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domingo, junho 01, 2008

CPI dos Cartões revela novo ‘falso homem-bomba’ do PT

Ex-secretário da Casa Civil é apenas mais um cercado pela ‘operação abafa’


BRASÍLIA - O encerramento da CPI dos Cartões nesta semana, com um relatório que poupa a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, não sugere nenhum indiciamento e joga toda a responsabilidade pelo dossiê com gastos exóticos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre José Aparecido Nunes Pires – o ex-secretário de Controle Interno que disse ter deixado vazar o documento por engano – é mais um episódio que retrata o fenômeno dos falsos homens-bomba do PT.
Aparecido, Waldomiro Diniz, Delúbio Soares, Silvinho Pereira, Jorge Lorenzetti, Freud Godoy e muitos outros emergiram no cenário da política tratada como polícia, todos foram personagens centrais em escândalos e todos foram cercados com “operações abafa” que os levaram a proteger o governo e a serem protegidos por ele. Olhando Aparecido na TV do Senado, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) – o único homem-bomba do governo Lula – deu um diagnóstico irônico.
“Como todas as outras, essa bomba já chegou ao Congresso desativada”, disse Jefferson à reportagem, referindo-se ao fato de Aparecido ser a peça-chave no vazamento do dossiê com as despesas de Fernando Henrique, mas se negar a entregar a operação deflagrada na Casa Civil sob promessa de que será poupado na sindicância interna e no inquérito da Polícia Federal, o que facilita a retomada do emprego efetivo que tem, como funcionário de carreira, no Tribunal de Contas da União (TCU).
O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), ex-petista, destaca não só a “capacidade de cooptação do governo”, mas também a saída recorrente que todos os falsos homens-bomba usam: “Em tom pós-socrático, eles repetem à exaustão o ‘só sei que nada sei’”. Nesses termos, conclui o deputado, as bombas petistas vão sendo convertidas em “foguetórios de má qualidade, que dão chabu o tempo todo”. Alencar aposta que, dentro em breve, o ex-funcionário da Casa Civil vai voltar para o TCU. “Será mais um ‘Zé desaparecido’ que confirma a trágica profecia de Delúbio Soares (ex-tesoureiro do PT que caiu no escândalo do mensalão), para quem um dia todos vão considerar tudo isso uma piada de salão”.
Aparecido vai ser tratado como se tivesse cometido apenas uma infração administrativa. “Por um descuido”, ele disse à CPI, anexou o dossiê a um e-mail enviado a André Fernandes, assessor do senador tucano Álvaro Dias (PR). Virgílio conclui que o silêncio tem sido “muito bem amparado por um Estado coronelista, que não deixa homem-bomba algum em dificuldade”.
***
Lista foi aberta por Waldomiro Diniz
A lista dos falsos homens-bomba foi aberta, em 2004, pelo assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, flagrado, em imagens gravadas por um circuito interno de TV, pedindo propina a um bicheiro. Protagonista do escândalo do mensalão, Roberto Jefferson, presidente do PTB, foi o único a detonar seu potencial explosivo. Não implicou diretamente o presidente Lula no escândalo, mas provocou a mais grave crise de seu governo. E, se por um lado teve seu mandato cassado, por outro arrastou consigo o ex-ministro José Dirceu – na época o petista mais poderoso da Esplanada dos Ministérios – e também líderes e dirigentes dos partidos da base aliada.
Além de Dirceu, as denúncias de Jefferson derrubaram o então presidente do PT, José Genoino, e toda a cúpula petista. A assessoria de Dirceu na Casa Civil foi dizimada. Além disso, só em Furnas Centrais Elétricas três diretores caíram, acusados de desviar recursos da empresa para campanhas petistas. Em meio à série de suspeitos de receber e pagar mesada de cerca de R$30 mil, o presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), acabou cassado pela Câmara por quebra de decoro.
Aos deputados que temiam o forte risco de degola no julgamento em plenário, como o então líder do PL (hoje PR), Valdemar Costa Neto (SP), sobrou a alternativa da renúncia. As bombas petistas, que faziam política com Jefferson, não detonaram. Todas foram sucessivamente desativadas pelo Planalto, numa política que se mantém ativa nestes cinco anos e meio de governo. “A mim me propuseram o silêncio com algumas garantias”, recorda Jefferson. (AE)
Fonte: Correio da Bahia

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