PORTO ALEGRE - A governadora Yeda Crusius (PSDB) disse ontem que um ambiente golpista se instalou no Rio Grande do Sul juntando o PT, o PFL (hoje DEM) e um ou dois membros do PMDB contra sua administração. Também declarou que o maior inimigo de seu governo é o vice Paulo Afonso Feijó (DEM). Afirmou ainda que não teme um processo de impeachment.
"Eu quero até que ele (o processo) se abra porque quem sabe tenha caído nas minhas mãos a oportunidade de a gente denunciar tudo isso e buscar soluções dentro do campo político, mas junto com a sociedade, para terminar esse ciclo terrível", justificou, em entrevista à Rádio Bandeirantes.
A manifestação da governadora, uma das mais contundentes que deu desde o início da crise que abalou seu governo, seguiu a linha de uma nota oficial de apoio divulgada pela executiva nacional de seu partido. "O PSDB identifica um movimento articulado para desestabilizar Yeda Crusius, que imprimiu no governo do Rio Grande do Sul profundas reformas na administração pública e um rígido programa de ajuste fiscal", diz a abertura do texto.
Na seqüência, a nota destaca que "sua eleição contrariou interesses e rompeu paradigmas, o que desencadeou práticas, procedimentos e ações políticas condenáveis e inadmissíveis no quadro democrático". Afirma, ainda, que a governadora pauta sua conduta pessoal e política em princípios de lisura, competência e dignidade e que "o PSDB, ao mesmo tempo em que defende a completa apuração de desvios de conduta, rejeita qualquer atitude pessoal, administrativa e política que objetive atingir a honra de Yeda Crusius".
Ao abordar a posição da governadora sobre a crise, o presidente da CPI do Detran, Fabiano Pereira (PT), argumentou que as pessoas investigadas estão envolvidas em fatos concretos. "Não se trata de nenhum tipo de golpe", contestou, avaliando que a governadora corroborou a avaliação ao aceitar a demissão de assessores citados na CPI. "Estamos tratando de fatos." Feijó e deputados do PFL gaúcho afirmam que defendem o mandato de Yeda.
A crise do governo gaúcho é conseqüência da descoberta de uma fraude de R$ 44 milhões no Departamento Estadual de Trânsito (Detran), praticada por empresas contratadas sem licitação que superfaturavam seus preços e incluíam na distribuição de seus lucros ilegais diretores da autarquia. Entre os operadores e beneficiários do esquema estavam algumas pessoas ligadas ao PMDB, o PSDB e o PP, partidos que apóiam o governo. Ao fazer a denúncia, em maio, o Ministério Público Federal informou que o dinheiro era usado para enriquecimento pessoal dos envolvidos e não para campanhas políticas.
Na semana passada, uma conversa gravada pelo vice-governador Paulo Afonso Feijó mostrou o chefe da Casa Civil Cézar Busatto afirmando que partidos aliados se financiavam em órgãos públicos e ampliou a crise. No sábado, Yeda aceitou a demissão de Busatto e de seu ex-secretário-geral de governo Delson Martini, citado pelos participantes do esquema em escutas telefônicas.
Audiência
A divulgação, ontem, de mais uma das escutas feitas pela Polícia Federal durante a investigação da fraude do Detran, mostra que dois dos acusados pelas irregularidades, o ex-presidente da autarquia Flávio Vaz Neto e o ex-diretor da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), Antônio Dorneu Maciel, se movimentavam para marcar uma audiência com Yeda em agosto do ano passado, época em que os remanescentes era pressionados pelo empresário tucano Lair Ferst, que havia sido afastado do esquema e queria compensações.
No diálogo, gravado no dia 30 de agosto, Vaz Neto relata sua satisfação por ter sido cumprimentado pela governadora durante um evento no Palácio Piratini e pela possibilidade de uma audiência. "Eu digo precisamos de um espaço (e ela responde) 'quando tu quiseres, sem problema'".
Na quarta-feira da semana passada, a divulgação de outra conversa, gravada em 28 de agosto do ano passado, mostra Maciel orientando Vaz Neto a tentar abordar a governadora na Expointer, em Esteio, "Se tu tiveres chance boa, (pergunta a ela) agora está dando um pequeno impasse lá, sigo orientação do Delson?" Segundo o governo gaúcho, não houve pedidos de audiência dos envolvidos na fraude.
Protestos
Estudantes, professores e sindicalistas saíram às ruas de Porto Alegre para protestar contra o governo estadual e pedir que Yeda desista de administrar o Rio Grande do Sul. Na primeira manifestação, cerca de 200 universitários e secundaristas caminharam do bairro Azenha até a sede de Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul), no centro, portando faixas e cartazes e gritando palavras de ordem contra a governadora. "A idéia é envolver a população nesse movimento", explicou Rodolfo Mohr, coordenador do Diretório Central de Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
À tarde, o mesmo grupo juntou-se ao dos professores e sindicalistas para marchar da Avenida Alberto Bins, no centro, até o Palácio Piratini, onde um ato contra o governo reuniu cerca de mil pessoas. A Brigada Militar vigiou de perto os manifestantes. Não houve incidentes.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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