Depois que o inquérito é instaurado, delegado só precisa prestar contas ao Poder Judiciário
Vasconcelo Quadros
Brasília
A Polícia Federal abriu, ontem, o inquérito que vai apurar o vazamento de informações sigilosas sobre gastos com cartões corporativos nos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. As investigações serão chefiadas pelo delegado Sérgio Barboza de Menezes, segundo homem na hierarquia de comando na Superintendência de Brasília.
O foco é o vazamento, a violação dos computadores e o possível envolvimento de funcionários do Palácio do Planalto com a quebra de sigilo funcional. Ao contrário do que imaginavam governo e oposição, a apuração pode não ficar restrita a essas três linhas. Subordinado apenas ao judiciário depois que o inquérito é instaurado, o delegado tem liberdade para direcionar a investigação para qualquer lado, desde que surjam indícios de outros delitos, como o objetivo do vazamento.
Dossiê ou banco
A Polícia Federal não está preocupada em tratar o conteúdo do vazamento como como dossiê ou banco de dados e, por enquanto, nem com o possível uso político do episódio. Além de periciar os computadores, tomar o depoimento de funcionários, o delegado poderá ouvir também políticos que tiveram seus nomes citados no caso. Um deles pode ser o deputado Raul Jugmann, ex-ministro da Reforma Agrária do governo FH. Ele é citado no levantamento de gastos e, na semana passada, pediu a abertura de inquérito por meio de ofício encaminhado à Polícia Federal em Pernambuco.
Jungmann já virou alvo de auditoria aberta ontem pela Controladoria Geral da União (CGU) para apurar gastos com massagem no Rio de Janeiro e alimentação em Brasília, incompatíveis com a natureza dos cartões corporativos ou pelos gastos tipo B, que prevê ressarcimento de notas fiscais.
Se o deputado não justificar as despesas, a CGU vai pedir a devolução do dinheiro, como fez com os ministros de Lula logo que o escândalo dos cartões veio à tona.
O deputado ficou sabendo da auditoria pelo ministro Jorge Hage, da CGU, e disse que nada tem a esconder. Na nota que mandou distribuir, não explica os gastos, mas pediu que o procedimento seja estendido a outros ministros do atual governo e às contas do próprio presidente Lula.
– A CGU tem a obrigação moral de, a partir de agora, fazer também o mesmo que com todos os ministros do atual governo e com o presidente – disse o deputado, sugerindo uma devassa total e irrestrita nos gastos reservados do governo.
Nova posição
Durante entrevista coletiva, ontem à tarde, o ministro da Justiça, Tarso Genro – que há uma semana não enxergava qualquer motivo para a entrada da Polícia Federal no no caso – procurou passar a idéia de que a PF só vai apurar a ilegalidade do vazamento e na suposta invasão aos computadores da Casa Civil.
– Não será uma investigação política. Graças a Deus não temos política política no Brasil – minimizou o ministro.
Pelo desejo de Genro, a polícia se preocuparia em apurar como foram vazados os dados de gastos com cartões e a suspeita de envolvimento de servidores federais para sugerir que sejam processados.
Genro confirmou ter recebido, no final de semana, telefonema da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, pedindo uma investigação que não pode ser alcançada por sindicância, como antes o governo queria. Como não cumpre uma requisição pontual de outro órgão, o inquérito aberto ontem pode ser o mais abrangente possível, como o que apurou e responsabilizou os amigos do presidente Lula na tentativa de uso político do dossiê da família Vedoim contra o PSDB, em meio às eleições de 2006.
Fonte: JB Online
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