Por: Doris Miranda
`O `cool´ `Terapia do amor´, comédia romântica com Uma Thurman e Meryl Streep, mostra as descobertas de uma mulher madura
A constatação é óbvia: o diretor e roteirista Ben Younger (O primeiro milhão) adora Woody Allen. E construiu seu novo filme, o cool Terapia do amor - que estréia hoje com Meryl Streep e Uma Thurman nos papéis principais - seguindo a habitual crônica urbana do cineasta nova-iorquino. Younger se sai bem, mostrando uma Nova York mais leve, luminosa e menos neurótica que a da vida real. Mas o melhor mesmo em Terapia do amor é a sensibilidade que o jovem diretor, 32 anos, usou para apresentar as incertezas de Rafi Gardet (a sexy Thurman, numa atuação interessantíssima), uma mulher de 37 anos, recém-separada, profissional de sucesso, que se envolve com um cara 14 anos mais jovem, o judeu recém-formado em artes plásticas, David Metzger, interpretado pelo competente desconhecido Bryan Greenberg.
Ainda que aparentemente bem-resolvida com a vida e o visual, Rafi chegou naquele ponto em que a mulher começa a reparar também na concorrência cruel. Sim, ela valoriza seu histórico, mas, indaga, insegura: "O que tenho para atrair um carinha tão novo?" Passado, experiência, humor, sensualidade e a capacidade de construir junto com o outro, como pensa seu mais novo namoradinho - na verdade, o primeiro homem mais jovem com quem ela se envolve. Claro, Rafi dá uma pirada básica e vai desabafar no consultório da analista, a terapeuta "prafrentex" Lisa Metzger (Meryl Streep, sutil e engraçada).
É no divã que Rafi vai se descobrindo: o prazer até então desconhecido na cama, as particularidades do próprio corpo e o do namorado, a delícia de estar amando e ser amada e a necessidade de ter um filho com um cara bacana, mesmo que o relacionamento não dure para sempre. É comovente a cena em que Rafi conta para a terapeuta que não sabia que sexo poderia ser tão bom, falando sobre as possibilidades de prazer que ambos desconheciam. Perfeita no papel, Uma Thurman, 35 anos, dá um show de maturidade, mostrando o quão versátil e delicada pode ser sua interpretação.
O problema é que a confidente é também sogra, como a paciente e a terapeuta descobrem. Na vida pessoal, Lisa Metzger não é assim tão liberal como no consultório. Judia conservadora e mãe influente, ela tem problemas para aceitar o amor do filho de 23 anos por uma mulher de 37 e, principalmente, não-judia. Com o nó na cabeça, percebe que vivia em duas realidades. Ao contrário do que parece, Terapia do amor não é um filme sisudo. Ben Younger se valeu de um humor cínico e gostosinho para colocar em pauta questões fundamentais da vida amorosa moderna, indagando o poder de outras forças além do amor num relacionamento. A uma certa altura, Rafi se pergunta: "O amor é suficiente?" Idade, cultura, religião e maturidade contam também (e muito) - ela percebe a contragosto no seu processo de investigação existencial.
Fonte: Correio da Bahia
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