Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Desde a ida para casa do último general-presidente, João Figueiredo, que as forças armadas voltaram à condição de "o grande mudo". Seus oficiais superiores engolem sapos em posição de sentido, não se intrometem em assuntos políticos. Mantêm conduta exemplar, apesar da provocação de setores que ainda imaginam ter contas a ajustar.
Essa postura pode mudar, a ser verdadeira a informação de que o Itamaraty ofereceu-se para mediar o conflito entre o governo da Colômbia e as Farcs. Além de entrar na maior fria de sua até agora correta política externa, o presidente Lula estaria contribuindo para restabelecer prática extinta desde 1985, ou seja, a discordância militar diante de decisões de governo.
O chanceler Celso Amorim e o assessor especial Marco Aurélio Garcia sustentam a oportunidade de o Brasil afirmar sua liderança na América do Sul, ajudando a superar o impasse institucional verificado além de nossa fronteira Norte. Ignora-se a opinião do presidente Lula, ainda que conversas preliminares tenham acontecido entre os chanceleres de lá e os de cá.
Nossa tradição é de não interferir em assuntos internos de nenhum país, ainda mais quando, de um lado, encontra-se o governo colombiano democraticamente constituído, com o qual mantemos relações, e, de outro, bandos rebeldes bem armados.
E acusados de atividades não-castrenses, como ligações com o tráfico de drogas. Além de promoverem seqüestros, assaltos e assassinatos nas regiões sob seu domínio. Trata-se de uma questão política e até ideológica, porque mesmo companheiros empenhados em mudar o mundo não podem concordar com a adoção do crime como instrumento de mudança.
Hugo Chávez empenhou sua vasta megalomania nessa tarefa. Quebrou a cara, numa espécie de ensaio geral para a derrota no plebiscito do último domingo. Será que vamos imitá-lo, intrometendo-nos num confronto entre instituições democráticas e atividades criminosas?
Nessa hora, as forças armadas brasileiras não poderiam deixar de opinar, já que seriam mobilizadas para garantir a promoção desse estranho diálogo entre a lei e a antilei. As Farcs constituem um problema da economia interna colombiana. Ou dos tribunais daquele país. Deve ser acompanhado por nós, já que acontece no limite da fronteira brasileira, mais uma razão para nos mantermos vigilantes.
Já imaginaram uma delegação do Itamaraty entrando floresta a dentro para conferenciar com os rebeldes? Quem daria segurança aos representantes brasileiros, senão nossas forças armadas? Seria o contingente militar nacional obrigado a pedir licença aos revolucionários para acompanhar a ida de interlocutores para o lado de lá? Ou permitiríamos que as Farcs viessem para o lado de cá? Nossos militares seriam revistados, ou, pior ainda, proibidos de portar armas? Prestariam continência, os dois lados? Trata-se de detalhes, mas fundamentais para demonstrar a inviabilidade de um entendimento assim espúrio.
Racha no PT
Ricardo Berzoini vai para o segundo turno, na tentativa de reeleger-se presidente do PT. Uma frustração para ele e o grupo integrado por José Dirceu, Luiz Gushiken, João Paulo Cunha, José Genoíno e, certamente, Delúbio Soares, Silvinho e até Marcos Valério.
É evidente que Berzoini nada tem a ver com a quadrilha cujos integrantes estão, hoje, transformados em réus perante o Supremo Tribunal Federal. Pelo contrário, chegou à presidência do partido como reação à lambança promovida por seus antecessores. No entanto, aceitou o apoio deles, para permanecer no cargo. Pode estar aí a razão de não haver conseguido a metade mais um dos votos petistas nas eleições internas da legenda.
A pergunta que se faz é se na segunda votação, prevista para daqui a duas semanas, Berzoini não colherá outra surpresa. Jilmar Tatto parece o seu adversário, realidade a confirmar nas próximas horas, quando completada a contagem final dos votos.
O presidente Lula apoiou a reeleição do companheiro-presidente, mas manteve-se discretamente à margem. Apenas votou. Mas não deixará de desgastar-se caso o PT, nessas novas eleições, decida antecipar o debate sobre a próxima sucessão presidencial.
O seu a seu dono
As coisas podem mudar de repente, como tantas vezes acontece na política, mas, continuando como vão, favorecem a candidatura de José Sarney à presidência do Senado. O ex-presidente é o nome que, além de contentar as diversas bancadas, ensejaria condições para a recuperação da imagem parlamentar junto à opinião pública. Além de tratar-se da melhor solução para o Palácio do Planalto.
Está por horas a decisão de Sarney, que para aceitar gostaria de receber um apelo unânime de seus colegas. Isso, não conseguirá, porque setores das oposições, infensos a qualquer arrefecimento dos ânimos, parecem prontos para contestar qualquer candidatura, inclusive a dele.
Mas vai demorar
Quando se fala em melhorar a imagem do Congresso, e abordando especificamente o Senado, tem-se a impressão de que vai demorar. Os senadores não colaboram. Mão Santa afasta-se todos os dias da ortodoxia parlamentar, mandando os companheiros prestarem atenção em suas palavras, desligarem os telefones celulares, acordarem, e até dando cartão vermelho a quem estiver dirigindo os trabalhos, caso não concedam tempo ilimitado para suas observações.
Mas Mão Santa apenas puxa uma fila de um grupo singular. Dias atrás assistiu-se a um debate sobre a excelência da calvície ou dos cabelos longos, entre Wellington Salgado e Flexa Ribeiro. O cabeludo homenageou o careca, depois, com a oferta de um boneco-tucano, gentileza retribuída em seguida com a entrega de um camaleão empalhado.
Cheias de simbolismo, não raro as discussões enveredam pelo supérfluo, como elogios à gravata vermelha de um ou aos bem-cortados ternos que outro passou a envergar. Até sobre a elegância e o charme das senadoras. Trata-se de intervenções singelas, inocentes, mas serão no mínimo de estranheza as reações de quem estiver colado nas transmissões da TV Senado.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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quinta-feira, dezembro 06, 2007
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