Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Consumou-se o erro. Para o lugar de seis dos oito ministros demissionários, o presidente Lula decidiu nomear os secretários-executivos das respectivas pastas. Com todo o respeito, funcionários competentes, mas inexpressivos, não apenas em termos políticos, mas simbolicamente também. Transportes, Saúde, Integração Nacional, Desenvolvimento Agrário, Esportes e Pesca serão geridos por amanuenses. Sobraram poucas expressões nacionais de vulto no ministério: Celso Amorim, nas Relações Exteriores, Marcio Thomaz Bastos, na Justiça, Patrus Ananias, no Desenvolvimento Social, e mais uns tantos.
É verdade que Waldir Pires, agora na Defesa, e Tarso Genro, nas Relações Institucionais, engrandecem qualquer governo. O que fica dessa demonstração de timidez é que Lula não confia na própria reeleição. Claro, porque a desculpa para não buscar luminares na sociedade civil foi de que não adiantaria nomeá-los para permanecer apenas nove meses, depois do que termina o seu mandato. Ora, e no segundo mandato, esses hipotéticos ministros de competência acima da média não seriam convidados para continuar?
Orçamento aprovado, mas...
A Comissão Mista acaba de aprovar a proposta de orçamento para o ano em curso. Falta agora o plenário do Congresso referendar a decisão, coisa que não parece difícil. O que espanta todo mundo é que estamos em abril. A aprovação do orçamento teria que ter acontecido até 31 de dezembro do ano passado. A malfadada convocação extraordinária do Congresso, no começo do ano, aconteceu sob o pretexto da votação da proposta. Não valeu, senão para desmoralizar o Legislativo.
Torna-se necessário alterar a mecânica da chamada Lei de Meios. Afinal, se mergulharmos na História, veremos que os parlamentos foram criados essencialmente para aprovar orçamentos. No nosso caso, foi aprovada uma peça de ficção. Porque nada obriga o governo a cumprir as dotações estabelecidas pelo Congresso. Agora mesmo, a nova equipe econômica chefiada por Guido Mantega dá sinais de que rasgará o orçamento, estabelecendo um corte de até 20 bilhões nos gastos previstos pelo Congresso. Corte onde?
Ora, nos investimentos de infra-estrutura e no setor social, como acabam de plantar na imprensa. Pior ainda: sob a alegação de preservar o superávit primário de 4,75% do PIB para continuar pagando os obscenos juros das dívidas e da especulação financeira, vão "contingenciar" tudo, desde a necessidade de manter as Forças Armadas funcionando até investimentos básicos na saúde e na educação. O primeiro passo da mudança deveria ser a adoção do orçamento impositivo, mas quando? Quando o sargento Garcia prender o Zorro...
O velho PMDB
Encontraram-se sábado à noite para jantar, em São Paulo, o candidato Geraldo Alckmin e Michel Temer, presidente do PMDB. Estava, é claro, afastada como inverossímil a hipótese de o partido apoiar a candidatura tucana. Pelo jeito, o PMDB não lançará candidato ao Planalto, nem se engajará oficialmente em nenhuma candidatura, a começar pela do presidente Lula à reeleição. A conversa entre o ex-governador e o deputado começou a partir dessa premissa. O que Alckmin pretende é obter a simpatia do PMDB através da celebração de alianças em estados, nas eleições para governador e senador.
Pelo menos, a garantia de que o PMDB não se acople às pretensões do presidente para um segundo mandato. Estariam inclinados a mandar apoiar Alckmin os governadores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Distrito Federal. Será preciso esperar a convenção nacional, em junho, para decisões formais. Até porque, ainda se encontra posta a candidatura do ex-governador Anthony Garotinho, vitorioso em consulta junto às bases peemedebistas.
Devem se cuidar o presidente Lula e o PT. Porque o mesmo sentimento de divórcio com o governo registra-se no PTB, no PSB, no PL e até no PC do B, partidos da base oficial. E ninguém se iluda: Geraldo Alckmin e sua orquestra já começaram a entoar partituras do gosto desses partidos.
Fonte: Carlos Chagas - Tribuna da Imprensa
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