Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Nos Estados Unidos, o Centro para a Integridade Pública acaba de divulgar que no espaço de dois anos o governo George W. Bush produziu 935 mentiras, entre elas a de que Saddam Hussein dispunha de armas de destruição em massa, além de estar construindo uma bomba atômica. No Brasil, felizmente sem concorrermos com números tão altos, o governo Lula também participa da disputa pelo Prêmio Pinóquio.
Realizou-se quinta-feira, no Palácio do Planalto, reunião de emergência convocada pelo presidente, com seis ministros debatendo fórmulas de estancar as crescentes queimadas na floresta amazônica. O diabo é que ao comparecer à Assembléia Geral das Nações Unidas, em agosto do ano passado, o presidente disse o contrário, ou seja, que as queimadas haviam diminuído consideravelmente. O mesmo sustentou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em Bali, em novembro, na Conferência Sobre o Aquecimento Global. Será que tudo mudou em poucos meses? Que os vândalos depredadores foram tão rápidos assim?
De repente, é o próprio governo a reconhecer contundentes índices de desmatamento verificados em 2007. Em vez de diminuir, aumentou a devastação da floresta.
Trata-se apenas do último exemplo de verdades não verdadeiras, mas quantos outros poderiam ser alinhados? "Não haverá aumento de impostos." "Não lotearemos cargos e funções públicas." "O PIB crescerá mais de 5%." "O mensalão não aconteceu." "A inflação encontra-se sob controle." "Não aumentaram os preços de gêneros de primeira necessidade." "Inexiste surto de febre amarela." "A hipótese de apagão energético está afastada."
É bom o presidente Lula tomar cuidado, porque tem sido levado por seus auxiliares a dizer coisas que depois acontecem ao contrário.
Missão impossível
Quando a situação aperta, o governo retira as Forças Armadas do fundo do baú, apesar de relegadas e desmanteladas desde os tempos do sociólogo. Os donos do poder apelam para Exército, Marinha e Aeronáutica sempre que se encontram em sinuca, como tentaram até na questão da insegurança pública.
Agora, defrontando-se com o desmatamento crescente da Amazônia, realidade faz pouco negada pelo próprio Lula, nas Nações Unidas, e pela ministra Marina Silva, em Bali, é hora de mais uma vez o governo voltar-se para os militares. Já que quem deveria fiscalizar e punir não pune nem fiscaliza, a solução parece esperar que soldados, marinheiros e aviadores realizem milagres.
O problema é que em terminologia castrense funciona regra fundamental: "Quem dá a missão, dá os meios". Se é para as Forças Armadas vigiarem a Amazônia, impedindo queimadas e dilapidação da floresta, que tal recuperar e ampliar o número de helicópteros do Exército, para não falar na preparação de contingentes capazes de agir?
Como a Aeronáutica conseguirá plotar as regiões onde maus empresários derrubam árvores para plantar soja e criar gado, se metade da frota aérea encontra-se no chão, por falta de peças de reposição? De que maneira a Marinha, sem navios, conseguirá patrulhar o litoral Norte e impedir a saída de milhares de toneladas de madeira para o exterior, responsabilizando não apenas os exportadores, mas os compradores?
Muitas vezes reuniões de emergência tornam-se necessárias, até imprescindíveis, mas se ficarem apenas na retórica, nada feito...
Por que as goelas estão abertas?
Recomeçou semana passada a canibalesca corrida dos partidos da base do governo atrás de presidências e diretorias de empresas estatais. A posse de Edison Lobão no Ministério de Minas e Energia parece haver assanhado apetites obscenos, que caberá ao senador tentar conter e controlar. Como não são apenas as empresas energéticas, apesar delas ocuparem a pole-position nessa abominável disputa, vale prospectarmos as razões de apetites tão virulentos.
E as razões intestinas revelam-se mais podres do que as goelas. Os partidos, ou melhor, certos caciques dos partidos, lançam-se na conquista desenfreada de funções que dispõem de verbas para investimentos e, em especial, para pagamento de empreiteiras.
Não é preciso dizer mais nada. Atrás de cada fatura que vai ser liberada pode estar uma "contribuição" da iniciativa privada para pagar dívidas de campanha ou, mais provável ainda, para preparar as próximas eleições. Isso, aqui para nós, para dizer o mínimo.
O pior nessa história é que a avenida possui mão e contramão. As empreiteiras também nadam de braçada em mar tranqüilo, superfaturando obras e garantindo o seu futuro...
A Santa Ceia
Continua motivo para comentários e especulações aqui em Brasília a referência alegre do presidente Lula, na recente reunião ministerial, a respeito dela assemelhar-se ao quadro da Santa Ceia, de Leonardo da Vinci.
Alguns supõem que o presidente andou lendo o maior best-seller do ano passado, de Dow Brown, o "Código da Vinci", mas alguns constrangimentos fluíram. Quem será o Judas, entre os 38 ministros presentes à reunião? Tomara que não seja o encarregado das finanças dos grupos dos apóstolos. Por outro lado, à direita de Jesus (perdão, do Luiz Ignácio) estava o vice-presidente José Alencar. Teria ele algo a ver com Maria Magdalena-João Evangelista? Ou, feito nas máquinas fotográficas, a imagem terá saído invertida, com a ministra Dilma Rousseff, à esquerda?
A ninguém será dado censurar o presidente por conta de uma jovial observação feita para desarmar espíritos temerosos da bronca que, apesar de tudo, acabaram levando. Fica, porém, uma sugestão para a próxima reunião ministerial: que tal o presidente compará-la ao quadro de Pedro Américo, da proclamação da Independência do Brasil? Quem será o carreiro que comboiava bois, no cantinho inferior da tela?
Fonte: Tribuna da Imprensa
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