Carolina Mendonça,
do A TARDE On Line
O que acontece com o lixo que produzimos em casa? A maioria de nós prefere pensar que basta colocar o saquinho plástico para fora da porta e, como num passe de mágica, algum tempo depois o pacote desaparece. A despeito da confortável ilusão, porém, o caminho percorrido pelos resíduos que produzimos em casa não é tão simples. O destino do lixo doméstico é uma das questões que mais preocupam os ambientalistas atualmente. Depois que sai das casas, a deposição nos aterros sanitários cada vez mais sobrecarregados das grandes cidades levanta a questão sobre a responsabilidade de cada cidadão com o problema. Entre os especialistas, a principal solução para a questão está bem clara: reciclagem.
Em Salvador, ainda são tímidas as iniciativas de reaproveitamento do lixo produzido nas casas. Aqui, os resíduos domésticos encontram principalmente dois destinos: acumular-se nos aterros sanitários que servem à capital ou ser depositado diretamente no meio ambiente, contribuindo para a poluição da cidade, além de problemas como entupimento de canais e bocas-de-lobo. Mas iniciativas individuais como a de Dona Annette e Seu Manoel já apontam numa terceira direção, que deveria ser seguida por todos.
O hábito de separar o lixo doméstico é praticado por Annette Bernardes Costa, 72 e Manoel Pereira Costa, 75, há mais de 30 anos. Ainda não se falava em consciência ambiental quando a nutricionista e o contador aposentados já doavam jornais, latas, potes e garrafas de vidro para particulares e instituições preocupadas com o reaproveitamento econômico do material.
Em 2000, eles passaram a depositar o lixo que pode ser reaproveitado – metal, papéis, vidro e plásticos – nos Pontos de Entrega Voluntária (PEV) do bairro onde moram, o Canela. “As pessoas pensam que é muito trabalhoso, mas não é. Devemos fazer a nossa parte para não piorar a situação”, ensina Manoel Pereira da Costa.
Tão importante quanto a ação é a consciência ambiental do casal. Dona Annete leva tão a sério seu compromisso que não se importa de parecer mal educada quando convidada para um chá de bebê. “Não presenteio com fraldas descartáveis, pois não serei cúmplice do despejo de um material que leva mais de 600 anos para se decompor”, enfatiza. Além de separar o material, os dois ainda aprenderam a fazer arte com os resíduos domésticos. Da transformação do lixo surgem brinquedos e objetos de decoração, mostrando que é possível extrair beleza daquilo que é considerado sujo e feio.
A bióloga e mestre em desenvolvimento sustentável Caroline Todt defende que é papel de cada um mudar hábitos a partir de uma reflexão sobre o consumo. Ela explica que é necessário resistir aos apelos comerciais e pensar em não comprar além do que realmente é necessário. A preocupação começa na escolha de itens que não “carreguem” o peso da destruição ambiental, como aqueles embalados com isopor ou outros materiais de difícil degradação. “O princípio da responsabilidade deve ser trabalhado em todos os atos do cotidiano”, frisa.
Todt explica que a mudança do comportamento social vai contribuir para a melhoria da situação dos aterros sanitários, única opção de descarte de resíduos em Salvador. “Estes espaços, que podem funcionar apenas por 20 anos em média, não estão comportando a quantidade de lixo depositada”, alerta. Atualmente, Salvador conta com dois aterros sanitários. O Aterro Metropolitano Centro, compartilhado com os municípios de Simões Filho e Lauro de Freitas, recebe os lixo doméstico e o de Canabrava, onde são depositados podas de árvores e entulho.
Fonte: A TARDE
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