Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Sobre pesquisas de opinião, já se disse o diabo: elas provam tudo; elas não provam nada. Umas são sérias; outras, fajutas. Estas tentam esboçar as tendências populares. Aquelas são pagas, numa relação de causa e efeito onde o freguês tem sempre razão. A pesquisa do Datafolha, divulgada no fim de semana, é séria. Não foi faturada em favor de governos, partidos ou candidatos. Mas não prova tudo.
Três conclusões podem ser tiradas dos números colhidos: José Serra é o candidato tucano e teria grandes chances, se as eleições fossem hoje. O PT não tem candidato. Ciro Gomes parece a alternativa do presidente Lula, se conseguir convencer o PT da obrigação de buscar um não-companheiro para tentar não perder a eleição.
Agora, a contradição: 50% dos entrevistados julgam o governo Lula ótimo ou bom; para 35%, o governo Lula é regular, coisa que, somando, vai a um recorde de 85%, só igualado no final da administração de Itamar Franco. No entanto, 65% rejeitam o terceiro mandato.
Não apenas para o PT, mas para os partidos da base oficial, para o governo e para os grupos econômicos e sociais que se desenvolvem à sombra do Palácio do Planalto, a preservação do poder passa por uma única avenida, a do terceiro mandato. Porque Ciro Gomes, com todo o respeito, é inconfiável. Transita em faixa própria, independente e, além de tudo, tem pavio curto. Dispõe de todos os predicados para botar o PT para correr.
Sendo assim, o problema dos companheiros para evitar José Serra e a transmissão do governo para os tradicionais adversários é uma só: conciliar os 85% que se mostram mais do que satisfeitos com Lula e os 65% contrários não ao presidente, mas à tese da mudança das regras do jogo visando o terceiro mandato.
A frio, essa equação não se resolve. Só poderá ser aprovada no bojo de uma crise, natural ou fabricada. Como faltam três anos para as eleições, e como estamos no Brasil, impossível não será esse passe de prestidigitação. Basta esperar para ver. Sem esquecer o coro na convenção petista de domingo, em torno do nome do presidente Lula...
Sem bola de cristal
Em política, não funciona a bola de cristal. Prever o que vai acontecer daqui a quinze minutos é prematuro e perigoso. Apesar disso, tudo indica que Renan Calheiros escapará da cassação, hoje, no plenário do Senado. A sessão será aberta, televisionada para o País inteiro, apesar da votação secreta. É possível que nem todos os oradores previstos para se pronunciarem pela perda de mandato do representante das Alagoas votem contra ele.
Muitos fatores levam a essa hipótese. Para começar, a fragilidade da acusação de que Renan adquiriu duas emissoras de rádio e um jornal através de laranjas, em seu estado. O relator do processo concluiu pela existência de indícios, ou seja, sem provas. Pelo menos metade dos 81 senadores dedica-se à mesma prática, ou seja, controla veículos de comunicação, parte deles em proporção muito superior. A moda da punição pode pegar.
Acresce que o já agora ex-presidente do Senado tornou-se credor de muitos colegas, nos anos em que exerceu a função. Fez favores, ajudou gregos e troianos. Outro argumento: o governo manobrou para que as bancadas sob sua direção poupem o antigo aliado. Dificilmente algum senador do PT condenará Renan, apesar de alguns poderem simplesmente abster-se.
Por último: mesmo nas oposições, haverá quem se recuse a condenar o companheiro, numa espécie de corporativismo cautelar. A cassação deixaria a imagem do Senado pior do que a absolvição. De qualquer forma, não custa aguardar.
A revanche
Cada voto contra a prorrogação da CPMF que o presidente do PTB, Roberto Jefferson, conseguir garantir na bancada do partido, no Senado, estará carimbado de revanche. Contra o presidente Lula? Talvez não. O alvo continua sendo o deputado também cassado, José Dirceu.
Jefferson não perdoa o ex-companheiro, ironicamente seu parceiro de infortúnio na relação dos quarenta mensaleiros transformados em réus no processo que corre no Supremo Tribunal Federal. Derrotar o governo, para ele, será continuar lembrando que toda a lambança nasceu por conta e risco do ex-chefe da Casa Civil.
Teste final
O governo estará atento para o funcionamento dos aeroportos no período de festas e de férias escolares que agora se inicia. Caso as empresas aéreas agüentem o tranco e mantenham o tráfego em condições normais, 2008 poderá ser o ano de sua expansão e afirmação. Na hipótese inversa, de caos generalizado, atrasos, cancelamentos de vôos e confusão, ganhará espaço a tese da abertura a empresas estrangeiras do transporte aéreo entre nossas capitais.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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