Por: Helio Fernandes
Não contra o jornalismo e sim contra o presidente
Francenildo Costa, agora designado e conhecido nacionalmente apenas como "o caseiro", entrou com pedido de indenização de 17 milhões contra a Caixa Econômica. Justíssimo. Só que deveria responsabilizar também o presidente da República. Não estou falando por falar. Este repórter em 1980 entrou com ação de indenização, mas responsabilizamos diretamente os "presidentes" Medici e Geisel. Não queria parecer que tinha medo deles.
É evidente que eram os grandes responsáveis. Se num regime dito democrático o presidente não pode ser contestado, é a última palavra em tudo, por que diminuir a importância dos personagens, generais, que não eram presidentes eleitos e sim "presidentes" nomeados e empossados no quartel-general?
E notem, guardem e se estarreçam: no processo não está incluída nenhuma reivindicação pessoal. Nada sobre desterros, prisões, cassações, proibição de trabalhar, de escrever, de editar jornais, impedimento de ser candidato por determinação autoritária publicada 4 dias antes da eleição de 15 de novembro de 1966. Motivo: as pesquisas mandadas fazer pelo então poderoso SNI que me davam a maior votação pelo MDB da Guanabara.
Os generais Medici e Geisel foram defendidos pelo ex-ministro da Justiça Alfredo Buzaid. Tido e havido como grande jurista, apresentou "justificativa" de 43 laudas. Apesar da reputação, não pôde escapar do que se chama de "teatrinho do absurdo". Disse que a Tribuna da Imprensa e o jornalista Helio Fernandes tinham todo o direito de pedir indenização, "mas à União e não aos presidentes Medici e Geisel, QUE NÃO TINHAM NADA A VER COM O FATO".
Ganhamos em primeira instância, sentença magistral de um juiz federal, Buzaid recorreu para o Tribunal de Recursos, a instância superior daqueles tempos. Depois de uma guerra terrível, esse Tribunal, por 6 a 5, acatou a defesa do jurista, o que significa o seguinte: a União não tem responsável. É uma espécie de disco voador, que aparece e reaparece, só alguns iluminados conseguem vê-lo.
Antes do julgamento, mais violência do prepotente Geisel. Naquela época os presidentes ou "presidentes" não tinham foro privilegiado. (Isso é coisa do assustado FHC). O oficial de justiça foi a Teresópolis intimar o general Geisel. Este pegou a intimação, rasgou e jogou em cima do oficial de justiça, que tem fé pública. Medici recebeu, não sabia o que era, telefonou para o jurista (?) seu ex-ministro.
O Tribunal Federal de Recursos (daquele tempo), por 6 a 5, validou a ação CONTRA A UNIÃO, MAS EXCLUIU OS 2 "PRESIDENTES". Ganhamos em todas as instâncias, não vamos receber nunca, é claro.
Quanto à revista Época, o pedido de indenização não deveria nem ser recebido. O assessor do ministro Palocci entregou o documento, a revista tinha não só o direito, mas a obrigação de publicá-lo.
Praticou jornalismo de qualidade, o que até nem é praxe na Organização a que pertence. Mas como vinha do "poderoso" ministro contra o "humilde" caseiro, não teve dúvida. O pedido de indenização em relação à Caixa, perfeito, se incluir o responsável maior, o presidente da República.
PS - Não é só o presidente que pode tudo. Governadores também. Bias Fortes, eleito governador em Minas, apoiado por uma coligação de partidos, teve que dividir o governo com todos. Só que agiu com a sabedoria de Salomão.
PS 2 - Reuniu dirigentes dos partidos e disse: "Os senhores se acertem e indiquem os secretários". E ressalvou: "Só quero a Secretaria de Segurança (que prende e solta), a de Administração (que nomeia e demite) e a das Finanças (que paga e recebe). Não quero mais nada". A República também é assim.
Amanhã
A corrupção de Ricardo Teixeira no vergonhoso contrato com a Nike fica atrasada em 24 horas. Não é muito para uma corrupção endêmica e sistêmica. A violência contra o caseiro tem evidente e obrigatória prioridade. Embora corrupção também seja violência.
Pedro Simon
Não preciso de qualquer explicação para colocar sua foto. É Pedro Simon, das grandes figuras do seu tempo. E ponto final.
O PMDB continua com seu projeto que vem de longe: esvaziar todas as reuniões, tenham o nome que tiverem. Podem ser chamadas de prévias, convenções, reuniões de candidatos, tudo acaba da mesma forma como começou. Uns querem ganhar tempo. Outros acham que se trata de perda de tempo. Já venho dizendo desde o ano passado: o PMDB não terá candidato a presidente. Do ponto de vista da cúpula, a partir de 2007 terão mais do que o Poder.
Terão mais de 100 deputados, provavelmente um terço do Senado, entre 10 e 15 governadores. Com isso, ganharão fatia enorme do governo, qualquer que seja o nome ou a legenda do presidente.
Se lançarem candidato a presidente, e ganharem, terão que lotear o governo, estraçalhá-lo e dilacerá-lo com todos. O que não querem.
Anthony Mateus, a estrela da reunião em matéria de rejeição e gozação. Itamar, quem diria, tratamento bem diferente de 1998.
O ministro da Justiça falará só na Câmara, Renan Calheiros vetou a sessão conjunta. Como o PMDB tem maioria absoluta no Senado, dessa o ministro se livrou.
Renan Calheiros, com a maior "cara de santo", apesar de já ter acabado a "semana santa", disse candidamente: "Se o ministro não for conclusivo, poderemos convocá-lo no Senado". Ha! Ha! Ha!
