Não é necessário ser vidente para concluir que um lago de incertezas banha o Palácio Thomé de Souza. O prefeito sente as traíras subirem pelas costas. Mas não é nada fácil expurgá-las do seu habitat que, coincidentemente, é o mesmo de João Henrique. Resultado: resta-lhe, através de advertências e recados objetivos, aconselhá-las a mudarem de lar. Mas há uma pressão política feroz que atormenta o prefeito, fazendo com que não consiga, por enquanto, separar os filhos legítimos dos bastardos. Para o cientista político Gerson Oliveira, a sucessão em Salvador, como de resto nas grandes cidades baianas, vive hoje um período de ajustes e de definições, mas tende se afunilar à medida em que se aproximem as convenções - acontecem durante todo o mês de junho - quando os partidos lançam formalmente suas chapas majoritária - prefeito e vice - e proporcionais - vereadores. Depois dessa etapa, as alterações são ínfimas em função do rigor da legislação eleitoral. Rigorosamente, mesmo se estando ainda a cinco meses das convenções partidárias, as cortinas do teatro político-eleitoral baiano já encontram-se abertas. Nessa etapa, um vale-tudo toma conta das primeiras conversas entre as cúpulas das diversas siglas. Umas estão à procura de parceiros que comunguem com suas cartilhas, enquanto outras se dispersam exatamente porque já não se suportam ou porque foram picadas pela mosca azul, tornando-as cheias de não-me-toques. É nesse último grupo que estão agregados os partidos em torno do prefeito. A cada dia torna-se mais complicada a manutenção da aliança e, consequentemente, do governo de coalizão. De um ano para cá, três baixas foram contabilizadas na prefeitura. Pelo menos duas delas tinham seus próprios candidatos à cadeira de João Henrique. O PSDB, que se viu obrigado a sair para dar lugar ao PMDB, tem no ex-prefeito Antonio Imbassahy e seu atual presidente regional, a esperança de emplacá-lo. Mais recentemente, o PCdoB foi também levado a entregar os cargos municipais, após praticamente fechar questão em torno da candidatura majoritária da vereadora comunista Olívia Santana (Por Janio Lopo - Editor de Politica)
Aliança a um passo de se desmoronar
Por fora da muvuca política que invadiu a praia dos prefeituráveis, já se discute abertamente quem tira voto de quem e quem se beneficiará com a entrada deste ou daquele componente no cenário eleitoral. Há um consenso: o segundo turno, sobretudo em razão da dispersão das forças governistas de hoje, é inevitável. “Não há nenhum fato real, nesse exato momento, que nos mostre o contrário”, adverte o cientista político Gerson Oliveira. Tem-se como favas contadas a candidatura do também deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto à prefeitura da capital. Ele traz consigo toda a herança deixada pelo avô ACM, embora o chamado carlismo se constitua agora num espectro do passado cuja tendência é cair na malha do esquecimento. Pois bem, numa simulação para valer, onde os aliados de hoje serão adversários em outubro, o bom senso indica que o beneficiado será ACM Neto, que aparece em todas as pesquisas até aqui divulgadas pela mídia. Este é um dado irrefutável. Quem perde? Aparentemente todas as forças rotuladas de centro-esquerda e de esquerda. Há na parada, mais decidido do que nunca, o apresentador Raimundo Varela e seu PRB (para quem não conhece estas são as iniciais do Partido Republicano Brasileiro, o mesmo do vice-presidente da República, José Alencar), que pode sugar uma boa parte dos votos de João Henrique nas classes D e E. Óbvio que de repente as nuvens podem mudar de lugar com a eventual desistência de candidaturas tidas como eleitoralmente viáveis. Essa é uma situação previsível. Os que recuarem, de todo modo, tendem a fechar acordo com os que irão até o fim. Levará vantagem o candidato que reunir as maiores e as mais importantes adesões. Elementar, meu caro leitor. (Por Janio Lopo - Editor de Politica)
PT e PMDB: relação de amor e ódio
Não são apenas os bicudos que não se beijam. PT e PMDB, as duas mais expressivas forças políticas baia-nas andam atirando um no outro, mas com o cuidado de não deixarem rastros de chagas que não possam ser saradas. As eleições municipais deste ano dirão quem tem mais farinha no saco. Duas feras poderão se digladiarem silenciosamente nos bastidores, mas mostrando-se mansas e mesmo cúmplices uma da outra, em público. Conscientes da responsabilidade e da necessidade de segurarem os pepinos (tenha certeza, leitor, são vários pepinos e, de quebra, alguns abacaxis para serem descascados), o governador Jaques Wagner (PT) e o ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima (PMDB) se vêem na obrigação de frear os excessos porventura cometidos por liderados. Aparentemente, eles têm um projeto comum: assegurar a reeleição de João Henrique. Geddel está metido nessa meta até o pescoço. Wagner tem a resistência do seu PT. O governador adota um posicionamento favorável à candidatura única das batizadas forças progressistas, reafirmando sua crença de que o prefeito reúne as condições indispensáveis para continuar no comando de Salvador mantendo o governo de coalizão. O fracasso de um ou de outro - Geddel e Wagner - ou dos dois, será como um tiro no meio da testa de ambos, que estão de