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terça-feira, outubro 28, 2008

A FEIRA DA “DEMOCRACIA”

Laerte Braga “Vendam seus candidatos como o mundo dos negócios vende seus produtos”. Leonard Hall, presidente do Partido Republicano (EUA), em 1956. “A política, tal como o espetáculo, tem os seus maquinistas. Para plantar cenários e ajustar as trucagens. Pertencem esses técnicos a um ramo em pleno desenvolvimento: a indústria da persuasão. Para não dizer a indústria do espetáculo político” (“O Estado do Espetáculo Político”, Roger Gerard Schwartzenberg, DIFEL, Rio de Janeiro, 1978). A exceção do candidato Leonardo Quintão, do PMDB de Minas e candidato derrotado a prefeito de Belo Horizonte, a totalidade dos que sobram apresentou-se ao distinto eleitor como produto da “indústria da persuasão”. Quintão chegou a ter 14 pontos percentuais de vantagem sobre Márcio Lacerda e resolveu jogar tudo para o espaço transformando sua campanha num espetáculo histriônico. O eleitor ainda não absorveu esse tipo de campanha. Prefere o sabão em pó que sugere lavar mais branco. Lacerda se mostrou assim. Não sei porque, mas tenho a sensação que o inconsciente de Quintão levou-o a uma série de palhaçadas (nada contra palhaços, se fosse não teria perdido) ao constatar que a Prefeitura de BH é maior que ele e o estrago seria inimaginável, mas ciclópico, caso vencesse. Como Gabeira que ao perceber que perdeu me deu a sensação que respirou aliviado diante da perspectiva de assumir alguma responsabilidade que não show. Impressiona também a quantidade de análises de cientistas políticos sobre quem ganhou e quem perdeu e quem vai ser ou quem vai deixar de ser. Richard Nixon era vice-presidente dos Estados Unidos em 1960. Concorreu à presidência contra John Kennedy. Perdeu por menos de 0,5% dos votos. Dois anos depois candidatou-se ao governo da Califórnia e foi derrotado. Analistas deram-no como morto politicamente. Ressuscitou em 1968 derrotando outro vice-presidente, Hubert Horatio Humphreys, um dos mais respeitados políticos norte-americanos. E já era chamado de “Nixon tramp”, “Nixon vigarista”. Tudo conseqüência do célebre cartaz de John Kennedy espalhado por todo o território do país com o retrato de Nixon e a pergunta: “você compraria um carro usado deste homem?”. Pois compraram em 1968 e tornaram a comprar em 1972, até que foi varrido do governo pelo escândalo de Watergate. O candidato produto tem a tarefa de conquistar um eleitorado/mercado e provocar “votos-compras” (Schwartzenberg). Ou como afirmou Jean Claude Boulet, presidente do Young Rublicam France: “o produto passa a ser o candidato. Sua embalagem é seu aspecto físico, sua maneira de falar, de sorrir, de mexer. Sua definição, seu posicionamento é seu programa. Da mesma forma é quase possível assimilar os partidos a marcas. E a filiação a um partido assemelha-se à fidelidade a uma marca comercial”. Tente imaginar que seria possível espremer o candidato eleito prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes à busca de algum caldo de idéia sobre algo que diga respeito à cidade que não os chavões ditados pelos marqueteiros. Sai nada, igual laranja seca. Sem caldo. Ou Kassab, o prefeito reeleito de São Paulo. Ou Bejani de volta a Juiz de Fora na forma erudita de Custódio Matos. Veja o caso de Salvador onde o governador Jacques Wagner jogou para o alto interesses partidários preocupado com sua reeleição em 2010 e juntou adversários históricos, inclusive de insultos e ofensas, como ACM Neto e o ministro Geddel Vieira. Produtos são só negócios, nada além de negócios. Xingar a mãe hoje se resolve com um pedido de desculpas á frente, quando for de conveniência mútua e quando estiver em jogo o interesse maior do clube de amigos e inimigos cordiais em que se transformaram as instituições ditas democráticas. A convergência desse show tem seu ato final. A contagem de votos e os resultados quase que num programa de auditório com júri para analisar, claque para bater palmas e um monte de infográficos, a nova mania da mídia para exibir a fantástica tecnologia do nada. Tanto faz que seja resultado de eleições, ou previsão de tempo para saber se vai dar praia. No fundo do palco os que mexem as cordinhas preparando o maior de todos os calotes contra o eleitor/cidadão. A transferência das contas de empresas privadas, bancos e latifúndios para o dinheirinho público suado e pago pelo eleitor/cidadão. E com a recomendação que ninguém entre em pânico que ninguém vai quebrar, que estamos todos blindados. É evidente, vem aí o Natal, logo o reveillon, o carnaval e o País que antes começava a funcionar após o tríduo momesco (epa!) pára para ver e ouvir o Big Brother Brasil. Em 1939 Ernest Dichther ganhou a conta publicitária do sabão IVORY. Mandou fazer um estudo sobre o perfil do consumidor e chegou à seguinte conclusão: “o sabão não era avaliado tanto pelo preço, pela aparência, pela espuma ou pela cor e sim pelo conjunto dessas qualidades somadas a outra, imponderável e quase evanescente e que eu denominei “personalidade do sabão”. Vale dizer que tirar manchas é irrelevante, importante é fazer crer que tira manchas. E não jogue na água, aí derrete. Terminou ontem mais uma edição da Feira da Democracia. Com o espocar de foguetes e um monte de erros dos institutos de pesquisa. Esses precisam reexaminar as “metodologias”. Nos últimos tempos estão jogando na defesa, não gostam de colocar os pés em divididas. Estão apostando nas margens de erros. De qualquer forma colaram como marcas. Têm um stand assegurado na Feira. Já recolheram as barracas. Não serão guardadas em pastas. O show daqui a dois anos tem outros atrativos. Só as bolas, como sempre, foram encaçapadas. Nesse caso nem propriamente encaçapadas. Mas aquele negócio de barraca de parque de diversões que o incauto compra dez argolas e tenta encaixar uma para ganhar uma garrafa de vinho de quinta categoria. Não ganha nada. Paga. E costuma dividir a mesa do almoço com o algoz. Feliz e sorridente. Na feira agora é hora de contar a féria.

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