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quarta-feira, maio 24, 2006

O Bondoso senador

Por: Luiz Leitão ( O Rio Branco)

No novíssimo e inesperado escândalo nomeado operação Sanguessuga, desencadeada pela Polícia Federal, se sobressai a figura de um senador da República, Ney Suassuna (PMBD-PB), o mesmo que há meses ofendeu o povo português, numa estúpida declaração no congresso, que repercutiu lá fora, saindo nos jornais lusitanos e indignando a todos. Não me recordo dos termos, mas aconteceu.
Ney revela-se um raríssimo benfeitor ao declarar que doou, no mandato anterior, 82 ambulâncias do próprio bolso, o que daria, pelo preço médio de cada ambulância que foi informado pela Operação Sanguessuga, cerca de 80 mil, algo como R$ 6.560.000,00.
Revela-se o senador um homem desprendido, autêntico filantropo, e mais, extremamente rico. Certamente, sua excelência terá declarado tais donativos à Receita Federal.
Quanto a uma CPI das Sanguessugas, o governo é contra por certos motivos que não sabemos, mas desconfiamos, e a sociedade talvez seja contra por conta do pífio resultados das CPIs que precederam esta. Depois, como investigar congressistas se nada menos que 283 deles estão na lista - o que não significa que todos estejam de fato envolvidos -, mais da metade dos 513 deputados, além de um senador.
O esquema de corrupção é imenso, com cerca de 25 empresas, muitas de fachada, envolvidas, sendo que um só fornecedor vendeu centenas de ambulâncias à família Vedoin, que comandava o esquema com a cobertura de deputados e assessores parlamentares, estes encarregados de aliciar novas prefeituras.
Veja o leitor se concorda comigo: um CPI será mera peça eleitoreira, com seus integrantes ganhando propaganda eleitoral televisiva gratuita, como aconteceu com as passadas. Além disso, todos que vão depor o fazem cobertos por habeas corpus, não contribuindo em nada com o esclarecimento dos fatos. Não fossem esse salvo-condutos do Supremo Tribunal Federal, que, aliás, agraciou também o réu João Arcanjo, o comendador, acusado do assassínio do jornalista Domingos Sávio Brandão, da Folha do Estado (MT).
Sendo assim, se só o pessoal do andar de baixo é punido, mais vale fazer as investigações por meio das polícias Federal e Civil e do Ministério Público, pois se gasta menos, vai-se direto ao assunto e no meio das apurações sempre sai uma ou outra revelação que pode vir a implicar a "deputança". Aí, remete-se as informações ao Supremo, em forma de denúncia do MP, e o tribunal que julgue como manda a lei, e não a política.
Cabe lembrar que prefeitos não têm foro privilegiado no Supremo. Como há pelo menos 70 deles envolvidos, há muito leite que tirar desta pedra. Não é possível que um inquérito bem conduzido, quem sabe até com o emprego da delação premiada, não seja um atalho para se chegar aos responsáveis maiores por esta bandalheira. Além do quê, mais barato que uma estrondosa CPI.
As investigações podem envolver vários órgãos, que, trabalhando em sintonia, haverão, sim, de produzir resultados substanciosos. Começando pela Receita Federal, que poderá verificar se o senador Suassuna tinha condições financeiras para doar 82 ambulâncias e se informou o fato em sua declaração de rendimentos. Depois, há o COAF - Conselho de Controle de Atividades Financeiras (será que ele investiga senadores?) e, como disse antes, as polícias e os ministérios públicos federal e estaduais. Não é pouca coisa, há fartos meios de se chegar à verdade, mesmo com o Supremo remando contra.
Então, pra quê CPI?

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