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domingo, março 02, 2025

Vai passar o bloco do 'Punhal Verde-Amarelo'

 Publicado em 02/03/2025 às 08:00

Alterado em 02/03/2025 às 08:07

Governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (de cinza) com entusiastas do golpe: evasivas para inocentar Bolsonaro Foto: Divulgação/PL

É tempo de Carnaval. Por isso, peço licença para começar a coluna evocando a seminal “Ô Abre Alas!”, de Chiquinha Gonzaga, que dizia assim: “Ô Abre alas que eu quero passar”; “peço licença para desabafar”, e trocava-se a tristeza pela euforia do “Evoé Momo”. Mais recentemente, nos idos de 1984, o genial Francisco Buarque de Holanda, com a sua espetacular “Vai Passar”, prenunciava o fim dos 21 anos de ditadura e censura, com a redemocratização, em 1985. Dizia Chico: “Vai passar; Nessa avenida um samba popular; Cada paralelepípedo da velha cidade; Essa noite vai se arrepiar; Ao lembrar; Que aqui passaram sambas imortais; Que aqui sangraram pelos nossos pés; Que aqui sambaram nossos ancestrais. Num tempo; Página infeliz da nossa história; Passagem desbotada na memória; Das nossas novas gerações. Dormia; A nossa pátria-mãe tão distraída; Sem perceber que era subtraída; Em tenebrosas transações. Seus filhos; Erravam cegos pelo continente; Levavam pedras feito penitentes; Erguendo estranhas catedrais. E um dia, afinal; Tinham direito a uma alegria fugaz; Uma ofegante epidemia; Que se chamava carnaval; O carnaval, o carnaval; (Vai passar); Palmas pra ala dos Barões famintos; O bloco dos Napoleões retintos; E os pigmeus do boulevard; Meu Deus, vem olhar; Vem ver de perto uma cidade a cantar; A evolução da liberdade; Até o dia clarear. Ai, que vida boa, olerê; Ai, que vida boa, olará; O estandarte do sanatório geral vai passar”.

Mas, infelizmente, tem gente que não se emenda. Não aceita a derrota nem se conforma com a alegria geral.

Por isso, tenho de falar do Bloco do “Punhal Verde-Amarelo”, um grupo de 34 caturros, liderados pelo caturro-mor Jair Messias Bolsonaro. Todos vão passar os dias de folia reclusos, trocando informações com seus advogados porque os prazos de defesa de 15 dias concedidos a cada indiciado pelo Supremo Tribunal Federal estão se esgotando. O “dead line” para a maioria é a quinta-feira, 6 de março, pois o relator do processo no STF, o ministro Alexandre de Moraes, não aceitou as manobras protelatórias dos advogados que pediam até 83 dias para a entrega do memorial da defesa. E, muito menos prosperou a chicana de tentar invalidar a presença, entre os cinco juízes na 1ª turma do STF, dos ministros Flávio Dino e Cristiano Zanin, por terem ambos, em algum momento, agido (fora do STF) contra Bolsonaro. Antes já tinha naufragado a tentativa de impugnar Moraes e levar o julgamento ao Plenário dos 11 juízes.

Bolsonaro, como líder do Bloco, coadjuvado pelo seu ex-companheiro de chapa, general Walter Braga Neto, pelo general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), integrar o abre-alas do Bloco com paetês verde-amarelo, mas, qual os velhos malandros de outrora, que levavam navalhas escondidas nas pernas finas das calças, escondiam punhais, adagas, fuzis e baionetas, pistolas (Magnun e Glock) e metralhadoras de alto poder letal. Sim, a morte fazia parte do enredo. Por um triz, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro do STF Alexandre de Moraes, não foi executado no plano.

