Os governantes passam, as práticas permanecem. Quando precisam do Congresso, distribuem mimos. Quando acham que estão com tudo e não estão prosas, esnobam. Agora passam, novamente, pela primeira fase. O recesso se esvai em boa hora. O presidente Lula e seus fiéis intendentes, os ministros Guido Mantega e Paulo Bernardo, abriram o ano com o pacote de maldades aproveitando o deserto de políticos em que Brasília se transforma nos janeiros sem convocação extraordinária. E desencaram os aumentos do Imposto sobre Operações Financeiras e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. Deixaram para recolher o dobro em reais para depois, com os cortes no Orçamento da União.
No meio tempo, para dar uma amenizada nos ânimos dos governistas de ocasião e dos já tradicionais, Lula aproveita para retomar a conversa em torno da nomeação de cargos para o primeiro, segundo e terceiro escalões federais. Um ministro, que de tanto tempo como interino esqueceu que teria de passar o cargo adiante, já pode ir esvaziando o gabinete: o de Minas e Energia. O senador cabelo- pintado-de-acaju Edison Lobão já está prontinho para assumir o posto, bem apadrinhado por José Sarney. Não importa, no caso, se a ministra Dilma Rousseff, ciumenta de seu espaço no setor, está desgostosa da escolha. Em tempos de votações difíceis, melhor apaziguar os parceiros nos corredores verde e azul do Congresso.
Há ainda ministros bem empossados que podem se aventurar nos palanques municipais deste ano. Um deles: Patrus Ananias, o comandantes-em-chefe dos programas sociais, Bolsa Família na dianteira. E postos menos cotados. Mas com estes, o presidente Lula se dispensa de gastar moleira. Estão a cargo da trinca Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência), Paulo Bernardo (Planejamento) e José Múcio Monteiro (Relações Institucionais). Ontem, sentaram para bater o martelo em torno das regras para nomeações em vagas comissionadas, e teoricamente mais bem remuneradas, de degraus mais baixos da pirâmide federal.
As indicações estão paradas há no mínimo uma dezena de meses. O mapa dos tais cargos é herança do antecessor de Múcio, o mineiro Walfrido Mares Guia, que perdeu o poder flagrado que foi no mensalão tucano do eventual candidato a prefeito de Belo Horizonte, Eduardo Azeredo. A burocracia, em alguns casos, e a iniqüidade dos padrinhos, em outro, atrasaram a execução da tarefa.
Referem-se a mesas estrategicamente espalhadas pelos Estados. Essenciais numa disputa em que estará em jogo o poder político municipal. Nada prioritárias quando se observa que estão vagas há tanto tempo e nenhum serviço deixou de ser executado ou ficou pior por conta da vacância.
A pressa, portanto, é fisiológica. De ambos os lados. Do governo, porque quer conter a insatisfação com o aumento dos impostos, com o futuro contingenciamento das emendas parlamentares, e com outras aparadas no Orçamento. Dos parlamentares, porque precisam instalar cabos eleitorais em postos-chaves Brasil afora. E, mais, porque terão de subir nas tamancas para manter as emendas individuais no Orçamento. É apenas o primeiro passo, o mais fácil, até porque o Planalto não tem poder para tirá-las de lá, uma prerrogativa da Comissão Mista. Depois, deputados e senadores terão de conseguir que o governo libere os reais. Missão quase impossível. Chance perto de zero
Sabem disso, embora finjam que não acreditam. Estão amotinados, mas nem tanto. Há sempre a esperança de abiscoitar alguns trocados. Especialmente aqueles deputados - são quase 150 - que vão entrar em campanha. Do lado do governo, a intenção é segurar sim, até porque, na hora do vamos ver, as pendências orçamentárias valem bem mais em votos do que custam aos cofres públicos. Como se observa, as férias parlamentares estão dando o que falar. Não há sessão, mas todos estão de plantão. No Congresso e no governo. A confusão levou até o presidente a rever a agenda de prioridades. Transferiu para fevereiro as férias que tiraria em janeiro. Difícil que descanse. No próximo mês (lógico, depois do carnaval, que ninguém é de ferro), os números do Orçamento da União, com cortes e subcortes, serão analisados a lupa por deputados e senadores. Que vão contabilizar as perdas e ganhos de janeiro e de anos anteriores. Lula terá de ficar a postos. Para evitar, in loco, um desastre político em ano eleitoral. E com a caneta pronta para assinar as nomeações. E, quem sabe, distribuir um dinheirinho antes para garantir o sossego depois.
Fonte: JB Online
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