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quinta-feira, junho 08, 2006

Presidente do PT baiano culpa Câmara, Senado e até Lula pelo quebra-quebra

Por: Tribuna da Bahia Notícias

O sempre equilibrado presidente do PT baiano, Marcelino Galo, mostrou ontem porque é um quadro em ascensão no partido, ao analisar a baderna promovida pelo MLST em Brasília. Ele teve a firmeza de reconhecer que falta autoridade dos presidentes da Câmara e do Senado, e até do presidente Lula, a quem responsabilizou pela ação do MLST, uma dissidência do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, MST. “O presidente da República bota chapéu do MST e do MLST, e dá nisso”, criticou o líder do PT baiano, atribuindo a Lula a responsabilidade pelo quebra-quebra na Câmara dos Deputados, invadida segunda-feira por mais de 700 militantes do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST). “Tem que ser preso todo mundo, que democracia é essa? O Lula almoça direto com o Bruno (Bruno Maranhão, líder do MLST e secretário nacional de movimentos sociais do PT), dá o direito de ele fazer isto. Chega na semana que vem, ele (Lula) almoça de novo”, prosseguiu o dirigente petista. O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) também atribuiu ao presidente Lula a responsabilidade direta pela baderna e depredação da Câmara. Segundo ACM, Lula incentiva a ação de anarquistas e desordeiros, e exigiu que as Forças Armadas tomassem alguma providência, temendo que o país “caia na desgraça de uma ditadura sindical presidida pelo homem mais corrupto que chegou ao governo da República”. Para o senador, o presidente Lula é cúmplice do MLST e também responsabilizou os presidentes Renan Calheiros (PMDB-AL), do Senado, e Aldo Rebelo (PCdoB-SP), da Câmara, sobre a total desordem instaurada por militantes ligados ao PT. O presidente regional do PMN, Miguel Rehem, afirmou que o presidente Lula deve ter pulso. “Não é a primeira vez que ocorre, como por exemplo, no Rio Grande do Sul e no sul da Bahia. A depredação pública e privada está deixando de ser reivindicação e virou baderna. É um absurdo, até pelo fato de ser um líder ligado ao presidente”, condenou. A reação dos dirigentes partidários baianos sobre a baderna instalada em Brasília por um movimento social foi de indignação. “É um desrespeito às instituições republicanas e democráticas”, afirmou o presidente do PMDB, Geddel Vieira Lima. “Tivemos destruição pelos movimentos sociais nas plantações da Veracel, problemas em São Paulo, quebra-quebra dos rodoviários em Salvador e agora esse vandalismo numa das maiores casas de representação da sociedade. E o pior foi o presidente não ter tomado nenhum comando para conter a depredação”, disse o secretário geral do PAN (Partido dos Aposentados da Nação), Alderico Sena, pré-candidato ao Senado. A maioria dos parlamentares lamentou o líder pela depredação do Congresso Nacional, Bruno Maranhão, ter livre acesso ao Palácio do Planalto e ser membro da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores. “Uma ação irresponsável, procurou ali atingir a Casa que busca representar o equilíbrio e a democracia. Mas foi uma ação irresponsável de um movimento social e não uma ação partidária, apesar de ter ali representantes partidários”, opinou o presidente estadual do PPS, deputado federal Colbert Martins. A mesma opinião de Colbert é compartilhada pelo deputado federal Mário Negromonte, presidente estadual do Partido Progressista. “Foi um ato de selvageria nunca visto, a democracia está de luto. Estive hoje (ontem) com o presidente Lula e, mesmo sendo uma pessoa próxima, ele disse que quem errou tem de ser punido. Ele repudiou a ação do MLST e foi totalmente solidário ao Congresso Nacional”. O presidente do PTB, Jonival Lucas, também classificou a ação como um fato isolado e não acredita que o presidente deve ser penalizado pelas atitudes do MLST. “São algumas cabeças que têm criado este tipo de solução. O presidente jamais concordaria com o líder do movimento, mesmo sendo uma pessoa ligada diretamente a ele. É um fato isolado e maioria desses movimentos têm usado da força para invadir prédios públicos e privados”, comentou o deputado federal que lembrou um episódio recente, como a destruição de uma pesquisa que estava sendo realizada no sul da Bahia pela empresa Veracel, totalmente destruída pelos sem-terra. Já o presidente do PV na Bahia, deputado federal Edson Duarte, ressaltou que independente de que movimento pertença ou se tem filiação partidária, essa não seria a questão mais importante a ser discutida. “Não seria correto tentar tirar proveitos políticos partidários eleitorais de um incidente como este. Eu condeno totalmente tentar associar aspectos políticos eleitorais”.
Vídeo mostra que invasão foi planejada
