Por Bernardo Mello Franco (esq.)
Jair Bolsonaro consumou, enfim, o casamento com o PL. É seu nono partido em três décadas na política. O presidente subiu ao altar com o chefão da sigla, Valdemar Costa Neto. “Não seremos marido e mulher. Mas seremos uma família”, derramou-se.
O enlace foi celebrado por Marco Feliciano, dublê de deputado e pastor evangélico. Na oração de abertura, ele disse que o país “já sofreu muito e agora começa a sair do lamaçal”. Não se referia a Jacinto Lamas, o ex-tesoureiro do PL condenado no julgamento do mensalão.
Preso no mesmo escândalo, Valdemar cumpriu pena na Papuda. Ontem alugou um auditório a 20 quilômetros do presídio para trocar alianças com o capitão. Em eleições passadas, o mensaleiro investiu em personagens folclóricos como Clodovil e Tiririca. Agora aposta em Bolsonaro como puxador de votos em 2022.
Ao se unir ao dono do PL, o presidente selou o matrimônio com o Centrão, que já mandava na Casa Civil e na área social do governo. Na campanha de 2018, ele definiu o grupo como “a nata do que há de pior”. Três anos depois, disse sentir-se em casa com a turma. “Eu vim do meio de vocês”, cortejou. O general Augusto Heleno, que cantava “Se gritar pega Centrão”, desta vez poupou a voz. Participou da solenidade, mas dispensou o microfone.
Bolsonaro não pareceu preocupado em justificar a aliança para seus eleitores. Ao contrário: disse sentir “um orgulho muito grande” ao assinar a nova ficha de filiação. Ele tentou transmitir confiança na reeleição, mas deu sinais contraditórios sobre a estratégia de campanha.
Diante de um cartaz que o apresentava como “o presidente que faz o maior programa social do mundo”, o capitão não se arriscou a falar de fome e desemprego. Preferiu reciclar a ladainha sobre pátria, família e religião.
Flávio Bolsonaro, o senador da rachadinha, assumiu a tarefa de atacar os adversários do pai. Em tom agressivo, chamou Sergio Moro de “traidor” e Lula de “ladrão”. Ele ainda se referiu ao petista como “ex-presidiário”, sem notar a descortesia com Valdemar.
O Globo