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terça-feira, janeiro 04, 2022

Campanha eleitoral agora significa apedrejar os adversários e jornalistas nas redes sociais

Publicado em 4 de janeiro de 2022 por Tribuna da Internet

Festival de preconceito nas redes sociais

Charge do Duke (O Tempo)

Eliane Cantanhêde
Estadão

Como alguém pode ser acusado de ser, ao mesmo tempo, responsável pela eleição de Bolsonaro, fanático por Lula, direitista, petista, comunista, tucano e fazer campanha para Sérgio Moro? Pois é. Muitos, incontáveis, são atacados assim. Eu, inclusive.

Esse Frankenstein, metamorfose ambulante ou geringonça política é uma das ficções criadas nas redes sociais pela irracionalidade e polarização da política brasileira. E quem cai nessa rede será, certamente, um saco de pancadas de variados militantes doentios neste ano eleitoral de 2022.

SEREMOS APEDREJADOS – Preparem-se jornalistas, analistas, cientistas políticos, responsáveis por pesquisas e, de forma mais direta, os ministros do Supremo, apedrejados pelos petistas no mensalão e no petrolão e agora pelos bolsonaristas, após a anulação dos processos contra Lula que permitiu o que o próprio Supremo havia lhe negado em 2018: a candidatura à Presidência. Favorito em 2022, Lula é a maior ameaça à reeleição de Bolsonaro.

Além disso, o Supremo serve de anteparo aos ataques do presidente e do governo a isolamento social, máscaras, vacinas, ciência e realidade e foi também quem deu um basta ao gabinete do ódio e à indústria de fake news e ataques às instituições – principalmente ao próprio STF.

Isso tende a disparar em 2022, já que Bolsonaro dobrou a aposta em suas maluquices até o finzinho de 2021, com falas, live e pronunciamento, entre um jetski e outro, insistindo em desmoralizar urnas eletrônicas, a “gana por vacinas” e a exigência de imunização.

SUPREMO REAGE – Marcelo Queiroga, da Saúde, dificulta a vacinação de crianças de 5 a 11 anos, com invenções como receita médica e consulta pública, e a ministra Cármen Lúcia entrou em ação. Milton Ribeiro, da Educação, emergiu do anonimato e do silêncio durante o caos nas escolas na pandemia, para impedir universidades federais de exigir vacinas, e o ministro Ricardo Lewandowski suspendeu a decisão. Ambos no último dia de 2021.

Como gato e rato, o governo faz loucuras, o STF desfaz. E, assim como Bolsonaro se tornou o maior cabo eleitoral de Lula, também conseguiu unir a Corte. Os ministros viviam às turras, não vivem mais. “Estamos mais protegidos contra disputas internas”, diz um deles, preparando-se para a guerra de 2022.

Os ataques, porém, não serão só dos bolsonaristas nem só contra o Supremo. Serão de todos contra todos e as geringonças políticas, como boa parte dos jornalistas, estaremos no meio do tiroteio, expondo e comentando fatos e com crise existencial. Como alguém pode ser bolsonarista, lulista, tucano e morista, tudo ao mesmo tempo? Só na Terra plana da internet.


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