Palavrões e xingamentos estão nas notas taquigráficas
Márcio Falcão
Brasília
Dedo em riste, ofensas verbais, ameaças e empurrões são cenas cada vez mais comuns no Senado. Nos últimos seis meses, nos embates políticos entre governo e oposição, é cada vez mais comum os senadores deixarem de lado o decoro parlamentar na hora de defender suas posições.
Plenário e comissões de inquérito são os palcos preferidos dos congressistas para a falta de bom senso que em nada lembram os tempos de Rui Barbosa. Nesta semana, os parlamentares presenciaram, em plenário, o desfecho dos "cacarejos" do senador Mão Santa (PMDB-PI).
O peemedebista perdeu o tom ao chamar a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de "galinha cacarejadora" dizendo que ela prefere defender insistentemente as obras do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) ao invés de esclarecer o vazamento de informações do suposto dossiê contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Em seguida, Mão Santa estendeu o cacarejo ao presidente Lula.
– Ô Luiz Inácio, com todo o respeito: eu também o mando cacarejar – disparou.
A bancada feminina protestou e entregou à biblioteca da Casa uma boneca de pano e uma galinha empanada, com o objetivo de simbolizar a diferença entre uma mulher e uma ave. Algumas, inclusive, foram ao Palácio do Planalto prestar apoio à ministra.
Outro episódio constrangedor para o Senado ocorreu em fevereiro com insultos e agressão corporal. Os protagonistas foram os senadores Gilvam Borges (PMDB-AP) e Mário Couto (PSDB-PA). O clima durante a discussão sobre a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o uso dos cartões corporativos no governo federal. Ao discursar, Borges chamou a oposição de "irresponsável" por insistir no tema e paralisar as atividades do Congresso, e afirmou que os adversários do governo fazem "fofoca".
Couto se irritou e rebateu dizendo que apesar dos pequenos valores envolvidos nas irregularidades já comprovadas, o gasto do dinheiro público deve ser fiscalizado com rigor. A discussão se elevou e eles partiram para agressão verbal:
- Vossa Excelência é um vagabundo – atacou Borges, empurrando Couto.
– Safado – respondeu o tucano.
Frente a frente, os senadores trocaram empurrões e foram separados pelos colegas.
– Sei que uma briga como essa não é boa para a imagem do Parlamento. Mas com os ânimos exaltados fica difícil controlar - argumenta Couto.
As CPIs também costumam passar por momentos de tensão. Um mês em funcionamento e o que mais ocorreu na CPI mista dos Cartões foram desentendimentos. Sem conseguir avançar com convocações que incomodem o Palácio do Planalto, a oposição não economiza provocações. O deputado Vic Pires (DEM-PA), por exemplo, distribuiu sorvete de tapioca aos membros da CPI. Segundo ele, o produto é uma iguaria do Pará. Mas na realidade foi uma clara referência aos governistas. Um dos gastos irregulares com cartões corporativos atribuído ao ministro do Esporte, Orlando Silva, foi na compra de duas tapiocas, no valor de R$ 8,30, em uma tapiocaria conhecida de Brasília. À época, Silva disse que pagou a tapioca com o cartão do governo por engano.
Fonte: JB Online
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