Por: Correio da Bahia
Denúncia publicada na revista Veja desta semana mostra que nem as denúncias do mensalão no ano passado intimidaram o Partido dos Trabalhadores a recorrer à prática de utilizar dinheiro público em suas campanhas eleitorais. O texto intitulado "A micareta do picareta" e assinado pelo jornalista Fábio Portela mostra como o prefeito de Sergipe, o petista Marcelo Déda, promoveu uma verdadeira maratona de shows superfaturados às vésperas de deixar a prefeitura para concorrer ao governo do estado.
Com o apelido de "PTcaju", uma alusão a tradional festa pré-carnavalesca "Pré-Caju", a prefeitura de Aracaju lançou a campanha do prefeito Marcelo Déda ao governo do estado. A folia começou no aniversário de Aracaju, em 17 de março, com a apresentação da cantora Ana Carolina. Em menos de 15 dias, revezaram-se em palcos na cidade: Fábio Jr., Dudu Nobre, Agnaldo Timóteo, Luiz Caldas, Daniel e o conjunto Exaltasamba. Em todos eles, houve uma propaganda explítica das obras realizadas por Marcelo Déda.
A micareta eleitoral, como foi classificada a farra pela revista Veja, consumiu R$700 mil da prefeitura. A contabilidade do município registra que esses recursos foram gastos com o pagamento de cachê, porém a matéria revela indícios de que parte do dinheiro pode ter sido desviada. Isso porque os cantores revelam ter recebido muito menos do que foi declarado pela prefeitura nas prestações de contas.
A contabilidade municipal indica, por exemplo, que Daniel recebeu R$271,5 mil por show que celebrou a pavimentação de uma rua. O cantor, no entanto, informou que seu cachê foi de apenas R$103 mil. Os empenhos do município registram que o cantor Luiz Caldas teria recebido R$42,6 mil para cantar em outra rua recém-asfaltada, mas ele afirma ter cobrado R$20 mil. A prefeitura também informa que pagou R$31,3 mil a Agnaldo Timóteo, mas ele refuta: "Só recebi R$15 mil".
Outro mistério na contabilidade da prefeitura foi revelado pela revista Veja. Os dados mostram que o dinheiro passou por uma empresa chamada Divaldo Santos antes de chegar aos artistas. Essa empresa, sediada num endereço fantasma em Simão Dias, cidade natal de Marcelo Déda, é desconhecida no mundo artístico. Seu representante, um funcionário público do estado, garante que contratou os cantores, mas os cantores contam outra história.
Agnaldo Timóteo relatou à reportagem de Veja que foi orientado pelo ex-prefeito a negociar o cachê diretamente com a secretaria municipal de Cultura. Já Ana Carolina fechou contrato com a Quanta Música e Produções Artísticas. O cantor Daniel recebeu seu pagamento da Tear Produções. Diante das evidências, o procurador do Tribunal de Contas de Sergipe, Carlos Waldemar Machado, abriu uma auditoria de emergência para investigar os gastos da prefeitura no "PTcaju". Marcelo Déda negou que tenha desviado dinheiro para um caixa dois, ele justificou dizendo que a diferença entre os valores pagos aos artistas e os registrados na contabilidade oficial pode ser explicada por outros custos dos shows, como palco, som e iluminação. O ex-prefeito, no entanto, ainda não apresentou notas fiscais que amparassem sua justificativa. Nesta semana, a prefeitura será instada formalmente a entregar cópias das notas fiscais.
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