Clara Albuquerque Redação CORREIO Foto: Angeluci Fiqueidedo
Entre outros significados, o amor é o sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma coisa. É um sentimento profundo que proporciona prazer, entusiasmo, paixão. E poderia parar por aí. No entanto, muitos já ouviram história de pessoas que vivem relações amorosas que são verdadeiros infernos. Nesses casos, o significado da palavra amor muda. Vira angústia, desespero, ciúme, dor e, até mesmo, doença. Pensando nessa situação, a organização não-governamental Mada (Mulheres que Amam Demais Anônimas) desenvolveu grupos de ajuda mútua para aquelas cujo amor é instrumento de destruição. Mas como um sentimento tão nobre pode tornar-se tão destrutivo? Quem são essas mulheres? Como reconhecer e lidar com a situação?
A psicóloga e psicoterapeuta Rosa Claudia Almeida explica que quando o amor traz sofrimento e dor ao indivíduo é sinal de que algo não está certo. 'O amor patológico é uma doença que acomete a área das relações amorosas em geral e, mais incisivamente, nas relações entre homens e mulheres. Caracteriza-se pelo comportamento repetitivo e sem controle de prestar cuidado sedar atenção demais ao parceiro', diz.
Especialista no atendimento de pessoas que apresentam o amor patológico, Rosa Claudia conta que essas pessoas buscam no outro a fonte de tudo para suprir carências individuais e fugir de sentimentos como o vazio e a angústia originados nas faltas de sua história de vida. 'O amor patológico provoca o que chamamos de dependência sem droga química e funciona realmente como um vício. Essas relações são cheias de brigas e ou situações de ciúme, por exemplo, que geram um quadro de vício da sensação de preenchimento provocada pela adrenalina liberada nesses conflitos', diz.
A psicóloga ressalta que a patologia, se não for tratada, pode se tornar uma doença progressiva e fatal, levando ao desespero de um suicídio ou assassinato.
MULHERES NA MIRA Segundo Antônio Pedreira, médico psicoterapeuta e educador, a mulher enfrenta mais o problema por entrar de cabeça nas relações. 'Elas são mais sensíveis, mais românticas e apaixonadas pelo amor. Se deixam inspirar por filmes como Romeu e Julieta e a sociedade aceita que ela chore e sofra por amor', diz Pedreira, que trabalha há 30 anos com casais através de um método psicológico chamado análise transacional. A psicóloga Rosa Claudia Almeida completa que, embora também aconteça no sexo masculino, a manifestação patológica no homem é mais recorrente em atividades mais externas e impessoais, como jogo ou trabalho.
Dr. Pedreira explica que, após a fase da paixão, que dura de um a dois anos e meio, o sentimento pode virar o 'amor companheiro', que seria o ideal, ou o 'amor desgaste', onde geralmente um dos indivíduos se afastado outro.' Quem se afasta, se forta lece, enquanto o outro enfraquece e tenta fazer voltar a fase apaixonante. É nesse momento que pode acontecer o que chamamos de grandiosidade, o exagero no pensar, no sentirenoagir' .Muitas vezes, essas relações destrutivas estão vinculadas a um caso de depressão, algum tipo de ansiedade, síndrome do pânico e outros transtornos psicológicos.
'Algumas pessoas têm uma predisposição genética para a depressão e quando chegam a um nível de estresse além do limite a química do cérebro muda e é preciso, além de medicação que normalize essa química, alguma terapia para acabar com o conflito causador do estresse inicial', finaliza o médico.
AJUDA
Nos moldes dos Alcoólicos Anônimos, que funcionam através de reuniões onde os participantes compartilham suas histórias, o Mada abriga mulheres com a proposta de falar sobre o problema e desenvolver novos instrumentos para lidar com a situação. Para Claudia Rosa, a combinação de uma terapia mais o grupo de recuperação é o tratamento que vem trazendo maiores resultados. 'É importante saber que existe recuperação', salienta.
A criação de grupos de recuperação e ajuda mútua a essas mulheres surgiu a partir de um livro, Mulheres que amam demais, de 1985, de Robin Norwood. O livro foi baseado na própria experiência da autora e de outras centenas de mulheres envolvidas com dependentes químicos. Ela percebeu um padrão de comportamento com um em todas elas e as chamou de 'mulheres que amam demais'. No final do livro, sugere como abrir grupos para tratar da doença de amar e sofrer demais.
A primeira reunião do Mada no Brasil aconteceu em São Paulo, no dia 16 de abril de 1994, sob a iniciativa de uma mulher casada com um dependente químico que se identificou com a proposta do livro. O projeto cresceu pelo país e atualmente tem cerca de 40 reuniões semanais distribuídas por 11 estados e o Distrito Federal. Em Salvador, o grupo já se encontra há quase seis anos e mantém três reuniões semanais nos bairros Rio Vermelho, Brotas e Ribeira.
Endereços Mada em Salvador:
Grupo Mada Vitória Rua Campinas de Brotas, n° 737 - Bairro Brotas - Salvador Mosteiro Nossa Senhora da Conceição Reunião: sábado, das 15h às 17h30.Grupo Mada Esperança Rua Guedes Cabral, Largo de Santana - Rio Vermelho - Salvador Igreja de Santana Reunião: 5ª feira das 19h às 21h. Grupo Mada Renascer Praça Dórea Reis, n°2, Ribeira Igreja Nossa Senhora da Penha Reunião: terça, das 19h às 21h.
Fonte: Correio da Bahia
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