Perguntinha inócua, ingênua, inútil: por que um homem poderoso, prestigiado, respeitado como Thomaz Bastos quis ser ministro? Mantinha assassinos livres a vida inteira, foi apenas vaidade?
Na CBN, entrevista com José Genoino, em 2002 candidato a governador de São Paulo, perdeu no segundo turno. Por causa da infame coincidência de mandatos, ficou sem nada, só a presidência do PT-PT.
A CBN faz bom jornalismo, só não pode tocar em Ricardo Teixeira, "dívidas", superávit, por aí. Como Genoino está por baixo, é assunto não sujeito a censura por ordem "bem de cima".
Genoino continua negando tudo, os outros fazem o mesmo. Ninguém sabia mesmo de nada. Se Lula, Dirceu e Palocci não sabiam, como Genoino ia saber? Já tem advogado de defesa, não disse o nome.
Genoino devia fazer como Palocci, que contratou o criminalista José Roberto Batocchio, ex-presidente da OAB nacional. Advogado baratíssimo que o ex-ministro pagará com economias.
Como José Dirceu e todos os outros "líderes" do PT-PT, que erraram muito contra o País. Mas foram ótimos para eles mesmos.
Governo e oposição não estão brigando por causa do orçamento e sim por visibilidade. Nas Primeiras dos jornalões e destaque na televisão.
Os dois lados sabem que o orçamento "autorizativo" não tem a menor importância. O que deveria existir: orçamento "impositivo". Tirando pequenos problemas, de alguns estados, o resto é "perfumaria".
Meus parabéns ao juiz Luiz Roberto Ayoub. Textual: "Não decidirei pela falência da Varig enquanto houver chance de recuperação da empresa". Magnífico, pois a empresa pode ser facilmente salva.
Aproveitando. Quase todos os jornalões disseram: o juiz não "DECRETOU" a falência. Juiz não DECRETA, juiz SENTENCIA.
A AEPET (Associação dos Engenheiros da Petrobras) começa hoje um ciclo de palestras. O primeiro conferencista não podia ser melhor: Fabio Konder Comparato. "Pensando o Brasil" é o título geral. Às 6 e meia da tarde, na ABI. Imperdível.
Depois de todo o choque, sofrimento e angústia, o senador Gilberto Mestrinho estava de bom humor. 3 vezes governador, senador e candidato à reeleição, não tem concorrente. Entre os adversários. Medo: os "correligionários".
O Senado arquivou denúncias contra Romero Jucá (PSDB no tempo de FHC e PMDB nos tempos atuais) e Eduardo Azeredo, ainda PSDB. Justíssimo. Se os 40 da CPI continuarão impunes, por que punir os dois?
Roberto Teixeira, duas vezes intimado a depor na CPI dos Bingos, não foi às duas. O presidente da CPI, senador Efraim Moraes, protestou. É o máximo que pode fazer contra ele.
A propósito: o próprio senador disse ontem que espera apresentar o relatório da CPI "antes da Copa do Mundo". Foi o que eu registrei noutro dia: de 4 em 4 anos tudo tem que ser "depois da Copa".
Jornalões e televisões, comandados pelo controle remoto do doutor (doutor mesmo) Magliano, badalaram intensamente a Bovespa pelo fato de anteontem ter "negociado" 3 bilhões de reais. Inutilidade.
Desses 3 bilhões, quase a metade em opções. O que são essas opções? Mais jogatina desvairada, desenfreada, descontrolada.
Serve ao País? De forma alguma, é o chamado capital-motel. Não pagam impostos, nem sequer a CPMF. Conseqüência do jornalismo pré-pago.
Urgente, urgente, uma assessoria de analistas para o presidente Lula. Não só para o "conteúdo", mas também para o "continente", com os indispensáveis royalties ao prestigiado Helio Jaguaribe.
Na situação em que se encontra, praticando a mais completa omissão, Lula não poderia dizer como disse na televisão e nos jornais: "O governo não pode parar". Deu material para a oposição.
Pois se existe um fato que não provoca a menor controvérsia ou contradição é que o governo Lula está no quarto ano de inércia e paralisação. Não fez nada e quando faz (?) é errado.
Se gaba de ter feito mais do que "todos os presidentes juntos" da nossa história. Seu governo é a repetição da tragédia do retrocesso de 80 anos em 8 de FHC. E suas realizações se equiparam às 10 mil obras do casal Mateus, quase todas inexistentes.
Lula não precisa de assessores e sim de conselheiros e analistas. E de um projeto de governo, que lamentavelmente jamais teve.
XXX
Noutro dia elogiei aqui o "Bom Dia Brasil" da TV Globo. Discreto mas bem informado, descontraído, sem a tensão e angústia que marcam o "Jornal Nacional".
Citei nominalmente os ótimos Renato Machado, Renata Vasconcellos e Mariana Godoy. Esqueci, que coisa, da excelente Claudia Bomtempo. Apesar de indesculpável, as minhas desculpas.
Bruno Senna é a cara do tio Airton. E pelo que vem fazendo, parece que repetirá a glória e a competência. Genética.
A de Nelsinho Piquet, que também dava a impressão de ser genética, está mais para expectativa do destino.
XXX Renato Gaúcho, que teve seus empregos arranjados por Romario e repetia: "Meu time é Romario e mais 10", faz força para "vender" a idéia de que demitiu o jogador, passando por cima de Eurico Miranda. Ha! Ha! Ha!
XXX Marcelo Grassmann completou 80 anos, homenageadíssimo. E com todo o merecimento. Devia haver exposição num grande e prestigiado local do Rio de Janeiro. Ficou escondido e pouco divulgado.
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