aqui - assegurou Chahla Youssef, porta-voz de uma das principais organizações estudantis.
Segundo Youssef, as concessões do governo foram ''uma pequena vitória'', mas a lei trabalhista deveria ser revogada ''por inteiro'' e não apenas o polêmico CPE - cuja maior crítica dos movimentos era criar instabilidade no mercado, para os menores de 26 anos.
- Nós fomos capazes de fazer o governo voltar atrás neste ponto e conseguiremos fazer com que revoguem a lei por inteiro se mantivermos a pressão - ressaltou.
De acordo com um comunicado oficial do Gabinete de Chirac, ''o presidente da República decidiu substituir o artigo 8 da lei sobre igualdades de condições por medidas que ajudem os jovens menos favorecidos a encontrar empregos''.
Entre as novas medidas está o aumento do incentivo financeiro para empresas que contratem pessoas com menos de 26 anos, afirmou o ministro francês do Emprego, Jean-Luis Borloo, ao jornal Le Monde.
Isso beneficiaria cerca de 159 mil jovens efetivados atualmente por meio de contratos subsidiados pelo governo, e o custo da medida giraria em torno de 150 milhões de euros (US$ 180 milhões) na segunda metade deste ano, disse Borloo.
Essas medidas podem ser apresentadas ao Parlamento nesta semana, afirmou um deputado da UMP.
A taxa de desemprego entre jovens da França é de cerca de 22%. A falta de emprego é a maior questão política com que se depara o país e uma das razões para as semanas de distúrbios ocorridos também em bairros pobres de cidades francesas, no ano passado.
Entre os pontos da legislação trabalhista para os quais os opositores exigem mudanças está uma lei que permite que adolescentes ingressem aos 14 anos em programas de aprendiz, em vez de aos 16.
Fonte: JB Online
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