Por isso, Bolsonaro&cia são acusados de cinco crimes: organização criminosa; golpe de Estado; abolição violenta do Estado de Direito; dano contra o patrimônio da União e deterioração do patrimônio tombado, tudo para manter-se no poder mesmo depois da derrota nas urnas para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2022. A denúncia da Procuradoria Geral da República, comandada por Paulo Gonet, teve como base o relatório produzido pela Polícia Federal em 2023 e 2024 e encampado pela PGR.

Mas ao ser entrevistado, após ato público na terça-feira, 25 de fevereiro, em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, o governador de São Paulo, o carioca Tarcísio de Freitas, que era ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro e foi por ele indicado para concorrer ao governo paulista pelo Republicanos, em 2022, saiu-se com uma série de evasivas, procurando desconstruir a gravidade das acusações contra o ex-presidente, tachadas como “revanchismo”, “vulgarização” e “forçação de barra” “sem sentido nenhum”. Tarcísio minimizou a acusação do PGR e disse que “não há nada” contra Bolsonaro. Mais adiante repisou: “Vamos para aquilo que é importante em termos de se pensar em denúncia ou condenação de alguém. Vamos para as evidências. Nada do que é apresentado tem, mostra alguma conexão, alguma relação”, afirmou. “Então realmente é, está se criando uma maneira de se responsabilizar pessoas que não têm responsabilidade”, disse o governador.

Diante da reação de mídia à manobra de considerar o inelegível irresponsável pelo rol de denúncias da escalada para o golpe, que começou com a tentativa de descrédito das urnas eletrônicas que elegeram Bolsonaro em 2018 e Lula e Tarcísio em 2022, o governador, aconselhado por sua assessoria de comunicação, suprimiu todas as declarações sobre as denúncias da PGR no release distribuído à tarde à imprensa. Já era tarde. O estrago da pisada de bola do governador e um dos virtuais candidatos em 2026, diante da inelegibilidade de Jair Messias Bolsonaro, estava devidamente registrado. No próximo carnaval, é possível que muitos dos 34 indiciados estejam fantasiados de presidiários, e a campanha de 2026 deve ter vários nomes desfilando para ganhar aplausos (ou vaias) na Avenida.

A rivalidade do Carnaval Rio X Bahia

Os carnavais da Bahia e de Pernambuco (Olinda e Recife) sempre foram considerados, na minha casa, como em condições de competir, em animação, com o carioca. Tínhamos uma tia, irmã de minha mãe (paraenses ambas), que morava em Recife, e os primos, além de contar as delícias dos corsos, atraíram meus irmãos mais velhos para conhecer a folia “in loco”. Salgueirense desde guri, fui atraído pelas roupas dos figurantes que embarcavam de bonde em frente à casa de uma tia que morava na General Roca, na Tijuca, entre a Praça Saens Pena e a subida do morro. Mais tarde, com primo que morava perto da sede da Maxwell, em Vila Isabel, frequentava os ensaios e desfilamos na ala dos estudantes. Com a função de dono de sítio, desde fins de 1978, o período de Carnaval era usado para relaxar e tomar providências na roça.

Minha mulher, Márcia, era carnavalesca. Desfilou algumas vezes na União da Ilha, na Mangueira, Unidos da Tijuca, São Clemente e Beija-Flor. Seu sonho é encerrar a carreira no Sambódromo numa ala das baianas. Quando a conheci, lá se vão mais de 15 anos, era uma das foliãs-fundadoras do bloco feminino “Vem ni mim que sou Facinha”, de Ipanema. O bloco, que era parado (frequentava bem antes de conhecê-la) numa das esquinas da Praça General Osório, foi atropelado pelo gigantismo da presença de público de vários pontos do Grande Rio que descia do metrô na praça. A escala dos blocos acabou com a graça de muitos deles, que era brincadeira de amigos da rua e do bairro. O envelhecimento dos participantes – sem renovação das novas gerações - liquidou várias gostosas iniciativas do passado. Este ano, deram os passos finais o “Suvaco de Cristo”, no Jardim Botânico, e o “Imprensa que Eu Gamo”, em Laranjeiras.

