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domingo, abril 09, 2006

Arquidiocese afasta padre Pinto da Igreja Católica

Por: Mariana Rios


Documento condenando atitudes do religioso ratifica suspensão pela Sociedade das Divinas Vocações

Padre Pinto: `Abracei a carreira artística. Vou continuar transgredindo´

"Espero que seja um ponto final", disse dom Geraldo Majella sobre o documento divulgado ontem pela Arquidiocese de São Salvador da Bahia que afasta padre José de Souza Pinto das atividades religiosas. Finalizada na sexta-feira, a carta, que traz a data de hoje, ratifica a suspensão do religioso pela Congregação da Sociedade das Divinas Vocações, "enquanto permanecer transigindo as normas da Igreja, as orientações da sua congregação e da arquidiocese". A partir de agora, padre Pinto, que concedeu entrevista na sexta-feira no Programa do Jô, onde reafirmou sua posição contrária aos dogmas da Santa Sé, não poderá mais celebrar missas, muito menos morar na paróquia da Lapinha.
No comunicado, a arquidiocese deixa claro que a decisão só foi tomada após esgotadas todas as possibilidades de diálogo e que acompanha com tristeza e preocupação as atitudes e aparições do religioso. Ontem à tarde, dom Geraldo Majella recebeu uma ligação do padre Pinto e reafirmou a posição da Igreja. "Conversei com ele e parecia tudo bem. Não comentei ponto por ponto, mas falei do tema central (do documento). Ele estava falando dos projetos dele, sobretudo os relacionados com arte", afirmou dom Geraldo, pontuando que basta que ele cesse todas essas manifestações e atitudes para voltar à uma vida religiosa e sacerdotal normal. O telefonema, segundo o próprio padre Pinto, teria tido o objetivo de "dizer umas verdades", mas o religioso admitiu que não teve coragem, já que o arcebispo foi cordial. "Ele foi gentilíssimo. Me aconselhou a voltar para a Itália", disse.
A mesma declaração divulgada na imprensa foi enviada ao padre, que reclamou ontem de dores na coluna e no estômago, mas insistiu no discurso rebelde, aparentando certa indiferença com relação à atitude da arquidiocese. "Padre Pinto já era. Abracei a carreira artística. Não quero mais não. Vou continuar transgredindo. Vou dizer que tem que usar camisinha e condenar o celibato", afirmou José de Souza Pinto, que ainda não conseguiu vender um quadro, mesmo com toda a publicidade. Agora, a sua maior aflição é não ter para onde ir. Ontem, fez um apelo para que empresários lhe emprestassem um apartamento, na Vitória, quatro quartos, já que tem mais de 500 telas.
Monsenhor Gaspar Sadoc voltou a lamentar o posicionamento de padre Pinto. Para ele, foi gerado um problema canônico, daí a importância da declaração da arquidiocese, voltada a prestar um esclarecimento à sociedade e aos católicos em geral. "A tentativa, a expectativa e o desejo é que ele volte para onde estava. A tranqüilidade da Igreja foi como a de uma mãe que espera o retorno do filho. Tenho muita tristeza pelo acontecido. Não admito que ele seja isso que está sendo. Qual a causa, não sei. Mas esse não é o padre Pinto que conheci e isso me faz sofrer", desabafou mosenhor Sadoc, que iria assistir à entrevista do padre gravada por um sobrinho.
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Transgressão iniciada na Festa de Reis
Desde a Festa de Reis em janeiro, no bairro da Lapinha, padre Pinto é notícia. Celebrou missas maquiado e fazendo evocação aos ritos do candomblé, participou e dançou no Festival de Verão, no Carnaval desistiu dos desfiles a contragosto, apareceu em mais de quatro programas de televisão e em lançamentos de coletivas. O padre ofendeu a disciplina dos sacramentos e da sagrada liturgia ainda com declarações e acusações a membros da Igreja. Após a surpreendente aparição na Festa da Lapinha, foi afastado para tratamento e para rever suas posições.
A arquidiocese solicitou a presença em Salvador do Padre Ludovico Caputo, Superior Geral da Sociedade das Divinas Vocações, e padre Pinto assinou um documento, antes do Carnaval, com regras para o rumo de sua carreira eclesiástica e a saída da paróquia até 10 de abril. O documento interno foi tornado público pelo padre, que se dizia desamparado e obrigado a morar num quarto dos fundos no Centro Social Vocacionista, ao lado da Igreja da Lapinha.
"Emitimos uma primeira nota no dia 7 de janeiro, depois o Conselho de Presbíteros da Diocese e agora estamos divulgado esta declaração para deixar claro o que fizemos e o que nos cabe fazer nesta situação. Todo mundo tem acompanhado. É só para reiterar nossa posição diante do comportamento dele", explicou o arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Geraldo Majella.
