Especialistas da Fiocruz atribuem ao atendimento malfeito, a alta taxa de letalidade da doença
RIO DE JANEIRO - A atual epidemia de dengue no Rio não é a maior, mas é a mais grave, porque marca a volta de um tipo de vírus, ausente desde os anos 90, para o qual as crianças que nasceram desde então não estão imunizadas. Especialistas da Fiocruz previram ontem que haverá em breve, no Rio ou em outra grande cidade brasileira, uma nova epidemia causada por esse vírus, o tipo 2. A falta de imunidade, o fato de nas crianças a doença ser mais aguda e o atendimento mal-feito são algumas das causas da letalidade alta da epidemia de dengue que atinge o Rio agora, listaram os especialistas.
O índice de letalidade referente aos casos de dengue hemorrágica registrados na cidade está 20 vezes maior em relação ao percentual tolerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). De 1º de janeiro até ontem, 31 pessoas morreram de dengue no município -19 tinham menos de 14 anos, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. “A dengue do tipo 2 estava desaparecida havia mais de dez anos. Os adultos adquiriram anticorpos quando o vírus estava presente. Já as crianças, não estão imunes. A rede pública de saúde não está preparada. Isso mostra a possibilidade de vir epidemias piores”, afirmou o clínico Antônio Sérgio da Fonseca, assessor da vice-presidência de Serviços de Referência e Ambiente da Fiocruz.
Para o epidemiologista Paulo Sabroza, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, mais crianças deverão morrer caso não sejam atendidas com rapidez e de maneira correta. “Não será com soro caseiro que irá se tratar criança. A dengue exige tratamento especializado e oportuno”, disse ele, para quem o fumacê de rua “é inócuo”. Ele sustenta que, sem combate efetivo aos focos do mosquito, outras epidemias serão inevitáveis. Ele fala na necessidade de empregar “pessoal especializado, orientado pela inteligência epidemiológica” para detectar e destruir os focos e providenciar a “transformação ambiental” do lugar. Especialista da Fiocruz, a infectologista Patrícia Brasil recomenda às mães que prestem atenção ao período de melhora das crianças após três a cinco dias da doença. A dengue volta com força depois.
É apenas uma questão de tempo para que o vírus do tipo 4 da dengue chegue ao Brasil. A afirmação é do epidemiologista da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Paulo Sabroza, feita ontem em reunião na fundação para discutir a epidemia da doença. Presente em países com a Venezuela e ainda não disseminado no Brasil, o vírus 4 pode ocasionar quadros de epidemia ainda mais graves que o deste ano, segundo Sabroza, já que a população do país ainda não está imune a ele. “A questão não é mais se o vírus 4 entrará ou não no Brasil, mas quando. Ele pode entrar em qualquer momento, mas é impossível dizer quando”, afirmou.
Segundo Sabroza, o vírus 4 não é o mais grave dos tipos de dengue, mas pode causar “uma epidemia de milhões de pessoas se não for combatido.
Repelentes - A epidemia de dengue em bairros onde a incidência é mais crítica na zona oeste do Rio faz com que mães usem repelentes até em crianças com menos de 6 meses de idade, o que não é recomendado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Para fugir do mosquito, prefeitura, escolas e pais recomendam às crianças o uso de calças compridas e repelente. Na região de Jacarepaguá, onde 1,3% dos habitantes foram vítimas neste ano, a epidemia provocou uma corrida por repelentes às farmácias do bairro.
A partir dos 6 meses até 2 anos, a aplicação deve ser acompanhada de um pediatra. Para o infectologista Edmilson Migowski, da UFRJ, Edmilson Migowski, “o risco da dengue é maior”. “Diante da situação de calamidade, pesando riscos e benefícios, vale a pena usar o artifício em crianças acima de 6 meses. Mas abaixo desta idade, não é recomendado’’. Os pais devem evitar passar o produto em mucosas e nas mãos dos bebês – para evitar que coloquem o repelente na boca. (Folhapress)
Fonte: Correio da Bahia
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