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sábado, outubro 04, 2008

Eleitor dá as cartas no pleito de domingo

Por Luis Augusto Gomes
A sorte está lançada para a mais disputada eleição de prefeito de Salvador desde 1985, quando foram restaurados os pleitos nas capitais de Estados brasileiros. Cessada a propaganda eleitoral e realizados todos os debates, os candidatos enfrentarão as urnas de domingo com o patrimônio acumulado na campanha. A existência de três postulantes mais destacados reflete o reinício da rearrumação das forças políticas baianas, que ainda terá muitas etapas até conseguir melhor definição. Ao longo do processo, dois candidatos que na largada tinham problemas a superar posicionaram-se gradativamente e chegam à reta final em condições até de serem os adversários do segundo turno: João Henrique (PMDB) e Walter Pinheiro (PT). O atual prefeito, que em 2004 fez o gênero paz e amor – numa peça publicitária chegou a posar com a mão sob a camisa sugerindo o pulsar do coração –, encarnou nos últimos dias uma agressividade surpreendente que em certos momentos assustou os adversários. “Escreveu não leu, o pau comeu” parecia ser seu lema, ou, como dizia o velho craque Sanfilippo, “tomou uma injeção de ódio”, e a despeito de seu evangelismo militante partiu para o confronto. O fato é que contrariou sua natureza, e para isso contribuiu o trabalho de sua equipe de marketing eleitoral, que não viu outra saída senão associar o “up grade” administrativo a uma atitude pessoalmente mais forte frente aos oponentes. Pinheiro resolveu enfrentar internamente Nelson Pelegrino dentro de uma estratégia que visava a um “acordão” para 2010, mas aparentemente tomou gosto pelo papel e foi em frente. De números inexpressivos na intenção de votos, alcançou o patamar de opção viável ao associar-se claramente ao governador Jaques Wagner. Adversários, no entanto, frisaram seu descompromisso com Lula nas primeiras derrapadas do governo federal e ele parou de crescer. A tentativa de burla com a trucagem do comício do presidente, denunciada no horário de João Henrique, cristalizou seu estacionamento. ACM Neto (DEM) mantém-se a duras penas entre os primeiros. Sofreu com a lembrança de seu destempero na ameaça física ao presidente e seguramente perdeu pontos ao, poder-se-ia dizer ingenuamente, querer dissociar-se do carlismo, “coisa do passado”, pois ele faz política agora e o avô, “há 50 anos”. Na guerra das pesquisas, fica com a do Ibope, que solitariamente lhe dá larga margem de vantagem, embora seja na crescente rejeição que está seu principal obstáculo para um eventual segundo turno. Antonio Imbassahy (PSDB) não conseguiu superar a dubiedade que sempre carregou desde que aportou no cais tucano. Ao ex-prefeito foram debitados os erros do período carlista – como as demissões aos milhares – e não foram creditados os acertos, as grandes obras realizadas na cidade em seus oito anos de poder. A esquizofrenia política continuou, pois o candidato não considera uma anormalidade o fato de o seu partido ser, no plano nacional, inimigo do PT e aliados, enquanto na Bahia permanece tão chegado a Wagner e acólitos que nem ao concorrente Pinheiro ele quis atacar. Quanto a Hilton Coelho (PSOL), a ironia poderia descrevê-lo como um “espectador privilegiado dos debates”. Cumpre o papel de tentar convencer o eleitor de que, mesmo não inspirando a confiança que só a experiência agrega, é a melhor opção para combater vícios políticos seculares e interesses econômicos poderosos. Poderá ter mais votos que os que as pesquisas insinuam. Demarca o terreno para construir seu partido na Bahia e se prepara para um próximo e combativo mandato parlamentar. A rotina dos clientes e permissionários da Ceasa do Rio Vermelho foi quebrada na manhã de ontem com a visita do candidato à reeleição pela coligação Força do Brasil em Salvador, João Henrique. Na oportunidade, os permissionários aproveitaram para agradecer o apoio que a prefeitura tem dado para a categoria com a fiscalização educativa de órgãos como a Sucom, Vigilância Sanitária e Centro de Zoonoses. Acompanhado de candidatos à Câmara Municipal, João Henrique percorreu os boxes, recebendo o carinho da população por onde passava. “Acho João uma pessoa fantástica. É o meu candidato, dos meus funcionários e de minha família”, revelou a permissionária Teresinha Hora, 62 anos, há 17 anos no Ceasa do Rio Vermelho. “Esse é o homem que está mudando Salvador”, disse Joel Gonçalves dos Santos, 43 anos, funcionário de uma floricultura no local há cinco anos. Para ele, João Henrique tem que continuar na prefeitura para continuar as obras na cidade. Mesma opinião tem Kátia Tavares, 29 anos, também funcionária de uma floricultura. “Com certeza vai dar João em primeiro lugar nas urnas”.