A polícia de Brasília apreendeu uma fita de vídeo em que líderes do MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra) planejam a invasão da Câmara dos Deputados. A fita —em formato mini-DV, com uma hora e 20 minutos de duração— foi apreendida com os próprios manifestantes após a depredação da Casa. Eles registraram, entre outras cenas, a reunião em que foi planejada a ação. Um dos líderes, identificado como Antonio José Arruti Baqueiro, orienta cerca de 60 pessoas reunidas no auditório da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), em Brasília. “Nós somos uma turma organizada, que sabe o que quer, tem coragem e vai lá dar o recado”, diz Baqueiro na gravação. “Vamos dizer para o Brasil que tipo de reforma agrária a gente quer. Vamos dizer o que esta corja do PFL e PSDB está fazendo com o Congresso quando deixou de votar o Orçamento e só foi aprovado em maio.” O líder diz que esta estratégia da oposição seria para desestabilizar o governo. “E o Lula continua aí, tranqüilo, com 63%... O Lula vai que nem cavalo de sete de setembro, cagando e andando e os outros olhando.” Na reunião, a invasão da Câmara é tratada como “a festa” e o Salão Verde como “salão de festas”. A fita mostra ainda que o primeiro ônibus com integrantes do movimento chegou a Brasília no sábado. Na segunda-feira, eles visitaram a Câmara, em grupos de cinco pessoas, disfarçados de turistas, para fazer o reconhecimento do local, imagens que também foram gravadas. Os 496 sem-terra presos anteontem depois da invasão e depredação da Câmara passaram toda a noite depondo no Ginásio Nilson Nelson. Segundo a Polícia Militar, eles serão levados em grupos de 50 para o IML (Instituto Médico Legal) , onde passarão por um exame de corpo de delito. Em seguida, eles serão transferidos para o complexo da Papuda. Eles serão autuados por dano ao patrimônio público, formação de quadrilha e corrupção de menores. Os 11 líderes do grupo, que também serão autuados por tentativa de homicídio, estão detidos no 2º DP. Outros 42 menores que participaram da ação serão transferidos para um albergue de Taguatinga.
PT deve abrir processo de expulsão contra aliado
O presidente do diretório do Distrito Federal do PT, o deputado distrital Chico Vigilante, disse que vai apresentar um pedido de expulsão do secretário nacional de movimentos sociais do partido, Bruno Maranhão —integrante da Executiva do partido. Maranhão liderou a invasão da Câmara promovida pelo MLST (Movimento pela Libertação dos Sem Terra). Segundo ele, o partido deve abrir um processo disciplinar contra Maranhão, que será analisado pela comissão de ética. Enquanto o processo estiver em análise, Maranhão deve ser suspenso dos cargos que ocupa dentro do PT. Vigilante disse que já telefonou para o presidente do PT, Ricardo Berzoini, que sinalizou que deve acatar o pedido para instalar um processo disciplinar contra Maranhão. “Ele é um dirigente nacional do partido. Ele deveria preservar a democracia do país em vez de participar de atos irracionais.” Segundo ele, integrantes da oposição se aproveitaram do episódio para atentar contra a democracia. “É nosso dever zelar e preservar a democracia.” Vigilante criticou ainda a atuação do presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), que não permitiu a entrada da Tropa de Choque para combater a invasão de ontem na Casa. Segundo ele, o ex-presidente da Casa João Paulo Cunha (PT-SP) chamou a ajuda da Polícia Militar quando foi necessário e evitou um mal maior. “Ele [Aldo] fez mal em não chamar a Polícia Militar. A destruição poderia ter sido menor.”
Lula vê “vandalismo” em ação
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou ontem a invasão da Câmara pelo MLST (Movimento pela Libertação dos Sem Terra). Em discurso no Palácio do Planalto, Lula considerou o episódio “uma cena de vandalismo”, de pessoas que “perderam a responsabilidade”. “O que aconteceu no Congresso não foi um movimento reivindicatório. Eles não apresentaram pautas”, disse ele. O episódio chegou a tal ponto que Lula já foi aconselhado a falar em cadeia nacional de rádio e TV sobre a invasão do Congresso. Segundo fontes do Planalto, o presidente teria ficado muito irritado com a invasão, porque avaliava que teria um “refresco” do quadro político com o início da Copa do Mundo. Assessores do presidente consideram que o episódio será usado durante a campanha eleitoral no segundo semestre. “As pessoas podem até não gostar do Congresso, mas todos nós somos testemunhas de que esse país era muito menos seguro quando não tinha o Congresso”, disse ele. Em entrevista após o discurso, o presidente afirmou que era responsabilidade do PT avaliar uma eventual punição a um dos lideres do MLST, Bruno Maranhão, que é dirigente do partido. “Deixe isso para o PT resolver”.O presidente comentou que ganhou a eleição para que parte da sociedade, que antes era excluída, pudesse ter acesso ao Palácio do Planalto e citou que várias vezes recebeu movimentos dos sem-teto, dos sem-terra, entre outros. “Já entrou aqui um grande número de pessoas que jamais tinha imaginado colocar o pé no Palácio do Planalto”, disse.

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