Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Pois é. Nossa economia é sólida, a crise não nos atinge, o aperto será muito pequeno, o mercado interno e a balança comercial nos dão sustentação. Quem repete isso é o presidente Lula. Se formos ouvir o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central, as exortações de otimismo serão maiores ainda.
Esta semana a queda na Bovespa beirou os 14 pontos, o dólar chegou a dois reais. Está todo mundo apavorado, ainda que os investimentos estrangeiros estejam deixando o País em velocidade igual à que gostaríamos praticasse o Felipe Massa.
Não depende de nós decidirmos sobre a crise americana, apesar das lições dadas ao presidente George W. Bush pelo presidente Lula. Os 200 bilhões de dólares de nossas reservas lá fora podem virar fumaça em pouco tempo. Livram-se apenas os especuladores. Por que os investidores nacionais, especialmente os pequenos, deixarão de seguir o exemplo dos estrangeiros, retirando-se da ciranda cada vez mais estreita? Se a inflação volta a assustar, a conseqüência será uma corrida aos bancos para aquisição de valores concretos.
Nada tivemos a ver com a lambança hipotecária nos Estados Unidos, nem com a irresponsabilidade de seus bancos, mas como seguimos o mesmo modelo econômico dos gringos, só resta rezar para que consigam superar a crise. Caso contrário, nem vale dizer que ela chegará aqui, porque já chegou.
A grande incógnita
O presidente Lula alcançou o patamar de 80% de popularidade. Isso significa que se fosse disputar, hoje, um novo mandato, seria eleito por aclamação. Não há que discutir com os fatos nem contestar os números. Muito mais do que nas pesquisas, está no ar que a gente respira.
A pergunta que se faz, no entanto, é se o presidente conseguirá transferir seus votos para quem indicar para ocupar seu lugar, daqui a dois anos. Trata-se da grande incógnita, capaz de definir o futuro do país, não adiantando pensar no longínquo 2014, quando o Lula poderia voltar. Juscelino Kubitschek pensava mais ou menos assim quando em 1961 iniciou a campanha do JK-65. A vida costuma ser bem mais complicada do que os sonhos.
Por essas razões, esta semana, cresceu entre os aliados do governo, do PT ao PMDB, a tentação da proposta continuísta: para que arriscar a perda do poder diante do desconhecido, se o resultado de uma terceira eleição é conhecido de todos?
Até agora, joga-se o faz-de-conta. A candidata deve ser Dilma Rousseff, a transferência de votos será natural e, na hora certa, a chefe da Casa Civil emergirá nas pesquisas. Pode ser, mas tudo indica que não.
Nem haverá necessidade de se promover um plebiscito. Muito menos se duvidará da flexibilidade do Congresso em alterar a Constituição, aliás, já alterada para permitir a Fernando Henrique Cardoso um segundo mandato subseqüente ao primeiro. Por que não um terceiro para o Lula?
Trata-se de um golpe de estado, de abominável manobra em condições de destruir as bases do regime democrático já abalado pelo sociólogo. Naqueles idos, foram as elites a patrocinar a execrável mudança. Agora, somam-se as massas.
Denominador comum
Qual o denominador comum a unir Tarso Genro, Paulo Bernardo, Guido Mantega, Carlos Minc e Helio Costa, entre outros? É que poderão deixar de serem ministros, quando 2009 começar...
De novo o café com leite
Uma vez assentada a poeira das eleições de domingo e com a chegada do fim do ano, o tempo será de projeções em tempo integral a respeito da sucessão presidencial de 2010. Engana-se quem supuser o governador José Serra preocupado demais com a escolha do novo prefeito de São Paulo. Gostaria de Gilberto Kassab, mas não ficaria abalado demais com a vitória de Geraldo Alckmin ou Marta Suplicy, porque ambos dependerão dele para uma boa administração na capital. O que preocupa o governador é a composição de sua chapa na disputa pelo palácio do Planalto.
A costura precisará ser lenta e delicada no PSDB, mas o candidato dos sonhos de Serra para a vice-presidência é Aécio Neves. Até agora, e por mais algum tempo, o governador mineiro negará de pés juntos, candidato que é à presidência da República. Mas como já perdeu a chance de mudar de partido, bandeando-se para o PMDB, de onde poderia sair para disputar a presidência, fica o Aécinho diante de opção fácil de ser resolvida: senador ou vice-presidente da República?
Sua eleição para o Senado aconteceria mesmo se permanecesse em Ipanema durante toda a campanha. Mas ao aceitar a vice-presidência estaria reforçando de tal maneira à possibilidade de os tucanos voltarem ao poder que até Dilma Rousseff pensaria duas vezes antes de se lançar.
A dupla Serra-Aécio só perderia as eleições se tivesse que enfrentar a candidatura do presidente Lula a um terceiro mandato.
Será por admitir a aliança com Serra que lá no recôndito de seus pensamentos o governador mineiro anda freqüentando em ritmo crescente os estados do Nordeste, empenhando-se na eleição de tucanos e aliados para as prefeituras?
Jobim em ascensão?
Da tão falada e especulada conversa do presidente Lula com o deputado Michel Temer, mais um rumor ganha os corredores do palácio do Planalto: abriu-se a possibilidade de o PMDB indicar o candidato à vice-presidência na chapa encabeçada por Dilma Rousseff. Nem se discutiu a hipótese do terceiro mandato, mas, mesmo no caso dessa aberração, o resultado seria o mesmo: um peemedebista para vice.
Quem? Michel Temer tem consciência de seus limites e pretende eleger-se presidente da Câmara no biênio 2009-2010, abrindo-se a possibilidade de repetir a dose em 2011-2012, por tratar-se de outra Legislatura. Dificilmente permitiria que seu nome fosse levantado.
Assim, num exame preliminar do leque de opções, certamente abordado, mas secreto, um pré-candidato teria emergido: o ministro Nelson Jobim, de tradição no partido, da mais estreita confiança do presidente Lula, que não morre de amores pelo outro nome cogitado, o governador Roberto Requião, do Paraná.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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