Por: Tribuna da Imprensa
Bispos reunidos em Itaici pedem que eleitores façam uma boa renovação do Congresso
INDAIATUBA (SP) - O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Geraldo Majella Agnelo, disse ontem que o Congresso Nacional precisa ser "bem renovado, sem dúvida alguma" e criticou "tudo o que não é ganho com seu suor", inclusive políticas assistencialistas. "A hora é do cidadão. A sociedade precisa assumir esse papel", acrescentou o secretário-geral da CNBB, dom Odilo Pedro Scherer.
A CNBB encerrou ontem a 44ª Assembléia Geral, na Casa de Retiros de Itaici, em Indaiatuba. A corrupção foi um dos assuntos mais comentados durante o evento. Os bispos condenaram políticos oportunistas, que atuam em benefício próprio, e a busca "do poder pelo poder". Lamentaram a pizza do mensalão e convocaram os eleitores a escolher muito bem seus candidatos.
A CNBB preferiu não indicar nomes, mas sugeriu reflexão. "É preciso ver os que estão aí. O que eles fizeram? Agiram corretamente sempre? Quem foram os corruptores e os corrompidos? Em princípio, não somos contra ninguém. Somos contra os corruptos", defendeu d. Geraldo.
Segundo um religioso, entre os bispos há várias tendências políticas. Ele comentou que a Igreja chegou a divulgar uma lista de votáveis na década de 30, quando a CNBB ainda não existia, mas a experiência não foi bem sucedida. Para o cardeal, indicar candidatos não é função da CNBB.
D. Geraldo defendeu, porém, que o Congresso Nacional precisa ser "bem renovado" porque não há "uma avaliação positiva a respeito dos seus representantes" atuais. Otimista, afirmou que o "Brasil vai para frente, mesmo quando os políticos não favorecem". E disse que a criação de postos de trabalho deve ser uma meta dos governos eleitos. De acordo com o cardeal, a economia deve ser organizada de "tal modo, que crie trabalho". Alegou que trabalhar "dignifica o homem, mais que receber sem fazer nada".
Questionado se estava se referindo também a projetos como o Bolsa Família, respondeu que "tudo o que não é ganho com seu suor, não é promoção". D. Geraldo comentou que a CNBB recebeu com "cordialidade" a manifestação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em carta encaminhada aos bispos no primeiro dia da Assembléia. "Constatamos que ele tem interesse pelos mais pobres, está preocupado com fome e desemprego. Mas pedimos que não fique só no que foi colocado", convocou.
A CNBB tem insistido no papel do eleitor para reverter a "corrupção endêmica" brasileira. Produziu uma cartilha com orientações éticas, que começou a ser distribuída no mês passado, e divulgou terça-feira um documento em que cobra essa responsabilidade do eleitor, por meio de escolhas também pautadas pela ética pública. "Corruptos e corruptores andam juntos", alertou o secretário-geral da CNBB.
D. Geraldo defendeu que o cidadão precisa ter consciência de sua cidadania ao escolher o candidato. "O eleitor não pode votar por paixão, simplesmente. Precisa estar atento ao que lhe propõem. Não ficar chafurdando nas coisas mais execráveis, mas cobrar o que eles têm a dizer", disse d. Odilo.
O vice-presidente da CNBB, dom Antônio Celso de Queiroz, argumentou que a "vida política brasileira está fragilizada" e "falta sentido de responsabilidade". "Em qualquer pleito eleitoral, saem coisas da velha e do arco da velha. Isso é sinal de fragilidade, notamos muito isso. A imprensa publica fatos sem credibilidade", acusou.
O presidente da CNBB afirmou que, além de escolher o candidato pela ética, o eleitor deve se organizar e cobrar uma boa atuação dos políticos eleitos. O cardeal exigiu a aplicação da Lei 9.840 (contra a compra de votos e uso da máquina pública) e afirmou que ela não pode ser "aliviada ou diminuída para favorecer alguns que não podiam e não deviam ser eleitos".
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