Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Dos 26 estados onde haverá eleição para prefeito das capitais, dispõe-se o PT a
apresentar candidatos próprios em vinte. Poderá apoiar indicados por outros partidos em seis, ou menos, porque em cada um deles os companheiros ainda vão tentar o vôo solo.
Significa o quê, essa tendência voluptuosa do PT?
Primeiro que segue à risca a doutrina milenar de ser a busca do poder o objetivo fundamental dos partidos políticos. Depois, que pouca atenção e até algum desprezo vêm sendo dados ao entendimento costurado pelo presidente Lula com outras legendas, única forma encontrada para conseguir a governabilidade necessária. Também fica evidente uma espécie de soberba ao sustentar que aceita alianças, mas em torno dos seus candidatos.
O fundamental, nessa postura elitista, é que o PT pretende aproveitar os ventos favoráveis da popularidade do Lula, mas, no reverso da medalha, demonstrar que o presidente pode muito, mas não pode tudo. No caso de sucesso, claro que não em vinte capitais, mas na maioria delas, a conseqüência seria um peso maior do partido na hora das definições sobre a sucessão de 2010. Uma forma de dizer, por exemplo, que Dilma Rousseff só será candidata se o PT quiser, não apenas por vontade imperial do Lula.
Assim como ficaria óbvia a estratégia para eliminar, o mais rápido possível, a hipótese de o presidente inclinar-se por alguém dos partidos da base, supostamente com mais chances de vitória do que a chefe da Casa Civil. "Nem Aécio, nem Ciro, mas apenas quem nós indicarmos", será a resultante de uma boa performance petista em outubro, ainda que possa exprimir suicídio com data marcada, daqui a dois anos.
Em suma, o PT pretende pôr o pé no acelerador, daqui por diante, mesmo que o presidente Lula torça o nariz e alerte para os perigos do imponderável. No caso, um natural afastamento dos partidos da base governista, já na hora da escolha dos novos presidentes da Câmara e do Senado. Porque se prevalecer o cada um por si nas eleições municipais, por que não seguir os regimentos das duas casas, que concedem às maiores bancadas a prerrogativa de indicar seus presidentes? O PMDB é majoritário em ambas...
Imagine-se, também, o resultado oposto. E se o PT eleger poucos prefeitos, pior ainda, nenhum numa grande capital? O malogro em Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Recife, por exemplo, seria o ensaio-geral para a derrota em 2010? Nessa hora, uma única tábua de salvação emergiria das profundezas para permitir sobrevida ao partido. Nem vale a pena referi-la, mas não erra quem pensar no terceiro mandato. Seria tudo uma armação, engendrada desde já?
Caminho sem volta?
Pesquisas são pesquisas, sujeitas a todo tipo de equívocos, para dizer o mínimo. Porque boa parte delas é encomendada, ou seja, pagas, numa realidade em que o freguês precisa ter sempre razão, caso contrário não volta. Mesmo assim, como regra, pesquisas constituem indicativos de tendências. No fim de semana foi divulgada uma que dá o que pensar, sobre o MST e penduricalhos, não obstante haver sido encomendada pela mineradora Vale um dos alvos prediletos dos sem-terra.
Entre mil preconceitos e questões deles decorrentes, salta aos olhos um número indiscutível: 60% dos consultados consideram que as organizações camponesas estão se aproximando da criminalidade.
Não há como contestar essa evidência, que dia a dia mais se enraíza no consciente coletivo. Afinal, invadir usinas hidrelétricas, depredar laboratórios, ocupar prédios públicos urbanos, fechar ferrovias e rodovias e até cercar supermercados nada tem a ver com a reforma agrária. Aceitam-se invasões de propriedades rurais, em especial quando improdutivas, mas baderna, de jeito nenhum.
É esse o entendimento que se amplia pelo País. Talvez nem fosse necessário realizar uma pesquisa para se chegar a tal resultado. Não é a mídia que tem associado as organizações camponesas ao crime e à violência. As imagens falam sem necessitar de interpretações. À mídia, cabe divulgá-los. Se a maioria da população condena a interrupção do tráfego ferroviário, não faltando bandeiras do MST no alto das locomotivas, se postos de pedágio são ocupados, como negar as imagens?
A truculência das polícias e a existência de milícias de jagunços liderados por fazendeiros não apagam a evidência de que a lei e a ordem foram desrespeitadas. É isso que os 60% traduzem. E passarão a 70%, ou mais, se as cosas continuarem como vão...
Fonte: Tribuna da Imprensa
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