olho também na eleição de 2010. Não seria exagero dizer que Wagner e Geddel vivem de aparência. Um pega-pra-capar entre eles terá, inevitavelmente, reflexos negativos para o PT e o PMDB, com a possibilidade - pouco provável - de um desdobramento nacional. Há um dado novo envolvendo a sucessão municipal: a tentativa de veto à candidatura do deputado federal Marcos Medrado. Ironicamente, Medrado está sendo boicotado pelo presidente regional do seu partido, o PDT, deputado Severiano Alves, que não esconde o namorico com Imbassahy e todo o tucanato. Em se tratando de Medrado, porém, o buraco é mais em cima. O parlamentar, que responde pela Executiva municipal do PDT, a contragosto de Severiano, conta com o apoio do presidente nacional, ministro do Trabalho, Carlos Lupi, simpático à idéia de um candidato próprio à prefeitura, contrariando possíveis acordos de Severiano no âmbito municipal. Apesar de disposto a não polemizar e nem causar embaraços a Severiano, Medrado deve insistir na sua postulação,ainda que apenas para mostrar ao seu carrasco que o PDT não tem dono e que não aceita posturas antidemocráticas. (Por Janio Lopo - Editor de Politica)
PDDU é transformado em vilão
Usando como pano de fundo a aprovação do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU), o PT e o PSB se insurgiram contra João Henrique, levando de roldão o partido deste, o PMDB. Na verdade, porém, petistas e socialistas já vinham ensaiando um certo descontentamento, providencial, aliás, para justificar os descaminhos com relação a administração. Não é novidade que o PT quer fazer o próximo prefeito, mas que tenha a sua cara. Ou seja, que seja partido do seu próprio ventre. O preferido (tudo leva a crer que será ele, sim), o deputado federal Nelson Pelegrino deve ir para a fogueira pela terceira vez consecutiva (perdeu duas para Imbassahy e uma para João). Pelegrino acha, entretanto, que é pule de dez. Teoricamente, contaria com as bençãos do presidente Lula e de Wagner. Um petista escarrado e cuspido se juntaria a outros puros-sangue, que fariam das tripas coração para abarrotar os cofres da cidade de dinheiro para tocar seus projetos. Afinal, é permitido sonhar. No embalo do PT, os socialistas não resistiram e correram para a platéia de quem, acreditam, já têm o aprovo para entrar no páreo, utilizando-se do patrimônio eleitoral da deputada federal Lídice da Mata, a parlamentar mais bem votada na capital na última eleição. O PT e o PSB, no entanto, contrariam o dito popular segundo o qual para bom entendedor meia palavra basta. No primeiro dia do novo ano, João Henrique foi explícito: os insatisfeitos que façam as trouxas, arrumem as gavetas e se dirijam ao primeiro ponto de ônibus rumo às suas casas ou para o destino que considerarem mais adequado. Apesar da cara feia, PT e PSB insistem em ficar. Mas, apostem, eles vão escafe-der-se, mas no momento mais conveniente para os próprios - numa data próxima às convenções partidárias ou, quem sabe, agora após o Carnaval. Não há nada mais tentador à classe política do que a formalização de acordos. O motivo é simples: do mesmo modo que ele foi selado, o acordo pode ser desfeito. Ou, como preferem eles, apenas descumprido. Sinaliza-se, entre o PMDB e o PT um tratado nos seguintes termos: um apoia o outro onde o partido for mais forte. Entretanto, o que se diz aqui se desdiz acolá. O PMDB está em plena fase de crescimento e, obviamente, não vai conter-se somente porque está assim e assado com o PT que, por sua vez, não tem razão pata abrir os braços e os corações a quem pode sufocá-lo. Olhando sob esse prisma pode-se afirmar, com reduzida margem de erro, que os dois partidos vão se espetar pelo interior baiano. O PMDB conta com quase 150 prefeituras no Estado - a maioria de migrantes insatisfeitos onde estavam. A tendência expansionista é uma realidade para a legenda, o que, de certa forma, vai se refletir nas eleições de 2010, inclusive com uma hipotética candidatura do seu presidente licenciado, Geddel Vieira Lima, a um cargo majoritário - governador ou senador. Quanto a isso, há pendências no ar, principalmente por conta da aliança com o PT, se bem que no caminho de rosas também nascem espinhos. Há, porém, cidades em que o PMDB não terá uma opção exceto a de coligar-se com o PT. Camaçari é uma delas. Lá reina absoluto o prefeito Luiz Caetano cuja reeleição é tida como favas contadas. O PMDB pode ainda dar uma mãozinha ao PT na vizinha Lauro de Freitas, onde o Democratas, com o ex-prefeito Marcelo Abreu e o PP com o também ex-prefeito e deputado estadual Roberto Muniz, ameaçam seriamente desabar o castelo da reeleição de Moema Gramacho. Em Feira de Santana, o pau deve comer. Petistas e peemedebistas estão convencidos que podem, isoladamente, bater no nome a ser apresentado pelo DEM para substituir o prefeito José Ronaldo. O PT (especula-se) desfilará com o deputado Zé Neto, que tem a sua cola outro parlamentar: Sérgio Carneiro. Já o PMDB tem o quadro melhor colocado nas pesquisas de intenção de voto: o deputado federal Colbert Martins Filho. PT e PMDB vão se estranhar em Feira, conforme os prognósticos de analistas políticos. (Por Janio Lopo - Editor de Politica)
Fonte: Tribuna da Bahia
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