Não pode ficar impune o ataque inaceitável a dois helicópteros a serviço do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Aeroclube do Amazonas, em Manaus, na madrugada de segunda-feira. Câmeras de segurança flagraram dois suspeitos ateando fogo a uma das aeronaves, que ficou com a frente destruída. Um outro aparelho também foi danificado pelos criminosos. Suspeita-se que o ato tenha sido perpetrado por garimpeiros ilegais em represália a ações de repressão do órgão ambiental. O caso está sendo investigado pela Polícia Federal do Amazonas.
Os helicópteros pertencem a uma empresa que presta serviços ao Ibama desde 2016. Ao menos num primeiro momento, o ataque deverá prejudicar as operações do instituto. A advogada Suely Araújo, ex-presidente do Ibama, responsável pela assinatura do contrato durante sua gestão, disse que a redução da frota deverá afetar as ações de maior complexidade na Amazônia.
Não é a primeira vez que criminosos atacam equipamentos ou instalações de órgãos ambientais. Em julho de 2017, vândalos incendiaram oito carros do Ibama no distrito de Cachoeira da Serra, em Altamira, sudoeste do Pará. Os veículos, que ainda estavam no caminhão cegonha, seriam usados em operações de combate a crimes ambientais na região. Em outubro daquele mesmo ano, foram depredados os escritórios do Ibama e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em Humaitá, no Amazonas. Em dezembro passado, o posto do Ibama na Ponta do Abunã, em Rondônia, também foi destruído.
Não se deve subestimar o poder desses criminosos. Sabe-se que a associação de garimpeiros e traficantes de drogas na Amazônia é uma realidade. Os chamados narcogarimpos se espalham pela região com velocidade surpreendente, combinando destruição do meio ambiente com violência.
O problema é que, em três anos de mandato, o governo Bolsonaro tem sido leniente com a destruição ambiental. Servidores do Ibama já foram exonerados por terem chefiado operações de repressão ao desmatamento e ao garimpo ilegal. Os órgãos ambientais sofreram um processo de desmonte sem precedentes. O número de multas despencou, o que chegou a ser comemorado pelo presidente Jair Bolsonaro. Tudo isso criou um cenário favorável aos infratores. Operações de repressão, como a que ocorreu em novembro do ano passado contra as balsas de garimpo no Rio Madeira, até existem, mas ainda são insuficientes diante do descalabro ambiental.
É preciso ficar claro que o ataque aos helicópteros do Ibama em Manaus é um ato contra o Estado. Portanto, deve ser investigado e punido com rigor. Não só pela destruição do patrimônio e por possíveis prejuízos às operações. Mas para que fiquem evidentes os limites da lei. E para que episódios semelhantes — infelizmente comuns na Amazônia — sejam desestimulados.
O Globo