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sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Confraternizando com os pingüins

Por: Carlos Chagas

BRASÍLIA - Mal chegado do Extremo Norte do continente sul-americano, onde, na Guiana francesa, encontrou-se com o presidente Sarkosy, manda-se hoje o presidente Lula no sentido oposto. Voa no Aerolula para Punta Arenas, última cidade do Chile, dirigindo-se amanhã, de helicóptero, para a base naval brasileira no Pólo Sul.
A gente se pergunta porque esse périplo digno de Indiana Jones. A resposta não envolve estratégias para tirar a crise dos cartões corporativos da primeira página dos jornais. A viagem ao gelo eterno estava programada há meses.
O que não dá para entender é como o presidente Lula não adiou essa aventura tão fria para permanecer no calor de Brasília, dedicando-se em tempo integral a analisar e a enfrentar o escândalo que assola o País e envolve seu governo. Com todo o respeito, deveria estar-se reunindo com líderes parlamentares, ministros, observadores e estudiosos das relações entre Executivo e Legislativo. Parece não haver percebido o potencial da crise que nos assola e poderá abalar as próprias instituições.
O resultado aí está: mesmo contra a vontade do governo, o Congresso decidiu pela constituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, por sinal mista, o que multiplica seu poder de fogo. Dirão os otimistas estar tudo sob controle, derrotadas que foram as oposições na tentativa de indicar o presidente ou o relator da CPI. As duas funções serão preenchidas com fiéis companheiros, do PMDB e do PT, prevalecendo os aliados governistas no comando dos trabalhos.
Ao mesmo tempo, engana-se o presidente se acredita no acordão com seus adversários, proibindo a investigação de gastos de seus familiares com os cartões de crédito corporativos, desde que bloqueadas, também, iguais despesas do ex-presidente Fernando Henrique. Tudo foi combinado na conversa, que costuma não prevalecer nessas situações. Um simples palito de fósforos será capaz de acender o rastilho e chegar ao barril de pólvora. Como disse o hoje não muito citado Roberto Jefferson, até contas de botox foram pagas com cartões de crédito corporativos.
Reúnem-se e se arregimentam tucanos, democratas e dissidentes dos partidos da base oficial, já argüindo o Supremo Tribunal Federal a respeito de poderem exigir, na CPI, a exposição explícita de todos os gastos dos detentores do poder. Não haverá entendimento canhestro e sigiloso em condições de atropelar decisões da mais alta corte nacional de justiça. Apesar disso, o presidente Lula vai confraternizar com os pingüins. Quem sabe lamentará não haver adiado a ida ao Pólo Sul...
Pobreza na política
Definiu o senador Cristóvam Buarque a pobreza política reinante no País como a ausência de partidos entre nós. Para ele, dispomos apenas de siglas, às quais faltam propostas, projetos e até fidelidade. Não há agenda no Congresso, dada a pobreza partidária, fazendo emergir a falta de ética até mesmo nas prioridades políticas. O senador lamentou a ausência de metas efetivas a desenvolver nas atividades parlamentares.
Só se cuida de escândalos. Não que devessem ser esquecidos, muito menos deixar de ser apurados. Mas há quanto tempo os trabalhos do Congresso centralizam-se em CPIs e denúncias? Os assuntos fundamentais da sociedade brasileira deixaram de ser discutidos. Deputados e senadores podem estar trabalhando, mas a Câmara e o Senado, não, pela falta de compromissos com o futuro.
A mesma dúvida de sempre
No PT, permanece a perplexidade. Por mais que os companheiros pensem, debatam e procurem, o nome não aparece. Quem será o candidato para disputar as eleições de 2010, e que, dentro de no máximo um ano, precisará estar na rua tentando polarizar as bases do partido? Dilma Rousseff, Marta Suplicy, Tarso Genro, Jacques Wagner, Patrus Ananias? Nenhum deles, quanto mais outros, conseguiu despontar como o príncipe-herdeiro do presidente Lula.
A causa repousa na evidência do que disse o senador Cristóvam Buarque na nota anterior. Até o PT, que parecia diferente, uma experiência nova de ação partidária, converteu-se num conglomerado de lideranças dispersas cujo amálgama chamado Lula, pela Constituição, deverá afastar-se.Em suma, a política continua sendo feita em termos pessoais.
Quem poderá, hoje, saber qual o projeto nacional do PT para o País, acima e além da opinião isolada de seus integrantes, incluindo-se neles o próprio Lula? Terão os companheiros uma proposta para reduzir a pobreza, ocupar a Amazônia, multiplicar a agricultura e a indústria, aprimorar as instituições democráticas e reafirmar a soberania nacional? Houvesse uma espécie de plano-diretor do PT, permanentemente aprimorado, e o nome de seu candidato fluiria de modo natural.
Como não há, obrigam-se a seguir na esteira do governo Lula, conglomerado de iniciativas sem doutrina nem ideologia, muitas vezes até conflitantes. Tempo ainda existe, claro que não para mais uma daquelas reuniões parecidas com sessões de grêmios estudantis. O diabo é que o tempo passa...
Fonte: Tribuna da Imprensa

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