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segunda-feira, outubro 06, 2008

Começou a campanha presidencial

Por: Carlos Chagas

BRASÍLIA - Mais do que a campanha pelo segundo turno nas cidades onde se realizará, começa hoje a luta pela sucessão de 2010. Começa hoje? Vamos marcar coluna do meio, porque começou faz muito. Hoje, porém, começam as hostilidades sistematizadas, planejadas e obrigatórias.
Tome-se o PT. Não elegeu e pode não eleger os prefeitos dos maiores centros eleitorais do País. Nem São Paulo, nem Rio, nem Porto Alegre, nem Curitiba, muito menos Salvador, Recife, Fortaleza e outras capitais. Assim, para aspirar condições de eleger o sucessor do Lula, o PT precisará manter ou virar o jogo no segundo turno, muito menos com o objetivo de governar essas cidades, muito mais para manter aberto o caminho para o Palácio do Planalto.
Alguém certamente lembrará que Belo Horizonte não foi citada na relação acima, mas, apesar da óbvia escolha de Márcio Lacerda, é bom lembrar que ele não pertence ao PT. Será do Partido Socialista? Nem tanto. Integra o PCG, Partido do Ciro Gomes. Se o ex-governador do Ceará decidir lançar-se para presidente, mesmo contra o PT, os companheiros não devem esperar seu apoio para Dilma Rousseff ou qualquer outro petista.
A partir dos resultados do segundo turno, as cartas estarão na mesa, apesar de algumas viradas. No PSDB, por exemplo, José Serra vai reunir todos os cacifes de que possa dispor para demonstrar que São Paulo é majoritariamente dele, apesar dos percentuais do PT. Derrotado em seu estado, e diante da vitória óbvia de Aécio Neves em Minas, as coisas ficarão complicadas para sua candidatura presidencial.
Quanto ao PMDB, dispõe do objetivo único de poder indicar o candidato à vice-presidência na chapa do PT. Buscará, o maior partido nacional, apresentar-se com quantidade, mais do que com qualidade. Não obstante as prováveis vitórias de José Fogaça, em Porto Alegre, e Íris Resende, em Goiânia, pesará mais o número de prefeituras conquistadas nos grotões.
Observando tudo, o presidente Lula. Caso perceba a impossibilidade da eleição de alguém por ele indicado, estará em meio ao dilema cruel de preservar o poder através do terceiro mandato ou de receber as reprimendas e até ser abandonado pelos companheiros.
Apesar de tudo, a melhor
Os vinte anos da Constituição-cidadã conduzem à conclusão de que melhor não poderia ter sido. Saudada como a carta de alforria do povo brasileiro, logo passou a sofrer as investidas conservadoras e neoliberais de quantos se ressentiam da ampliação dos direitos individuais e sociais constantes de seu texto. Em pouco tempo tornou-se a "Geni" dos versos de Chico Buarque, a culpada de todos os males nacionais. Contestada mas respeitada por José Sarney, começou a ser erodida por Fernando Collor e viu-se presa dos complexos de ex-esquerdista do sociólogo.
Fernando Henrique quase a destruiu a partir do verbo-palavrão chamado "flexibilizar". Muita coisa foi por água abaixo, desde os monopólios à garantia da soberania nacional, da preservação da Amazônia até os postulados mais caros à democracia, como o da alternância no poder. FHC violentou a Constituição ao impor e comprar, no Congresso, um segundo mandato para o qual não fora eleito.
De lá para cá, 56 emendas foram aprovadas pelo Congresso, mas com a singularidade de determinadas questões fundamentais não terem sido resolvidas. Nem no texto original nem na lei ordinária, apresentada como solução extrema.
Tome-se apenas um exemplo. O artigo 220 estabelece que a lei defina os mecanismos para a defesa do cidadão e da família dos excessos da programação de rádio e televisão. Os constituintes não ousaram encontrar a solução, que jamais poderia ser de censura prévia, mas poderia muito bem determinar pesadas punições a posteriori para a mídia que incorresse em reincidência.
Pois bem: os mesmos obstáculos que impediram os constituintes de chegar a um entendimento permanecem até hoje assombrando deputados e senadores em diversas legislaturas. Ninguém mexe nesse vespeiro capaz de indispor poderosos grupos da mídia com o Congresso.
Por isso se diz que a Constituição de 1988 foi a melhor que poderia ter sido. Apenas, deixou de ser aprimorada, fora raras exceções. Em parte, foi dilapidada...
Quem sabe agora?
Desde o início da crise financeira americana que estamos sendo punidos, mesmo sem culpa. Nas últimas duas semanas a Bovespa caiu mais do que a Bolsa de Nova York. As restrições ao crédito e ao consumo, por aqui, superaram as de lá, apesar das proporções. Só que os bancos, nos Estados Unidos, começaram a balançar. Os do Brasil, nem pensar. Apenas, jogaram o ônus da crise para os correntistas.
Vamos ver se agora, adotadas lá em cima medidas de emergência, haverá correspondência aqui em baixo. Nada de bilhões dados aos bancos, porque os nossos não necessitam, mas alguma coisa em condições de beneficiar o cidadão comum, como redução de impostos e garantia de crédito.
O governo Lula não tem mais condições de alardear que a crise não nos atingiu e que vamos passar ao largo da tormenta. Basta ver a ascensão do dólar, a redução das exportações e o custo crescente das importações. Sem falar nos prejuízos na Bovespa.
Aécio e Dilma?
Não cabe ao jornalista brigar com a notícia. Importa divulgá-la, por mais absurda que pareça. Na semana passada um rumor tomava conta de Brasília: caso Dilma Rousseff não venha mesmo a decolar, o presidente Lula estaria disposto a indicá-la como candidata à vice-presidência, para demonstrar seu poder e sua influência.
Na chapa de quem? Por incrível que pareça, de Aécio Neves, sempre de boas relações com o Palácio do Planalto. A operação exigiria milagres de engenharia política, desde o desligamento do governador mineiro do ninho dos tucanos até o convencimento do PT de que melhor será um aliado na presidência da República do que José Serra...
Fonte: Tribuna da Imprensa

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