Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

quinta-feira, dezembro 29, 2022

Do relativo otimismo ao labirinto do ‘Bolsoverso’




Aliados querem que presidente se pronuncie hoje

Por Fernando Exman (foto)

Dois meses atrás, entre o primeiro turno e o segundo, o humor daqueles que frequentavam o Palácio da Alvorada oscilava entre a preocupação com o desempenho do morador da residência oficial da Presidência na reta final da campanha e um relativo otimismo com uma virada. Esta não aconteceu, mas a atenção com o comportamento de Jair Bolsonaro permanece.

Os que ainda têm livre acesso a ele tentam, em reunião nesta quarta-feira, convencê-lo a fazer um pronunciamento à nação. Uma despedida.

O formato ainda se discute. Pode ser a última das suas famigeradas “lives” ou, até mesmo, uma postagem protocolar nas redes sociais. Mas o apelo é para que Bolsonaro, sem foro privilegiado a partir do domingo e decidido a viajar aos Estados Unidos para não prestigiar a posse do sucessor, pelo menos dirija algumas palavras aos seus eleitores e aos apoiadores que se recusam a aceitar a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva.

Ele não deve voltar antes do carnaval. Seus interlocutores defendem que espere os primeiros cem dias de Lula III para ver a popularidade do rival, retomando, na sequência, o projeto de viajar pelo país.

Uma declaração o recolocaria na condição de potencial líder da oposição. E poderia acalmar os ânimos daqueles que, acampados em frente a quartéis, já ultrapassaram a fronteira da legalidade e adotaram métodos terroristas.

Incentivada pelo silêncio do presidente, essa turma vive de “fake news" no “Bolsoverso” - espécie de metaverso onde se experimenta uma vivência paralela fomentada por notícias falsas relacionadas a uma ruptura institucional. Outro dia, por exemplo, afirmou-se que a posse não poderia ocorrer até que fosse publicado um despacho específico no “Diário Oficial da União” formalizando a diplomação do eleito. Mentira.

Em outro caso, espalhou-se a informação falsa de que estava se dando mais respaldo jurídico para as Forças Armadas agirem como poder moderador, como pregam interpretações equivocadas do artigo 142 da Constituição. Eles se referiam a uma portaria regulamentando as atribuições da consultoria jurídica do Ministério da Defesa. Entre elas, “fixar a interpretação da Constituição”.

Na vida real, fora do “Bolsoverso”, regimentos internos de diversas pastas contêm exatamente o mesmo parágrafo. Segundo ele, cabe à consultoria jurídica do órgão em questão “fixar a interpretação da Constituição, das leis, dos tratados e dos demais atos normativos, a ser uniformemente seguida na área de atuação do Ministério, quando não houver orientação normativa do Advogado-Geral da União”.

Foi também a vida real que atrapalhou os planos da reeleição na reta final da campanha, quando a vantagem de Lula nas pesquisas diminuía.

As sondagens internas do comitê de Bolsonaro captavam sinais semelhantes. Segundo esses levantamentos, o presidente estava numa curva ascendente: projetava-se que ela poderia cruzar com a linha gráfica que representava as intenções de voto em Lula no fim de semana anterior ao pleito. Isso, claro, se tudo corresse bem.

Depois de muita resistência e seguidas medidas eleitoreiras que ainda terão efeitos duradouros nas contas públicas, Bolsonaro chegou a admitir que não agira corretamente durante a pandemia. E intensificou a agenda de rua em Estados estratégicos.

Lula, por sua vez, ia ganhando adesões de peso. Criadores do Plano Real, outros economistas de renome e empresários importantes sinalizavam apoio ao petista, fortalecendo a construção da frente ampla que semanas depois o conduziria em seu caminho de volta para o Planalto.

À medida que se aproximava o prazo estipulado pelos estrategistas da campanha bolsonarista para a tal possível virada, crescia a tensão no entorno do presidente. Perguntado se havia tempo suficiente, um importante ministro avançou: Vocês estão achando que a volta de Lula e do PT vai ser legal, vai ser boa para o país? Sem esperar a réplica, ele mesmo respondeu. Disse que via o Brasil como a mocinha do icônico videoclipe da música “Thriller”, de Michael Jackson.

No início do filme, o protagonista passa a imagem de bom partido. Todo arrumado, pede a moça em namoro. “Os dois vão ao cinema, assistem a um filme, comem pipoquinha.” Depois caminham, até passarem por um cemitério, quando aquele que parecia um galã atrai zumbis para fora de suas covas.

Na peça de ficção, o suposto mocinho transforma-se, ele também, em monstro. E sai dançando, em coreografia, com as criaturas que retornaram de outro plano. Com a alegoria, o auxiliar de Bolsonaro criticava aqueles que estavam, na sua visão, deixando-se seduzir por alguém que, apesar de um discurso brando durante a campanha, retornaria mal acompanhado e com políticas públicas antiquadas.

O recado até poderia sensibilizar aqueles que dão expediente na Faria Lima. Para baixo da pirâmide social, contudo, o jogo era mais difícil.

Com sua postura negacionista na pandemia, Bolsonaro perdeu pontos e mais pontos entre mulheres de classe média. Na visão da ala política, o governo demorou a implementar o Auxílio Brasil e, quando o fez, adotou um valor modesto. Defendia-se um benefício de R$ 800, para que o efeito nas pesquisas eleitorais fosse mais rápido.

Bolsonaro acreditou que o discurso religioso seria mais importante do que falar de economia, da vida real. Percebeu que isso não era verdade quando, em um misto de inocência política e arrogância, integrantes do governo fizeram uma reunião para planejar 2023 antes de concluída a disputa. Nela, discutiu-se, entre os possíveis cenários, do mais exequível ao mais remoto, a desindexação do salário mínimo. Documento vazado, estrago eleitoral feito.

Aquele fim de semana usado como potencial ponto de inflexão pela campanha bolsonarista chegou e, com ele, o criminoso ataque do ex-deputado Roberto Jefferson a agentes da Polícia Federal. Na sequência, a deputada Carla Zambelli ameaçou um homem negro com uma arma, após ter uma discussão política.

Os episódios afastaram aqueles que ainda poderiam apoiar a reeleição do presidente, mas se assustaram com o nível de violência. Esta preocupação inexiste no “Bolsoverso”, mas inclusive lá a posse de Lula será uma realidade no domingo.

Valor Econômico

Em destaque

Para rebater críticas, Pimenta diz que não é inimigo do governador Eduardo Leite

Publicado em 15 de maio de 2024 por Tribuna da Internet Facebook Twitter WhatsApp Email Lula se livrou de Pimenta, que não ficará mais no Pl...

Mais visitadas