BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou ontem aos dirigentes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em reunião no Palácio do Planalto, que o governo não tem condições de ceder às pressões do bispo frei d Luiz Flávio Cappio, em greve de fome há 16 dias, contra a transposição das águas do rio São Francisco.
Um dos participantes do encontro relatou que o presidente deixou claro para os bispos que a paralisação das obras para atender a uma demanda "individual" abriria um precedente perigoso. O governo, na avaliação de Lula, não pode parar as obras por causa de uma greve de fome, pois corre o risco de não governar mais.
Lula disse que está disposto a retomar o diálogo com d Cappio e propôs a realização de um seminário com a CNBB para discutir as obras, que poderá, inclusive, levantar sugestões para a revitalização do rio. Mas pára por aí. As obras só serão interrompidas pela Justiça. Não dá para tratar questões de governo como problemas individuais, ressaltou o presidente, segundo um interlocutor.
Após audiência com Lula no Palácio do Planalto, o presidente e o secretário-geral da CNBB, d. Geraldo Lyrio Rocha e d. Dimas Lara Barbosa, admitiram que não há consenso dentro da Igreja em relação à greve de fome. "Em torno dessa questão, não há muita unanimidade", disse d. Geraldo.
Ele relatou que uma parte dos bispos avalia que d. Cappio põe em risco a própria vida o que contraria a doutrina da Igreja. Já outra parte argumenta que o religioso não busca a morte. Sem esconder o desconforto com o resultado da audiência, Rocha se limitou a comentar, sobre a conversa no Planalto, que Lula também estava "preocupado" com a vida de d. Cappio.
"É claro que todos nós tememos a morte do bispo, por isso a CNBB desejou conversar com o presidente", afirmou. "Queremos d. Luiz Cappio vivo". Lula reclamou, em diversas ocasiões, da postura de d. Cappio. O presidente disse, em entrevistas, que sempre optará pela vida de milhões de nordestinos que, segundo ele, dependem das obras de transposição.
Diante do impasse, representantes da CNBB, ouvidos ontem pela rádio "Jornal do Commercio", do Recife, disseram que a entidade já pediu a orientação de especialistas em direito canônico. A CNBB quer uma avaliação do caso levando em conta as normas da Igreja.
Dom Geraldo avalia que a atitude de d. Cappio não é uma postura "suicida", mas admite que o protesto arranha a imagem da Igreja, especialmente num momento em que a instituição reforça a campanha contra a eutanásia e o aborto. "Claro que a vida de um bispo é a vida da Igreja", afirmou.
Em carta entregue ao presidente Lula, a CNBB ressalta estar à disposição para colaborar na retomada do diálogo entre o governo e d. Cappio. A entidade argumenta que a comissão mista com representantes do governo e da sociedade para discutir a questão das obras no São Francisco, criada em 2005, após a primeira greve de fome de d. Cappio, não atendeu "plenamente" os objetivos propostos.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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