Emoção nas principais capitais brasileiras
A emoção tomou conta do processo eleitoral na reta de chegada das principais capitais brasileiras. Depois de campanhas acirradas, os partidos já trabalham na expectativa dos seus candidatos passarem para o segundo turno, por isso a política de alianças agora é a grande preocupação. Este primeiro turno foi marcado com a decepção pelo desempenho de alguns candidatos, surpresas de outros e viradas espetaculares de alguns. Enfim, tudo valeu na luta pelo voto de uma eleição que conclui a sua primeira etapa neste final de semana, na maior manifestação popular da democracia brasileira. Adiante, um panorama político das principais capitais do país. Salvador: ninguém sabe mais quem vai para o segundo turno. As chances são praticamente iguais para ACM Neto (Democratas), João Henrique (PMDB) e Walter Pinheiro (PT). Imbassahy (PSDB), que começou melhor, caiu vertiginosamente por causa da tática adotada na campanha, quando sofreu ataques e preferiu permanecer em silêncio, com um discurso apenas propositivo. Somente no final ele trocou a equipe de marketing e reagiu, mas era tarde demais. Embora Pinheiro tenha feito uma campanha espetacular, nos debates Neto e João Henrique foram os melhores, com Hilton Coelho (PSOL) atirando para todos os lados. Este também conseguiu empolgar o voto radical, assumindo antigas posições do PT e, mais recentemente, do PSTU. Até mesmo pela confusão das pesquisas, o quadro é imprevi-sível. São Paulo: a situação é parecida com a de Salvador. Alckmin também seguiu a mesma tática de bom moço e experiência de Imbassahy e quase não reagiu aos ataques de Marta e, principalmente, de Gilberto Kassab. Também modificou tarde demais, quando o eleitor já buscava uma alternativa diferente de Marta. Kassab veio melhorando a sua administração e, via de conseqüência, o seu desempenho na campanha e nas pesquisas. Em meados de setembro, ele ultrapassou o tucano e hoje já abriu mais de cinco pontos de vantagem. Os erros do PSDB e o silêncio do governador José Serra colaboraram para a queda de Alckmin, alimentando, inclusive, uma vitória de Marta no primeiro turno. Como a petista não é nenhuma “coca-cola”, o eleitor migrou para Kassab, e nas novas pesquisas ele já a ultrapassa nas projeções para o segundo turno. Nem o PSDB acredita mais em Alckmin, e todos já costuram alianças para o segundo turno. Pode dar Kassab, apesar de Lula. (Por Evandro Matos)
Decisão no 1º turno em poucas capitais
Rio de Janeiro: a eleição na capital carioca mostra que nem sempre o presidente consegue transferir votos. No horário eleitoral de Alessandro Molon (candidato do PT) Lula não sai da TV, mas a campanha está empacada em 4%. Eduardo Paes (PMDB) assumiu a liderança, mas já parou de crescer. Marcelo Crivella (PRB) continua caindo, enquanto Gabeira (PV) recupera pontos preciosos na reta de chegada. Embora Jandira Feghali (PCdoB) também tenha tido uma pequena reação, o segundo turno deve ser disputado entre Eduardo Paes e Gabeira, que na reta final ganhou o reforço de José Serra. Belo Horizonte: na capital mineira o PT disputa contra o próprio PT. É que o ministro Patrus Ananias apóia Jô Moraes (PCdoB) e o prefeito Fernando Pimentel apóia Márcio Lacerda (PSB) junto com o governador Aécio Neves (PSDB). Embora o candidato do PMDB, Leonardo Quintão, tente provocar um segundo turno, a eleição ainda pode ser liquidada no primeiro. Se isso acontecer, Aécio vai para o abraço e depois percorrer os estados brasileiros no segundo turno para pavimentar a sua estrada para 2010. Recife: ia tudo bem para o candidato do PT, João da Costa, mas uma denúncia de uso da máquina municipal em favor de sua candidatura pode provocar um segundo turno. Embora o TRE local tenha cassado a sua candidatura, ele disputa subjudice. Mendonça Filho (Democratas), Eduardo Cadoca (PSC) e Raul Henry (PMDB), no debate realizado na última quinta-feira, se uniram nos ataques contra o petista, num esforço para transferir a decisão para o segundo turno. O quadro está confuso. O eleitor, mais ainda. Fortaleza: Luizianne Lins (PT) pode liquidar a eleição no primeiro turno. O trabalho de Duda Mendonça fez a petista subir nas pesquisas vertiginosamente. Patrícia Sabóya (PDT) e Moroni Torgan (DEM) lutam para ter segundo turno, mas o quadro é incerto. O grande detalhe em Fortaleza é a posição do deputado federal Ciro Gomes (PSB), que apóia Patrícia Sabóya, e o governador Cid Gomes, seu irmão, que faz campanha para Luizianne Lins. Mas a paz está selada entre eles. Porto Alegre: Com vaga assegurada no segundo turno, o prefeito José Fogaça (PMDB), que disputa a reeleição, aguarda em silêncio com quem vai disputar. Maria do Rosário (PT) e Manuela D’Ávila (PCdoB) travam