Nem tudo que se publica é verdade: jornalismo, interesses políticos e a continuidade do golpe
Por José Montalvão
Vivemos tempos em que a informação circula em velocidade maior do que a responsabilidade. Nem tudo o que se escreve, se publica ou se compartilha pode — ou deve — ser tratado como verdade absoluta. Parte do jornalismo brasileiro, especialmente aquele alinhado a interesses políticos e econômicos, tem abandonado um dos seus pilares fundamentais: a apuração rigorosa dos fatos, baseada em provas documentais, dados verificáveis e compromisso com a verdade.
Há jornalistas e veículos que publicam “linhas noticiosas” sem checagem adequada, transformando suposições em manchetes, insinuações em acusações e narrativas interessadas em fatos consumados. Isso não é jornalismo: é militância disfarçada de notícia. E esse fenômeno não ocorre por acaso.
Estamos às vésperas de novos ciclos eleitorais, e é ingenuidade acreditar que o golpe contra a democracia foi completamente derrotado. Ele não foi. Apenas mudou de forma. Hoje, o ataque não se dá mais apenas por tanques ou quarteladas, mas por meio da desinformação, da manipulação da opinião pública e da tentativa constante de deslegitimar instituições que ainda resistem.
Nesse cenário, muitos políticos estão literalmente “na corda bamba”. O chamado orçamento secreto — um dos maiores escândalos de desvio e apropriação indevida de recursos públicos da história recente — ainda não revelou todos os seus culpados. O que se sabe é que, quando essa caixa-preta for completamente aberta, muitos nomes graúdos da política e do empresariado nacional virão à tona. E isso assusta.
Não é coincidência que, ao mesmo tempo, pipocam escândalos envolvendo deputados, senadores e grandes empresários, sempre relacionados a corrupção, favorecimento ilícito, tráfico de influência e uso indevido do dinheiro público. Diante disso, cria-se uma estratégia clássica: desviar o foco.
Vale tudo para confundir a opinião pública — até transformar um par de havaianas em cortina de fumaça. Enquanto a sociedade discute banalidades ou escândalos fabricados, os verdadeiros crimes seguem sendo empurrados para debaixo do tapete.
É nesse contexto que se intensificam os ataques ao ministro Alexandre de Moraes e ao ministro Flávio Dino. O objetivo é claro: desestabilizar o Judiciário, enfraquecer quem enfrenta o golpismo e abrir caminho para a impunidade. Não se trata de críticas técnicas ou jurídicas legítimas, mas de uma ofensiva política travestida de indignação moral.
Sobre o episódio envolvendo o contrato da advogada, esposa do ministro Alexandre de Moraes, diversos juristas já se manifestaram de forma responsável: pode-se até discutir eventual imoralidade sob a ótica política ou ética, mas não há ilegalidade comprovada. Mais importante ainda: não existe qualquer prova concreta, documental ou jurídica que demonstre que Alexandre de Moraes — ou o próprio presidente do Banco Central — tenha praticado atos não republicanos.
O que existe, até agora, são falácias, ilações e narrativas construídas sem provas. O objetivo não é esclarecer fatos, mas manter viva a chama do golpe, desacreditar instituições e, sobretudo, livrar da responsabilização aqueles que se beneficiaram do orçamento secreto e de outros esquemas de corrupção.
De arbitrariedades, o Brasil já tem exemplos suficientes. A Lava Jato, hoje amplamente questionada e desmoralizada por suas práticas ilegais, seletivas e politicamente orientadas, é prova de que o combate à corrupção não pode ser feito à margem da lei. Não se combate crime cometendo crimes. Não se defende a democracia atacando o Estado de Direito.
Mais do que nunca, é preciso senso crítico, cautela e responsabilidade. Questionar é saudável. Criticar é legítimo. Mas acusar sem provas, publicar sem apurar e condenar sem fatos é colaborar, consciente ou inconscientemente, com aqueles que nunca aceitaram a democracia e seguem tentando solapá-la por dentro.
A verdade pode até ser atacada diariamente, mas ela continua sendo o maior inimigo dos corruptos e dos golpistas. E é justamente por isso que tentam, a todo custo, distorcê-la.