Bruno Boghossian
Folha
Nos últimos dias, um ministro do STF avisou a Valdemar Costa Neto que uma ação para questionar o resultado das eleições não teria nenhuma chance de prosperar. O presidente do PL admitiu que sabia disso, mas explicou que seguiria em frente de qualquer maneira. O chefão do partido argumentou que, se ficasse quieto, haveria uma rebelião da bancada bolsonarista da sigla.
Nem mesmo os aliados fiéis de Jair Bolsonaro acreditam que o Tribunal Superior Eleitoral vai mudar o resultado da disputa. A ideia de pedir à corte a anulação de parte dos votos do segundo turno é só uma tentativa de dar verniz político a suspeitas falsas de fraude e estimular novos protestos nas ruas.
ESTIMULAR PROTESTOS – Os principais operadores políticos de Bolsonaro trabalham com esse cenário.
Numa conversa em Brasília na última segunda-feira (21), parlamentares que frequentam o Palácio da Alvorada reconheceram que a investida do PL não daria em nada, mas seria suficiente para fornecer combustível aos manifestantes.
Alguns dos apoiadores do presidente enxergam nesses movimentos uma espécie de derrota planejada. A provável rejeição do pedido do PL deve ser vendida como uma prova da suposta má vontade do TSE em relação a Bolsonaro e do desinteresse do tribunal em investigações que possam confirmar seu discurso.
PLANO GOLPISTA – A ação é mais um capítulo do plano telegrafado pelos golpistas ao longo dos últimos anos. Numa entrevista ao SBT em maio, Flávio Bolsonaro disse que a desconfiança em relação às urnas eletrônicas gerava “uma revolta” na população e citou um “perigo de instabilidade” caso permanecessem dúvidas após a votação.
O presidente e seus aliados fizeram questão de fabricar artificialmente essa instabilidade. Ao usar os tribunais para agitar as ruas, Valdemar e outros apoiadores de Bolsonaro se juntam à organização criminosa que cerca quartéis, clama por uma ditadura militar, bloqueia o trânsito de rodovias, incendeia caminhões e trabalha para reverter na marra o resultado da eleição.