Por: Folha de Pernambuco
As duas micaretas (Carnaval temporão) de Aracaju (SE), realizadas este ano, foram financiadas com recursos públicos. Em janeiro, o Pré-Caju, o nome de uma delas, abriu as comemorações do Carnaval. No fim de março, a prefeitura organizou outra, que ganhou o apelido de PTcaju. A festa, que serviu para lançar a campanha do prefeito petista Marcelo Déda a governador do Sergipe, apontaria sinais de que parte do dinheiro pode ter sido desviada.
A folia começou no aniversário de Aracaju, 17 de março, com uma apresentação da cantora Ana Carolina. Até o fim daquele mês, revezaram-se em palcos montados pela cidade artistas de fama nacional. Fábio Jr., Dudu Nobre, Agnaldo Timóteo, Luiz Caldas, Daniel e o conjunto Exaltasamba embalaram os festejos. A micareta eleitoral teria consumido R$ 700 mil da prefeitura. A contabilidade do município registra que esses recursos foram gastos com o pagamento do cachê dos artistas, de acordo com a Veja desta semana.
As suspeitas se fundam no fato de que os artistas receberam menos do que mostram os registros financeiros da prefeitura. Questionado pelo Tribunal de Contas de Sergipe, Déda nega que tenha desviado dinheiro para um caixa dois. Segundo o petista, a diferença entre os valores pagos aos artistas e os registrados na contabilidade oficial pode ser explicada por outros custos dos shows, como palco, som e iluminação. O ex-prefeito, no entanto, ainda não apresentou notas fiscais que amparassem sua justificativa. Nesta semana, a prefeitura será instada formalmente a entregar cópias das notas fiscais ao procurador Carlos Waldemar Machado.
A contabilidade municipal indica, por exemplo, que Daniel recebeu R$ 271,5 mil por fazer um show no qual Déda celebrou a pavimentação de uma rua. O cantor afirma que seu cachê não chegou à metade desse valor: "Foi só R$ 103 mil". De acordo com os empenhos do município, o cantor Luiz Caldas teria recebido R$ 42,6 mil para cantar axé em outra rua recém-asfaltada, mas ele afirma ter cobrado apenas R$ 20 mil pelo espetáculo.
A prefeitura também informa que pagou R$ 31,3 mil para que Agnaldo Timóteo abrilhantasse a inauguração da canalização de um córrego. "Só recebi R$ 15 mil", refuta Timóteo.
Há outro mistério na contabilidade da prefeitura. Os dados mostram que o dinheiro passou por uma empresa chamada Divaldo Santos antes de chegar aos artistas. Essa empresa, sediada num endereço fantasma em Simão Dias, a cidade natal de Marcelo Déda, é desconhecida no mundo artístico, de acordo com a revista. Seu representante, um funcionário público do Estado, garante que contratou os cantores - que negam a história. A notícia foi divulgada pelo portal Terra.
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