Paulo Renato, hoje deputado federal, disse que não sabia que cartão não poderia ser usado
BRASÍLIA - Levantamento feito pelo senador João Pedro (PT-AM) detectou irregularidades na prestação de contas do ex-ministro da Educação do governo Fernando Henrique e hoje deputado Paulo Renato (PSDB-SP). Notas fiscais enviadas à CPI Mista dos Cartões Corporativos e apresentadas ontem pelo petista mostram que, em março e em setembro de 2001, Paulo Renato usou recursos públicos - da conta tipo B - para pagar a sua hospedagem e de Carla Grasso, na época sua namorada e atualmente sua mulher, em hotel em São Paulo e em Minas Gerais.
Segundo levantamento do senador, foram R$ 2.153,10 no hotel Sheraton Mofarrej, em São Paulo, durante o feriado de 7 de setembro de 2001, e R$ 562,30 entre o dia 10 e 11 de março de 2002 no Ouro Minas Palace Hotel. A legislação proíbe que ministros paguem despesas de hospedagem e alimentação para terceiros. Flagrado por comprar uma tapioca com cartão corporativo, o atual ministro do Esporte, Orlando Silva, também pagou diárias para sua mulher, filha e uma babá, em um hotel quatro estrelas de Copacabana, no Rio de Janeiro, onde esteve hospedado em um final de semana.
No levantamento feito por João Pedro, um dos integrantes da CPI Mista dos Cartões Corporativos, também foi detectado o uso pelo ex-ministro tucano de uma mesma locadora de veículos - a LCM Transportes - no Rio de Janeiro. As notas fiscais apresentadas entre janeiro de 2001 e agosto de 2002 têm número de série praticamente seqüencial e somam, nesse período, gastos de cerca de R$ 25 mil com o aluguel de carros no Rio.
Além disso, entre janeiro e dezembro de 2001, Paulo Renato foi 37 vezes ao Rio de Janeiro. "Se tudo isso não ficar bem esclarecido, não descarto a possibilidade de convocar o ex-ministro para depor na CPI e esclarecer esses fatos", afirmou João Pedro.
Em nota oficial, o ex-ministro Paulo Renato rebateu as acusações do petista: "O nome da senhora Carla Grasso, hoje vice-presidente da companhia Vale, consta em duas notas de hotel por ser minha esposa." A assessoria do tucano explicou que Paulo Renato não sabia ser proibido o pagamento de despesas de hospedagem e alimentação para terceiros.
Na nota, o tucano alegou que, "na questão dos aluguéis de carros, não há similaridade com os gastos efetuados por meio de cartões corporativos pelos ministros do atual governo". "A empresa LCM era paga segundo normas vigentes no Ministério da Educação e continuou a ser utilizada após o término da minha gestão em 2002", afirmou Paulo Renato.
O ex-ministro tucano aproveitou para desafiar o senador petista e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a divulgarem seus gastos com recursos públicos. "Reitero meu compromisso com a transparência, bem como o meu desafio ao Presidente da República, aos seus ministros e ao Suplente de senador pelo PT do Amazonas, que me acusa, a tornarem públicos os seus gastos de representação", disse Paulo Renato, na nota divulgada.
Esta é a primeira vez que parlamentares da base aliada contra-atacam publicamente a oposição, mostrando gastos supostamente irregulares de ex-ministros do governo de Fernando Henrique. João Pedro admitiu que a divulgação dos gastos de Paulo Renato é "uma resposta ao governo do PSDB, que utilizou principalmente a conta tipo B sem nenhum critério e sem observar as regras estabelecidas".
Desde que a CPI dos Cartões começou, em meados do março, a oposição tem se empenhado em vasculhar contas do atual governo e mostrar gastos irregulares de ministros do governo petista.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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