terça-feira, dezembro 23, 2025

Flávio Bolsonaro, a cisão do PL e os dilemas da direita no Brasil rumo a 2026


Divisão de forças ameaça reduzir competitividade de Flávio

Pedro do Coutto

A decisão de Flávio Bolsonaro, senador pelo Rio de Janeiro e filho do ex-presidente, de lançar sua pré-candidatura à Presidência da República para as eleições de 2026 acendeu uma nova discussão política que vai muito além da simples escolha de um nome para o pleito.

A configuração interna do Partido Liberal (PL), o principal bastião do bolsonarismo, reflete preocupações profundas sobre estratégia eleitoral, unidade partidária e o posicionamento da direita no Brasil, que hoje enfrenta um quadro de forte liderança do presidente Lula da Silva e uma divisão de forças que ameaça reduzir sua competitividade eleitoral.

CLÃ SOB PRESSÃO – A trajetória de Flávio — que anunciou sua pré-candidatura com o apoio explícito do pai, mesmo com o ex-presidente inelegível e detido — evidencia que, mais do que conquistar votos, a campanha tenta preservar a relevância política de um clã sob pressão judicial e de imagem.

A reação no PL e nas forças alinhadas à direita não foi unânime. A escolha de Flávio afastou, na prática, nomes que ainda mantinham apoio considerável dentro e fora do partido, como Ratinho Júnior (PSD), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Romeu Zema (Novo) e Eduardo Leite (PSDB) — todos percebidos por parte do eleitorado como alternativas mais moderadas ou competitivas contra Lula.

Pesquisas recentes mostram que, em um eventual segundo turno, Lula venceria Flávio por margens significativas, com o petista marcando cerca de 51% a 36% nas simulações do Datafolha, enquanto outros nomes de centro-direita teriam desempenhos relativamente melhores, embora ainda sem ameaça real à liderança do presidente.

DUPLO EFEITO – Essa escolha partidária provoca um duplo efeito: por um lado, consolida o núcleo bolsonarista do PL, que vê em Flávio uma continuidade da agenda política do pai e um símbolo de fidelidade à base; por outro, agrava a fragmentação das forças de direita, alimentando a polarização em um ambiente político já tenso.

A percepção de que Flávio levará a campanha até o fim é compartilhada por quase metade dos brasileiros, segundo pesquisa Genial/Quaest, que indicou que 49% acreditam que ele de fato seguirá na corrida eleitoral até o fim, e 38% veem sua pré-candidatura como instrumento de negociação política.

O desafio para a direita brasileira, portanto, não é apenas encontrar um candidato competitivo, mas articular uma estratégia que vá além da mera herança política bolsonarista. Em um cenário em que nomes como Tarcísio e Ratinho — mais bem avaliados em simulações de segundo turno — ficam de fora da liderança partidária, a polarização pode se acentuar sem necessariamente ampliar a base de apoio.

LIDERANÇA – Lula mantém liderança clara em diversas pesquisas, com vantagem significativa tanto no primeiro quanto em simulações de segundo turno, e sua candidatura mostra estabilidade mesmo diante de cenários fragmentados à direita.

A construção de alianças robustas e a mitigação de cismas internos parecem essenciais para um campo derrotado, em 2022, em um segundo turno acirrado. A aposta unicamente na figura de Flávio, com seu desempenho eleitoral — relativamente menor em comparação com outros nomes — e elevada rejeição em segmentos amplos do eleitorado, coloca o PL diante de um dilema: persistir em uma estratégia que pode consolidar identidade partidária ou remodelar sua plataforma para buscar maior atratividade e competitividade nacional.

No fim, a reação interna ao nome de Flávio Bolsonaro é mais do que uma disputa de egos ou de heranças: é o reflexo de uma direita em busca de um projeto político que transcenda narrativas familiares e que responda aos desafios de um Brasil em rápida transformação social e eleitoral. A forma como esse dilema for resolvido — se por um consenso interno ou por uma cisão mais clara — terá impacto direto no modelo de disputa que se descortina para 2026, e pode influenciar a disposição de votos de milhões de brasileiros que hoje ainda definem se a eleição será um embate de continuidade ou de ruptura.

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