Cacciola disse que confia na Justiça mas reclamou por ser o único preso do caso Marka
"Errei." A declaração é do ex-banqueiro Salvatore Cacciola, que chegou preso ontem de madrugada, sem algemas, à sede da Superintendência Regional da Polícia Federal (PF) no Rio. Sorridente, em rápida coletiva à imprensa, ele afirmou que nunca foi um foragido. A entrevista foi interrompida pelo superintendente da PF, Valdinho Jacinto Caetano, logo após a segunda pergunta.
Ao ser retirado da sala, em meio a um empurra-empurra de jornalistas, Cacciola respondeu a outras duas perguntas, antes de ser levado para o presídio Ary Franco, de onde deve ser transferido hoje para o presídio Bangu 8, na Zona Oeste.
"Foi uma falha ir para Mônaco, você acha que errou indo para lá?", indagou um repórter. "Errei. Você não teria ido (se fosse) hoje?" "Não".
Cacciola, condenado a 13 anos de prisão por desvio de dinheiro público e gestão fraudulenta, desembarcou no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio, de madrugada, por volta das 4h30, mas deixou o local sem qualquer contato com a imprensa. Seu advogado, Carlos Ely Eluf, caminhando apressado pelo saguão do aeroporto, declarava que a prisão teve "conotação política". "Estamos em ano de eleição e a prisão teve como objetivo fazer campanha contra o ex-presidente Fernando Henrique", afirmou.
Mais tarde, na sede da PF, Cacciola preferiu baixar o tom. "Eu não sei se ela (a prisão) tem conotação política. Não dou opinião em relação a isso, estou à disposição da Justiça e a Justiça vai decidir o que ela achar que deve decidir. A única coisa que posso lembrar é que na sentença das 10 pessoas, todos podem fazer apelação em liberdade, menos o Cacciola, porque era um foragido", reclamou.
Lembrando a forma como deixou o Brasil, em 2000, o ex-banqueiro bateu na tecla de que não pode ser considerado foragido da Justiça, um dos argumentos de seus advogados para um pedido de habeas-corpus.
"Eu nunca fui um foragido. Eu fui para a Itália com o meu passaporte carimbado, entrei na Itália e saí do Brasil oficialmente, e quando saí, eu saí livre, com a decisão do ministro Marco Aurélio de Mello. Somente depois que cheguei na Itália, no dia 17 de julho, e por sinal hoje (ontem) é dia 17 de julho, no dia 19, o ministro Veloso anulou a decisão do ministro Marco Aurélio e eu aí resolvi não voltar mais, entende, ficar lá."
Depois da curta entrevista ("Acabou?", perguntou ao delegado, quando ele deu por encerrada a sessão de perguntas), Cacciola, que em Mônaco cumpriu pena numa prisão que se assemelhava a um castelo, foi levado para o Presídio Ary Franco, em Água Santa, subúrbio do Rio, o mesmo que abrigou o cantor de pagode Belo.
Os advogados tentaram conseguir a transferência para outra unidade, mais moderna, mas até o meio da noite a Secretaria de Administração Penitenciária não havia autorizado a transferência, à espera de um pedido formal. O ex-banqueiro teria de passar a noite no Água Santa, penitenciária construída há 34 anos e destinada a presos comuns.
Antes de seguir para seu destino, o ex-banqueiro se mostrou solícito e simpático, alegando confiar na Justiça. E aproveitou a curta entrevista para lembrar que outros réus no processo do Caso Marka, entre eles antigos diretores do Banco Central.
"Estou voltando preso, mas é bom lembrar que as pessoas que foram condenadas junto comigo nesse processo estão trabalhando, livres, ganham o seu dinheiro. Eu não estava fazendo nada diferente do que eles estão fazendo aqui (no Brasil). Só que eu estava fazendo na Itália e respondendo a todos os processos por rogatória, com os meus advogados, seja italianos como brasileiros, atuando em todos os processos. Então estava sempre à disposição da Justiça; a diferença é que eu estava na Itália, mais nada."
Fonte: Tribuna da Imprensa
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