uma batalha emocionante. Duas mulheres, de partidos de esquerda, e da base de apoio do presidente Lula. Por enquanto, a comunista leva uma pequena vantagem nas pesquisas. De quebra, ainda tem Luciana Genro (PSOL), que tem remotas chances de chegar, mas joga pimenta na disputa por ser opositora do seu próprio pai, o ministro da Justiça Tasso Genro. O prejuízo maior fica com a petista Maria do Rosário, que tem que apagar fogo vindo de dois lados. Curitiba: Beta Richa (PSDB) ganha disparado no primeiro turno. A juíza Simone Gomes Rodrigues Casoretti, da 9ª Vara de Fazenda Pública de São Paulo, concedeu ontem uma liminar à Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) liberando a venda de bebidas alcoólicas em bares e restaurantes no dia das eleições no Estado de São Paulo. A decisão contraria a “lei seca”, em vigor nas eleições anteriores. A decisão invalida a resolução da SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), que seria publicada no “Diário Oficial” do Estado, proibindo a venda de bebida alcoólica durante a chamada “lei seca eleitoral”. Em 2006 e 2004, determinação da SSP-SP proibiu a venda e o consumo de bebida alcoólica no Estado no dia da eleição, das 8h às 17h. “Mesmo que a resolução seja editada, não terá valor, e a lei seca não poderá ser aplicada em nossos associados”, afirmou Percival Maricato, diretor jurídico da Abrasel. A reportagem procurou a SSP-SP para comentar a decisão, mas ainda não obteve retorno. Cabe recurso em segunda instância. “De fato, a legislação penal e eleitoral têm dispositivos capazes de assegurar a tranqüilidade nas seções eleitorais e nos locais públicos, motivo pelo qual não se justifica o desprezo à supremacia da Constituição Federal”, afirma a juíza, em sua decisão. “Assim, defiro a liminar para assegurar aos associados da impetrante a venda de bebidas alcoólicas no dia da eleição”, conclui. Em Pernambuco, a SSP-PE (Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco) determinou a proibição da venda e consumo de bebidas alcoólicas no Estado no dia das eleições, das 5h às 18h. Segundo a portaria, não é permitida a venda e o consumo de bebidas alcoólicas em bares, restaurantes e estabelecimentos do gênero. Caberá à Polícia Militar e à Polícia Civil realizar a fiscalização. (Por Evandro Matos)
Tribunal conclui apuração ainda no domingo à noite
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) espera concluir na noite de domingo a apuração da maioria dos votos nos mais de 5.000 municípios brasileiros. O presidente do tribunal, Carlos Ayres Britto, disse ontem apesar das diferentes características dos municípios do país, a informatização da votação vai acelerar a divulgação dos resultados. “A nossa expectativa, considerando a heterogeneidade dos municípios brasileiros, nós esperamos que domingo à noite, ainda no domingo, a imensa maioria dos resultados já esteja divulgada”, afirmou. Britto reconheceu, porém, que os resultados serão mais lentos para municípios localizados em áreas isoladas, especialmente no Norte do país. “O Brasil é um macrocosmo, há muitas peculiaridades, há certos municípios, sobretudo no Norte do país, muitos distantes e de comunicação dificultosa, mas a expectativa é de que em grande parte dos municípios, o resultado saia no mesmo dia da votação.” O ministro garantiu que o TSE está com tudo pronto para que as eleições deste domingo ocorram dentro da normalidade em todo o país. “Tudo pronto, o apoio logístico, ânimo do pessoal, o contato entre as presidências [do TSE e dos TREs], as diretorias gerais, as secretarias de informática e de comunicação, está tudo azeitado, o ânimo melhor possível, todo o entusiasmo de servir a democracia representativa e a expectativa é de que tudo corra bem”, afirmou. Em um recado para os eleitores brasileiros, o presidente do TSE defendeu que todos compareçam às urnas para escolher seus candidatos —como prática da democracia no país. “Democracia não é estorvo, aliás, eleição não é estorvo, eleição não é velório, eleição não é peso, eleição é alegria, é um canto, é uma dança, é uma celebração da democracia, então que encaremos essa eleição assim, descon-traidamente, com júbilo até pela honra de participar de um processo democrático de constituição do poder político.” Britto defendeu responsabilidade para todos os eleitores no momento da escolha de seus candidatos. “É uma responsabilidade muito grande na seletividade no critério de seleção dos candidatos. Um belíssimo critério para votar: um candidato honesto. Um belíssimo critério para o eleitor não votar: um candidato que compra voto. Não votem em quem compra voto”, afirmou. (Por Carolina Parada)
Fonte: Tribuna da Bahia

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