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sexta-feira, junho 20, 2008

O princípio da Máfia

Por: Carlos Chagas

BRASÍLIA - O agrônomo e engenheiro Hélio Tollini, ex-secretário-geral do Ministério da Agricultura, hoje presidente da Associação dos Produtores de Algodão, definiu em audiência pública no Senado a saia justa em que os Estados Unidos colocaram o Brasil e demais nações em desenvolvimento.
Os americanos deram de ombros, mesmo derrotados em longo processo na Organização Mundial do Comércio, que censurou os subsídios concedidos por Washington aos seus produtores agrícolas. O protecionismo continua o mesmo, tendo em vista a aplicação do "princípio da Máfia" pelo governo daquele país.
Qual é o "princípio da Máfia"? De tentarem parecer muito mais fortes do que são, junto aos amigos e aliados, mas, no reverso da medalha, darem a entender aos adversários que são muito mais fracos do que na realidade.
Assim, os Estados Unidos estimulam as nações ricas que também praticam o protecionismo a não cederem à pressão das nações subdesenvolvidas, prejudicadas pelos subsídios, muito menos a respeitarem decisões de organismos internacionais. Querem demonstrar que podem tudo.
A estratégia muda diante de países como o Brasil, autor da ação contra o protecionismo americano dado ao algodão lá produzido: tentam convencer-nos de que os subsídios nada significam, que beneficiam apenas meia dúzia de pobres catadores, sem expressão comercial.
Trata-se de um golpe baixo, desferido pelos que necessitam desesperadamente exportar sua produção, com base em números irrefutáveis. A população nos países ricos cresce bem menos do que no resto do mundo. Dos seis bilhões de habitantes do planeta, hoje, prevê-se que passarão a oito bilhões, em 2025.
A grande maioria nos países em desenvolvimento ou pobres, que precisarão consumir mais alimentos. Mas se produzirem em seus próprios territórios, deixará os ricos sem poder exportar seus excedentes cada vez maiores. Em grandes dificuldades, portanto. Sendo assim, subsidiam sua agricultura para dar-lhe condições de competitividade, ainda que em detrimento dos demais países e suas populações.
Qual a saída? Para Hélio Tollini, não adianta ficar xingando mãe, avó e bisavó dos ricos, que não estão nem aí para os protestos. A solução é dupla: retaliar e negociar. Sem devolvermos a agressão arriscamo-nos a perder a força e o respeito, adquiridos após penosa contenda na Organização Mundial de Comércio. Mas também não podemos dar tiros em nossos pés, ou seja, sairmos prejudicados pelas nossas próprias represálias, se apenas nos circunscrevermos a elas. É quando entra a negociação, caso a caso, envolvendo governos e associações.
Tomara que o renomado técnico agrícola tenha razão e que, no fim de prolongado diálogo, venhamos a obter algum resultado. Sem perder a evidência de que, se eles lutam pela própria sobrevivência, nós também...
E os assassinos
A premissa é de ter sido inaceitável a ação de um tenente e um grupo de soldados do Exército que, numa das favelas do Rio, entregaram três rapazes à sanha de uma quadrilha de narcotraficantes. Nada mais justo do que a indignação geral diante dessa execrável ação dos militares. Precisam ser punidos.
Agora, seria bom que a mídia, tão eficientemente dedicada a desvendar e a denunciar o episódio, voltasse sua atenção também para a outra face da moeda. Quem matou e torturou os três indigitados jovens? Quem pratica todos os dias esses atos de barbárie inadmissível? Quem ocupa favelas e periferias, estabelecendo nelas um governo paralelo e contestador da lei e da ordem?
O ministro da Defesa e o comandante do Exército pediram desculpa às famílias das vítimas e à população. Fizeram o mínimo esperado. Tomara que suas providências impeçam a repetição do acontecido no Rio.
Mas seria preciso igual preocupação para identificar, prender e condenar os assassinos e os torturadores. Eles e todos os outros animais que transformaram a antiga capital federal em campo de batalha.
Tem alguma coisa errada nessa história do combate do poder público contra o narcotráfico. Identificadas estão as quadrilhas e seus chefes, por mais difícil que pareça. Impossível também não será chegar aos mentores, aos que financiam o crime. Como, da mesma forma, puxar a meada pelo fio exposto, os usuários de drogas. Eles não são apenas pobres coitados, doentes e vítimas dos tempos modernos. São participantes, financiadores até mesmo dos assassinos dos três rapazes.
O estudo do Direito
Ninguém melhor do que Saulo Ramos para exprimir com palavras simples e diretas evidências que muitos procuram tumultuar e complicar. Ao criticar a sentença de juízes que pretendem censurar a imprensa escrita por entrevistar políticos, candidatos ou não às eleições, falou o ex-ministro da Justiça:
"Essa rapaziada não estuda bem o Direito. Entrevista em jornal não é propaganda eleitoral, nem antes nem depois da lei eleitoral. A liberdade de expressão do jornal é total." Mais falou, mas nem precisava o renomado mestre. Basta ler a Constituição, no artigo quinto e no capítulo da Comunicação Social. Foi cruel e veraz ao acrescentar ser falta de estudo o equívoco de alguns juízes eleitorais, "que assistem muita televisão e lêem poucos livros".
Salvo pelo príncipe japonês
Apesar de haver prometido ao governador Aécio Neves comparecer ao jogo da seleção brasileira com os argentinos, quarta-feira, em Belo Horizonte, o presidente Lula não foi. Acabou salvo pelo príncipe herdeiro do Japão, em visita ao Brasil, ao qual ofereceu jantar de gala, na mesma noite.
Há cem anos que os japoneses têm contribuído de forma exemplar para o progresso do Brasil. Mais um agradecimento se inclui em nossa conta devedora. Sem a visita de Nahurito a Brasília cairia o presidente Lula na armadilha do Mineirão, já que os torcedores mineiros parecem estar aprendendo as lições dos irreverentes cariocas, que vaiam até minuto de silêncio.

Por: Tribuna da Imprensa

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