Deputado defende o capitalismo, boa convivência com Lula e a renegociação da dívida carioca
Com sua pré-candidatura a prefeito oficializada ontem pela Frente Carioca, formada por PV, PSDB e PPS, o deputado federal Fernando Gabeira (PV) lançou-se na disputa defendendo a renegociação da dívida da Prefeitura do Rio com a União para que a cidade volte a pagar 6% de juros anuais, em lugar dos atuais 9%.
Em entrevista ao lado do ex-governador tucano Marcello Alencar, um dos articuladores do lançamento de seu nome, o parlamentar apresentou um discurso de campanha moderado e, bem diferente do Gabeira que disputou o governo em 1986 como candidato alternativo, defendeu o capitalismo. Garantiu ainda querer uma boa relação com a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que no passado atacou, principalmente em razão das denúncias de corrupção no governo federal e por problemas ambientais.
"Uma vez o País compreendendo que o Rio está num processo de renascimento, uma vez que conseguirmos criar uma corrente positiva em todo o País e até no mundo pela recuperação do Rio, acredito também que abriremos condições políticas de renegociar esse particular", disse Gabeira, referindo-se à dívida com a União, de R$ 10 bilhões. "A minha idéia é primeiro ganhar força e depois negociar."
Na gestão de Cesar Maia (DEM), a Prefeitura não pagou a conta gráfica, de R$ 1 bilhão, equivalente a 20% da dívida renegociada pelo antecessor, Luiz Paulo Conde, e por isso passou a pagar 9% de juros. O não-pagamento da conta, nesse caso, é opção do devedor. Maia queria abater dela débitos da União junto ao município, o que o Planalto não quis, e por isso não fez o pagamento.
Gabeira afirmou acreditar que a polarização esquerda versus direita, "tão dominante no século passado", talvez não seja o ponto central agora. "Vamos desenvolver o Rio de uma forma capitalista", afirmou o deputado, que, ao longo de meio século de militância, passou pela esquerda do PTB pré-64, pela Dissidência Comunista da Guanabara (mais tarde, MR-8), pelo PT e fundou o PV.
"Estamos fazendo um acordo com os capitalistas nacionais e internacionais para desenvolver o Rio de Janeiro. Exigimos aquilo que o capitalismo mais avançado exige, que é o respeito ao meio ambiente e às condições de trabalho. Se houver uma proposta que faça crescer o Rio de outra maneira, vamos considerar."
Gabeira se mostrou aberto a todos os partidos e fez um discurso de "salvação" da cidade. Ele atribuiu problemas enfrentados por Maia, como a campanha pelo boicote ao pagamento do IPTU, forte na Zona Sul, à incapacidade do prefeito de impor ordem urbana - cuja defesa foi outra novidade no discurso do parlamentar - e à falta de diálogo. "O Rio tem um prefeito que estuda muito, mas tem um prefeito que ouve pouco", criticou.
Harmonia
O deputado prometeu a relação "mais harmônica possível" com os governos federal e estadual e defendeu a participação dos três níveis da Federação nas "ações territoriais", como as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) nas favelas cariocas. "Independente de divergências políticas passadas, independente de ressentimentos, todos somos homens públicos com muitos anos", declarou o deputado. "Não tem sentido num momento desse nos preocuparmos com divergências pessoais ou qualquer coisa do tipo."
O parlamentar reconheceu que sua crítica central ao governo petista, que acusa de ter contribuído para degradar as relações políticas, provocou seu afastamento do petismo. "Mas podemos voltar a conversar", garantiu, sorridente.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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