Pedro do Coutto
Na sexta-feira, Fernando Haddad representando o presidente eleito, Lula da Silva, almoçou com a Federação Brasileira de Bancos. A repercussão, como era esperada, foi grande, uma vez que Haddad teve o seu nome destacado na imprensa nos últimos dias como possível ministro da Fazenda no governo que se inicia em 1º de janeiro de 2023.
Acredito que houve um equívoco duplo, pois nem Fernando Haddad estava à vontade no almoço e nem o mercado interpretou como normal a representação; e, assim, considerou que a presença de Haddad era para encaminhar o diálogo entre o governo eleito e o mercado financeiro.
INTERPRETAÇÃO ERRADA – Não tem cabimento a interpretação, pois Haddad não estava com o seu nome indicado para algum ministério ou sequer o governo deve satisfação ao famoso mercado para nomear alguém para o Ministério da Fazenda ou da Economia. É claro que o diálogo entre o governo e o empresariado, no caso o mercado financeiro, é comum. Mas isso na medida do interesse de ambas as partes.
Não se pode nomear alguém por ter o nome bem aceito no mercado. E nem esse pode esperar que tenha uma oportunidade para se manifestar a favor ou contra um componente do governo federal. Portanto, interpretar a presença de Haddad como uma representação direta do presidente Lula é um exagero.
Tão exagerado que houve uma frustração do que se chama mercado, que também usa uma mão de tigre, para aceitar ideias da nova administração que se instala no país. Haddad em seu discurso falou sobre generalidades, pois não tinha delegação de Lula para falar em seu nome. Disse o que achava dentro do limite. A atmosfera de decepção não é uma consequência lógica do encontro. A sensação que ficou é que havia uma expectativa além da conta.
BOM SENSO – Haddad referiu-se a pontos óbvios, que partem do bom senso, a exemplo da melhor qualidade de gasto público, como destacou a reportagem de Lucas Bombana, na Folha de S. Paulo deste sábado. No Estado de S. Paulo, a matéria sobre o almoço foi de Fernanda Guimarães.
A reportagem do O Globo sobre o encontro foi de autoria de João Sorima Neto, Rennan Setti, Mariana Barbosa e Vitor da Costa destaca que o almoço resultou numa frustração no mercado e alguns banqueiros consideraram o discurso genérico e sem senso de urgência. Mas esqueceram que Haddad não é o presidente da República e nem poderia falar em seu nome.
Foi, portanto, conforme coloquei no título da matéria, um duplo equívoco, tanto de Lula, quanto da Febraban, ao transformarem um almoço cordial numa pré-estreia de anúncio de programa que só compete a um presidente da República revelar.
DEVANEIO – Em uma entrevista pelo telefone a Alexa Salomão, o economista Pérsio Arida, ex-presidente do Banco Central, esclareceu que o convite que está sendo divulgado para que ele assuma a pasta do Planejamento, não passa “de um devaneio de algumas agências de notícias”. Ele disse que, por razões pessoais, e pelo seu momento na vida, não tem intenção alguma de ter cargos em Brasília. Mas, digo, entre ter intenção e aceitar alguma convocação vai uma distância muito grande.
A equipe econômica da transição conta também com os economistas André Lara Resende, Nelson Barbosa e Guilherme Melo. Os pontos em destaque são os que se referem à questão da PEC do Orçamento que será encaminhada a partir de amanhã ou terça-feira pelo próprio presidente Lula da Silva em Brasília. Logo, se verifica que se a PEC do Orçamento será articulada por Lula, Haddad não poderia antecipar pensamentos presidenciais no almoço com a Febraban.