Ana Tahan
Fala daqui, promete dali, solta um pitaco acolá e todos os candidatos a prefeito de capitais pensam, mesmo, é em 2010. Sem enrolação, quem vencer vai querer mais. É do político. Há sempre uma caneta mais poderosa a desejar. E nem adianta o conto da carochinha furado de assinar documento e registrar em cartório para fingir que vai cumprir os quatro anos de mandato. José Serra está aí para provar que papeizinhos assim são apenas papeizinhos.
Para quem não se lembra, o refresco: em 2004, o tucano carregou holofotes e microfones com ele pra registrar a promessa, com firma reconhecida, selo e tudo: "Eu, José Serra, comprometo-me, se eleito prefeito do município de São Paulo no pleito de outubro de 2004, a cumprir os quatro anos de mandato na íntegra, sem renunciar à prefeitura para me candidatar a nenhum outro cargo eletivo". Um ano e três meses depois, saiu sem se incomodar em anular o compromisso. Elegeu-se governador e, agora, entre a cruz e a calderinha, meio que apóia o correligionário tucano Geraldo Alckmin, meio que engrossa a torcida do ex-vice, o democrata Gilberto Kassab, ambos adversários na corrida pela prefeitura paulistana.
Enfim, até agora não se tem notícia de seguidores da encenação de Serra nas cidades-sedes dos Estados. Mas que todos em campanha imaginam-se no comando de outros palácios em menos de dois anos, lá isso é verdade. Observem São Paulo, só para começar. Alckmin, Kassab e Marta Suplicy querem apenas o controle do Palácio do Anhangabaú ou sonham mesmo é com o Bandeirantes, levando-se em conta que Serra lança olhares gulosos para o Planalto? Assim, é como se a campanha pela prefeitura que soçobra o terceiro maior Orçamento do país fosse apenas um treino rápido para a partida maior.
No Rio não é diferente. O senador Marcelo Crivella, líder nas pesquisas até agora, já disputou o governo do Estado (em 2006). Perdeu o embate para Sérgio Cabral, mas não desistiu da pretensão. Está dando um tempo, enrijecendo os músculos durante as subidas de morros e entradas em vielas de favelas cariocas atrás de votos municipais. Jandira Feghali, Solange Amaral, Eduardo Paes, Fernando Gabeira, todos se conformariam em apenas se sentar no principal gabinete do Palácio da Cidade ou não se imaginam, mais à frente, no Palácio Guanabara? Se perguntar, todos vão jurar que não. Mentirinha.
Político sem ambição vira um chato. Notaram como o atual alcaide, Cesar Maia, anda se empolgando nos palanques? Saiu da frente do computador e, por agora, parece ter reavivado o interesse pelas questiúnculas da cidade (que até ontem não o empolgavam mais). Voltou a sorrir dormindo desde que recebeu números de um pesquisa apontando uma certa queda na popularidade do governador Sérgio Cabral (a quem considera um desafeto?) conseqüência direta dos episódios envolvendo policiais militares e civis mortos apenas porque trafegam pelo Rio sem informar no peito e nos automóveis que são apenas cidadãos, não bandidos.
E por que Maia ficou contente com isso? Ora, porque ele agora vislumbra a chance de derrotar Cabral em 2010. Afinal, pensa, Cabral que vinha bem, tem calcanhar de Aquiles. E Maia, que se programava para uma campanha pelo Senado, acha que já pode projetar uma marcha pelo governo do Estado. Está pronto para incorporar-se Fênix agarradinho ao tema da segurança pública.
Em Belo Horizonte, os sinais são idênticos. Márcio Lacerda, o escolhido pela dupla Aécio Neves governador e Fernando Pimentel prefeito, ainda está em terceiro. Enquanto aposta no tempo eleitoral, Pimentel vai se preparando para suceder Aécio no Palácio da Liberdade e o governador ensaia a marcha, em 2010 ou mais à frente, para o Planalto. Mas Lacerda também tem seus planos: se os mineiros quiserem e os ventos soprarem a favor, receber a faixa estadual de Pimentel, num futuro não tão distante assim.
Querer sempre evoluir não é errado. O ruim é enganar dando a entender que se conforma com o menos quando se pretende tentar o mais. Por isso, portadores de título eleitoral de todas as capitais, atentem aos vices durante os próximos meses. Informem-se sobre nomes e currículos. Para não correr o risco de eleger um e ser governado pelo outro.
Fonte: JB Online
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