Com a opção pela vida artística, Pinto assume de vez uma posição que vinha desgastando também membros da Igreja Católica. As sucessivas tentativas de diálogo realizadas pela arquidiocese sinalizam que o rumo escolhido pelo padre não condizia, desde o início, com a disciplina sacerdotal. Primeiro dom Geraldo, depois os bispos auxiliares, padres de outras congregações e por fim, o superior geral da Sociedade das Divinas Vocações, Caputo. A Igreja pediu para que ele refletisse sobre seus atos, e que ele fosse padre antes de artista, polemista, agitador cultural e celebridade. "Que ele fosse o padre que a Igreja pede que seja e não como ele quer ser", disse padre Manoel Barbosa.
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Confira abaixo a íntegra da declaração encaminhada pela Arquidiocese à imprensa:
O Pe. José de Souza Pinto, SDV, foi apresentado pelos seus superiores religioso aos então arcebispo cardeal Dom Avelar Brandão Vilela que, acolhendo a indicação, o nomeou pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Lapinha, em 1974, onde se manteve até a festa de Santos Reis em janeiro de 2006.
A Arquidiocese de São Salvador da Bahia vem acompanhando com tristeza e preocupação as atitudes, pronunciamentos e manifestações do religioso da Sociedade das Divinas Vocações, padre José de Souza Pinto.
Após ter tornado públicos vários e deliberados equívocos que feriram profundamente a disciplina dos sacramentos, a sagrada liturgia, os princípios do diálogo interreligioso, a observância dos votos religiosos professados na Congregação dos Vocacionistas, a comunhão com seus superiores, com os presbitérios desta Arquidiocese, além de ter desacatado autoridades civis, o padre José de Souza Pinto foi procurado pelo Governo da Arquidiocese e, através do arcebispo, dos bispos auxiliares e do vigário geral para o clero estabeleceu-se o constante diálogo com os superiores da Província dos Vocacionistas e com o próprio sacerdote. Em repetidas oportunidades, o padre Pinto foi convidado a rever suas posições.
A Arquidiocese solicitou a presença em Salvador do Pe. Ludovico Caputo, superior geral da Sociedade das Divinas Vocações, quando o referido sacerdote foi novamente convidado a reintegrar-se na Congregação e na Igreja. Dos encontros com o superior geral resultou um documento, assinado pelo superior e pelo padre Pinto, em que foram definidos prazos e medidas e ao qual o padre Pinto deu publicidade, mesmo que se tratasse de documento interno da sua Congregação.
Em todo o rocesso o Governo da Arquidiocese fez conhecido, ao próprio sacerdote e aos seus superiores, o desejo de orientar, preservar e reintegrar o padre Pinto.
Entretanto, o sacerdote continua intransigente, declarando-se, através da imprensa, decidido a manter as mesmas posturas, afirmando reiteradamente a sua sanidade mental, o que o torna responsável pelo que diz e pelo que faz.
Após ter ouvido os vários organismos da Igreja Particular de Salvador, ter consultado profissionais das áreas canônico-jurídicas e de saúde e, considerando centenas de manifestações espontâneas de religiosos e fiéis, esgotadas todas as possibilidades de diálogo, o Governo da Arquidiocese vem a público declarar:
A sua esperança de que padre Pinto, avaliando suas atitudes, possa reencontrar o verdadeiro sentido da sua profissão religiosa para o restabelecimento da sua integridade.
A disponibilidade em ajudar a Província Vocacionista a oferecer a Padre Pinto os cuidados necessários para o restabelecimento da sua integridade.
Que tem conhecimento de que a Sociedade das Divinas Vocações disponibiliza acolhimento, manutenção e residência digna ao seu irmão religioso.
Que solicitou à Congregação e ao próprio sacerdote que não permaneça residindo na paróquia da Lapinha
Que o referido sacerdote religioso não poderá exercer seu ministério no âmbito desta Arquidiocese, enquanto permanecer transigindo as normas da Igreja, as orientações da sua Congregação e da Arquidiocese de São Salvador da Bahia.
Que é tudo o que tem a declarar ao povo de Deus desta Arquidiocese, às autoridades e aos meios de comunicação
Governo da Arquidiocese de São Salvador da Bahia
Cúria Arquidiocesana Bom Pastor
Salvador, 9 de abril de 2006
Fonte: Correio da Bahia

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