domingo, dezembro 21, 2025

Congresso se reaproxima do governo e leva crise ao Judiciário após operações

 

Congresso se reaproxima do governo e leva crise ao Judiciário após operações

Petista troca ministro, conversa com Motta e deve encontrar Alcolumbre nos próximos dias

Por Raphael Di Cunto/Carolina Linhares/Folhapress

21/12/2025 às 07:00

Atualizado em 21/12/2025 às 11:09

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

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Congresso Nacional

O governo Lula (PT) fez movimentos de reaproximação com o Congresso após semanas de conflitos e espera que o recesso apazigue de vez a relação, enquanto a tensão entre os parlamentares se desloca para o Judiciário, com seguidas operações policiais contra congressistas e a iminência de julgamentos polêmicos, como o que questiona a impositividade das emendas ao Orçamento.

No retorno, a prioridade do governo será a pauta da segurança pública, com a PEC (proposta de emenda à Constituição) sobre o tema e o projeto antifacção, ambos na Câmara. Além disso, está na lista de prioridades a aprovação no Senado do nome de Jorge Messias para ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).

O semestre é curto, por causa das eleições, e os parlamentares avaliam que o volume de votações será mais restrito.

A relação do governo com a gestão do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), viveu momentos conturbados ao longo do ano.

Entre os atritos estiveram a derrubada do decreto do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), a escolha de Guilherme Derrite (PP-SP), aliado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como relator do projeto de lei antifacção, a votação do projeto de redução de penas para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a PEC da Blindagem.

Lula atuou na última semana para distensionar a relação. Telefonou para Motta para acertar a pauta econômica e escolheu o filho de um aliado dele, o deputado Damião Feliciano (União Brasil-PB), como ministro do Turismo, no lugar de Celso Sabino —substituição que também o reaproxima do partido, até então rompido.

Para Motta, a relação está estabilizada e haverá mais diálogo em 2026. "Como todas as relações das nossas vidas, você tem aí os altos e baixos, e isso é muito natural, porque cada Poder tem a sua independência, cada Poder tem a sua maneira de agir, tem a sua dinâmica interna. Não está escrito na Constituição que um Poder tem que concordar com o outro em 100% dos pontos", disse ele a jornalistas na sexta (19).

Além disso, Motta reatou com o líder do PT na Câmara, o deputado Lindbergh Farias (RJ), com quem estava rompido desde novembro. Eles se encontraram na sexta (19) pessoalmente para discutir os desentendimentos e colocaram fim a briga. "Para mim, o jogo está zerado", disse o presidente da Câmara à reportagem.

Com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), Lula prometeu uma conversa para os próximos dias, após desentendimentos sobre a escolha para o STF —o senador queria que o indicado fosse Rodrigo Pacheco (PSD-MG), seu aliado. O petista também se encontrou com alguns dos principais líderes da Casa, que cobravam um diálogo mais frequente.

A retomada das conversas ocorreu após o adiamento da votação de Messias para 2026 e também depois da reação do Senado à decisão de Gilmar Mendes que dificultou o impeachment de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), cenário que abriu margem para a crise dos senadores com o Palácio do Planalto sair do foco.

Um problema para 2026 são os desentendimentos do líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT), com alguns dos principais integrantes da Casa, incluindo Alcolumbre –que passou semanas sem atender ligações dele por entender que atuou para a escolha de Messias– e Renan Calheiros (MDB-AL), que criticou o acordo de procedimentos que permitiu votar o projeto de redução de penas.

Por outro lado, a tensão entre Congresso e STF continuou a escalar. Em dezembro, operações policiais atingiram todos os campos: o governo, o centrão e a oposição.

A Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão contra Mariângela Fialek, a Tuca, assessora ligada ao ex-presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL) e que continuou a trabalhar na gestão Motta com o gerenciamento das emendas parlamentares ao Orçamento.

A operação foi autorizada pelo ministro Flávio Dino, do STF, para apurar suspeitas de irregularidades na destinação de recursos públicos por meio de emendas parlamentares. A investigação atinge em cheio alguns dos principais integrantes do centrão, que comandam o maior volume dessas verbas.

O grupo saiu em defesa de Tuca, e Motta divulgou uma nota para afirmar que a servidora exerce um papel técnico e que não há irregularidade na distribuição das emendas. O movimento, no entanto, incomodou a cúpula do Congresso –e há relatos de assessores agora temendo virar alvo também de operações.

Outra ação da PF atingiu o senador Weverton Rocha (MA), relator da indicação de Messias para o STF e líder do PDT no Senado, uma das bancadas mais lulistas. A mesma operação investiga também um pagamento de R$ 300 mil feito por ordem do lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, a uma empresária amiga de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha. Todos negam irregularidades.

Já na sexta (19), os alvos foram dois expoentes da oposição. Os deputados Carlos Jordy (PL-RJ) e Sóstenes Cavalcante (RJ), líder do PL na Câmara, são suspeitos de desviar recursos públicos das cotas parlamentares. Em um endereço ligado ao líder do PL, a PF apreendeu cerca de R$ 430 mil em espécie. Ele atribuiu o dinheiro à venda de um imóvel, e ambos acusaram Dino –que autorizou a operação– de persegui-los.

Um ponto que diminuiu um pouco a tensão foi que, nos casos dos parlamentares, apenas endereços pessoais ou funcionais foram alvo dos mandados, mas não ocorreu busca e apreensão nos gabinetes no Congresso. As operações no prédio do Legislativo são motivo frequente de reclamações, por exporem mais os congressistas.

Motta também se viu obrigado a cassar, pela Mesa Diretora, os agora ex-deputados Carla Zambelli (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ). O plenário rejeitou a perda de mandato de Zambelli, mas a Primeira Turma do STF determinou a imediata retirada do mandato, e ela acabou renunciando. O presidente da Câmara queria levar o caso de Ramagem também ao plenário, mas recuou e decretou a perda por faltas futuras e foi atacado pela oposição.

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