ASSUNÇÃO - O ex-bispo católico Fernando Lugo, presidente eleito do Paraguai, disse ontem a um pequeno grupo de jornalistas brasileiros que "a primeira medida sobre o caso de Itaipu será formar uma equipe técnica" para analisar o preço real da energia produzida pela hidrelétrica binacional.
Lugo quer que o governo brasileiro aceite antecipar a revisão do Tratado de Itaipu (marcada para 2023) para negociar uma tarifa mais elevada para a energia elétrica que o Paraguai vende ao Brasil.
"Lula mostrou-se disposto a isso", sustentou, se referindo à reunião que teve com o presidente em Brasília recentemente. "Ele diz que em muitos casos, nem seus técnicos coincidem sobre os números."
Segundo Lugo, eleito domingo com 40,82% dos votos, "queremos a chance de sentar à mesa, com diversidade de opiniões, e falar sobre o tratado de Itaipu, a administração, a transferência de energia, e definir o que é um 'preço justo' e o que é preço de mercado".
O presidente eleito, sem definir prazos, afirmou: "Esperamos que isso possa ser o mais rápido possível". Lugo descartou que as divergências paraguaias com o Brasil sobre Itaipu pudessem levar a uma crise como a ocorrida recentemente entre o governo da Bolívia e a Petrobras.
"Acho que é muito diferente. Nós temos um tratado binacional. E a Bolívia tinha um contrato com uma empresa. Isso marca uma diferença. No nosso caso, a conversa é de Estado para Estado. Vamos buscar um consenso que seja bom para os dois países."
Segundo ele, "esperar até 2023 (data prevista para a revisão do acordo de Itaipu) não é algo que convenha aos paraguaios". Lugo disse que descarta apelar à Corte Internacional da Haia para resolver a controvérsia, em caso de impasse entre seu governo e o de Lula. "Se for o caso, esperamos resolver isso de forma local, talvez pedindo a mediação de um país da região."
No entanto, evitou especular qual país poderia eventualmente ser convocado a mediar. "Eu confio na racionalidade e na objetividade do governo brasileiro." Vários setores da sociedade paraguaia costumam criticar a política do Brasil em relação ao país, afirmando que os diversos governos brasileiros - e o empresariado - são "imperialistas" com o Paraguai. Mas, perguntado sobre o suposto "imperialismo brasileiro", Lugo rejeitou esse rótulo: "Não acho que seja assim".
Fonte: Tribuna da Imprensa
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