Militares cercaram emissora de TV para fazer a operação na madrugada
Raphael Bruno
Brasília
O sargento do Exército Laci Marinho de Araújo foi preso, ontem, de madrugada após conceder entrevista ao vivo para o programa SuperPop, da Rede TV!, assumindo ser homossexual e manter uma relação amorosa há mais de dez anos com outro sargento do Exército, Fernando de Alcântara Figueiredo. O comando militar acusa Araújo de deserção e nega que agiu motivado por preconceito.
Os sargentos já haviam sido objeto de matéria de capa da revista Época e estavam juntos na noite de terça-feira no programa da apresentadora Luciana Gimenez. Na entrevista, falavam sobre a relação entre os dois quando, por volta das 23h30m, a Polícia do Exército cercou os arredores da emissora. A cena foi mostrada ao vivo pelo programa.
Araújo, visivelmente amendrontado, revelou temer pela sua segurança.
– Eu vim em rede nacional para resguardar minha vida, porque a televisão atinge mais pessoas do que a revista – disse o sargento ainda diante das câmeras. – Se eu for preso eu vou morrer, será queima de arquivo.
A apresentadora tentou se esquivar e disse que nada podia fazer, tendo em vista que os sargentos haviam comparecido ao programa por livre e espontânea vontade.
Negociações
Com o final do SuperPop, um longo período de negociações se iniciou até que por volta das 4h Araújo finalmente deixou o local, preso, sob a acusação de deserção. Fernando não foi detido, mas acompanhou o parceiro até o Hospital Geral do Exército. A presença de Figueiredo e a ida ao centro hospitalar ao invés de uma prisão comum do Exército haviam sido condições de Araújo para se entregar. Antes de seguir para o hospital, o sargento passou por exame de corpo e delito no Instituto-Médico Legal.
Segundo informações do Exército, um mandado de prisão em nome de Araújo havia sido emitido desde maio do ano passado. A prisão foi determinada pela Justiça Militar de Brasília. O sargento afirma que se afastou da corporação devido a problemas de saúde. O Exército contesta essa informação e garante que o sargento nunca apresentou laudos médicos que comprovassem condições físicas inadequadas para o serviço militar.
A prisão gerou polvorosa. A Ordem dos Advogados do Brasil enxergou excessos na ação do Exército e prometeu pedir a Defensoria Pública da União que assumisse a defesa de Araújo. Membros da Comissão de Direitos Humanos da entidade estiverem ontem a tarde no Hospital visitando o militar.
Transferência
O Exército pretende transferir Araújo para presídio em Brasília. A equipe médica do hospital deu parecer favorável à transferência, mas os representantes da OAB prometeram solicitar ao Conselho Federal de Medicina perícia independente. Araújo faz tratamento psiquiátrico com medicação controlada.
- Achamos que não é o caso de prisão porque ele está em tratamento. Está deprimido pela situação. Não tem condições de ser transferido - explicou o advogado Francisco Lúcio França.
O Exército confirmou que Figueiredo estava autorizado a acompanhar Araújo na viagem. A pena prevista para deserção é de seis meses a dois anos. Pelo Código Penal Militar, é considerada deserção toda ausência não-justificada do militar por mais de oito dias, sem licença, da unidade em que serve ou da localidade para a qual foi designado. A Rede TV! não quis comentar o caso.
Fonte: JB Online
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