Mas sem tergiversações, um dos motivos para a mudança do trajeto (e de um pouco da graça do Suvaco, que subia a Rua Lopes Quintas, descia a Von Martius e seguia em direção ao Horto, foi a criação da GloboNews, em 1996. O Carnaval de 1998 foi o último a subir a ladeira. No ano seguinte, por pressão da Globo (um canal de notícias 24 horas precisa ter trânsito livre e a mão dupla na rua Pacheco Leão), o Suvaco, que desfilava sábado à tarde, passou a atravessar a rua Jardim Botânico no começo da manhã de domingo, para dispersão na praça Santos Dumont. Quando vejo a GloboNews completar 10 anos de cobertura de Carnaval com expansão nacional, sinto tratar-se de um “complexo de culpa”. Vou explicar, caso o caro leitor não saiba.

Quando Leonel Brizola comemorava a inauguração do Sambódromo, que substituía o “arma e desarma” de arquibancadas por uma estrutura sólida de concreto que abrigava sua obra mais orgulhosa – os CIEPs – sob as arquibancadas, houve um duro embate com a Globo. As cicatrizes do caso Proconsult (manipulação das eleições de 1982) não estavam fechadas, quando Brizola requereu horário na TV (RJ-TV) para louvar o sambódromo. Imaginava que ia desfilar para a apoteose. Qual o quê, no Jornal Nacional, o noticiário de alcance em todo país, veio uma pesada e extensa matéria apontando defeitos nas construções dos CIEPs e o estado deplorável de escolas estaduais na Baixada Fluminense e interior do estado. Brizola ficou furibundo e proibiu a Globo de transmitir o Carnaval, como ela  atualmente.

Quem fez a transmissão foi a TV Manchete. A Márcia, minha mulher, desfilou neste ano pela União da Ilha e, de repente, foi cercada por Darcy Ribeiro e Brizola na avenida. Susto maior foi ver seu filho mais velho de mãos dadas com Darcy Ribeiro e um chapéu do Banerj. Um álbum do Banerj tem as fotos. E ela sempre dizia ter sido “Garota do Plimplim”. Com meus contatos na GNews (saí de lá em 2001), tentei buscar as imagens para lhe dar de presente no aniversário, em setembro. Em vão. O CDOC não encontrou os registros. Simplesmente porque a transmissão era na Manchete, mas a força do “Plimplim” era maior, na imaginação da Márcia.

E aqui vai um bastidor. Privada da transmissão do Carnaval do Rio de Janeiro, a Globo, que tinha retransmissora própria em Recife, se juntou a Antônio Carlos Magalhães, concessionário da Globo na Bahia, para uma transmissão privada e concorrente do Carnaval de Olinda e Recife e de Salvador. Francisco José (em Olinda e Recife) e José Raimundo (então na TV Bahia) alternavam a transmissão nos três dias de Carnaval, cada vez mais inflando a presença de foliões. Chico José chegou ao cúmulo (anos depois) a dizer que o bloco “Galo da Madrugada” arrastava 2,5 milhões de pessoas. Absurdo total, pois teria de botar as populações de Olinda e Recife nas ruas e mais 700 mil pessoas. Mas o marketing pegou, sobretudo na Bahia. No Rio, o Cordão da Bola Preta cismou de ter 2,5 milhões de foliões (outro disparate).

Agora, pelo andar da carruagem, o Carnaval de rua de São Paulo (assim com o desfile GBLT), pelo tamanho da população da Grande São Paulo X o Grande Rio, já é mais animado e dinâmico do que o carioca, vão dizer que o Carnaval de São Paulo é superior ao do Rio.

Espero que não comparem os desfiles no sambódromo..

https://www.jb.com.br/colunistas/coisas-da-politica/2025/03/1054534-vai-passar-o-bloco-do-punhal-verde-amarelo.html

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